“Nós necessitamos de algo maior que apenas um marido ou uma esposa”, afirma bispo presidente da Comissão para Vida e Família
André Cunha
Da redação
O Sínodo dos Bispos sobre a Família continua, em Roma, refletindo sobre o desígnio de Deus para a família. Dentre os assuntos da reunião está a situação dos inúmeros casais que se divorciam e se casam novamente, passando a viver de forma irregular perante a indissolubilidade do matrimônio.
Dados das Estatísticas do Registro Civil, divulgados em dezembro de 2013, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontaram que o tempo médio transcorrido entre o casamento e o divórcio caiu de 17 anos, em 2007, para 15 anos, em 2012.
Essa queda no tempo de união matrimonial tem sua explicação aparentemente simples, conforme explica o bispo de Camaçari (BA) e presidente da Comissão Episcopal para Vida e Família da CNBB, Dom José Carlos Petrini.
Segundo o bispo, existe um sentimento de felicidade plena dentro de cada pessoa e, por vezes, busca-se essa plenitude no outro, no esposo ou na esposa. No entanto, nenhum homem e nenhuma mulher tem a capacidade de responder a esse desejo que é despertado no coração humano.
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“… ou seja, desperta-se o desejo de um bem infinito, mas o outro cônjuge não tem a capacidade de responder a esse desejo. É necessário alguma outra coisa; nós necessitamos de algo maior que apenas um marido ou uma esposa”, completou.
A proposta do bispo é que cada cônjuge busque em Deus a felicidade que deseja e procura. Segundo ele, a família que encontra seu fundamento em Jesus Cristo terá a possibilidade de viver de uma maneira mais equilibrada e sensata.
“Isso porque poderá encontrar em Cristo – vencedor da morte e que pode nos amar infinitamente mais que nosso pai, nossa mãe ou qualquer outra pessoa que possa nos amar humanamente – a plenitude desejada”, concluiu.
O que fazer, então, com os casais que não foram felizes na primeira união?
A realidade da segunda união é presente e crescente em todo o mundo. O Sínodo sobre as Famílias, que acontece em Roma até este domingo, 19, têm discutido o assunto e buscado caminhos para inserir ainda mais esses casais na vida eclesial.
Dom Petrini disse que esses casais devem ser acolhidos na Igreja como filhos de Deus, “não excomungados por causa dessa segunda união, de modo que participem da vida eclesial, educando os filhos na fé católica”.
Com isso, não são suprimidas – segundo o bispo – as normas da Igreja que impedem que esses casais tenham acesso à Eucaristia. “Podem participar da vida da Igreja, frequentar a Santa Missa, ouvir a Palavra de Deus, estudar o Catecismo da Igreja, participar de um curso bíblico, de atividades caritativas etc, mas se abstendo dos sacramentos da comunhão e da reconciliação. Isso, porque, efetivamente, a situação em que vivem é irregular”
Dom Petrini explica que o vínculo do primeiro matrimônio é indissolúvel, porque o próprio Jesus assim ensinou no Evangelho. Logo, a Palavra de Cristo foi acolhida pela Igreja como uma de suas normas mais importantes.
Ainda sobre a participação dos casais de segunda união, na Missa, Dom Petrini observa que “o desconforto que, inevitavelmente, poderão sentir no momento da Eucaristia, da qual eles não podem se aproximar, terá como significado recordar que, de fato, não vivem numa situação plenamente regular. Será como um desconforto ‘saudável'”, comentou.
Pensando nessa parcela do povo de Deus, composta por casais separados e que estão em uma segunda união, vários grupos pastorais se reúnem nas paróquias e dioceses para auxiliá-los.
Com algumas sistemáticas próprias, essas organizações, segundo Dom Petrini, têm a missão de acompanhá-los e ajudá-los a entender como são amados por Deus e podem ter uma vida de fé na Igreja Católica, mesmo que se abstenham de receber a Eucaristia.
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