CNBB

Homilia de Dom Raymundo Damasceno na Missa da Assembleia

Queridos irmãos do episcopado, caros irmãos do ministério presbiteral, prezados diáconos, consagrados e leigos que participam dessa celebração aqui neste santuário de Dom Bosco. Celebra-se, neste ano, o cinquentenário de Brasília (DF) e da arquidiocese, nela também instalada no mesmo dia que a nova capital o foi. A propósito da comemoração do jubileu de outro da arquidiocese e de Brasília, nossa assembleia reunida aqui nesta capital, congratula-se com o arcebispo metropolitano nesta diocese, Dom João Braz de Aviz, e também no scongratulamos com o querido povo do Distrito Federal.No contexto das comemorações dos 50 anos de Brasília e da arquidiocese é bom recordar aos participantes desta assembleia, os meus irmãos de episcopado, que foi justamente aqui no subsolo deste santuário dedicado a Dom Bosco que se realizou entre os dias 16 e 27 de maio de 1970 a 11ª Assembleia da CNBB. Dentre os temas da pauta daquela assembleia destaco o tema dos leigos e também o tema dos meios de comunicação social. O evento antecedeu o 8º Congresso Eucarístico Nacional, celebrado no 10º aniversário de Brasília,  e como presbítero da Arquidiocese de Brasília tive a graça de participar daquele grandioso evento Eucarístico. O Cardeal Dom Vicente Scherer, então Arcebispo de Porto Alegre (RS), era na época o presidente da CNBB e Dom Aloísio Lorscheider, secretário geral, 131 bispos participaram da assembleia em 1970 aqui neste santuário. Nenhum deles se encontra atualmente à frente de uma diocese, ou são bispos eméritos ou já partiram para a casa do Pai; mas temos a alegria de ter entre nós um desses nossos irmãos no episcopado, que participou daquela assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Dom José Maria Pires. Ele se encontra aqui entre nós. Há 40 anos evidentemente eram outros os tempos, o clima político de então não era o mesmo de hoje, a Capital Federal tinha apenas 10 anos de existência e não dispunha das melhores condições para acolher os senhores bispos participantes da assembleia. O então presidente da nossa conferência, o Cardeal Dom Vicente Scherer, viajou de ônibus da capital gaúcha até Brasília, este fato tornou-se notícia de destaque nos meios de comunicação social.

Caríssimos irmãos, estamos no tempo pascal, tempo em que a Igreja celebra solene e jubilosamente o grande acontecimento da Ressurreição do Senhor, razão de nossa alegria, de nossa fé, de nossa esperança. Esta é a grande novidade que, corajosamente, devemos proclamar e anunciar no mundo de hoje. Cristo venceu o poder da morte e com Sua Ressurreição ilumina o presente de nossas vidas, não só nos abrindo um futuro novo, uma vida nova, mas também fazendo-nos participantes da Sua própria vida. A cada ano, neste tempo pascal, a Igreja nos oferece, na Liturgia da Palavra, a leitura contínua dos Atos dos Apóstolos. O livro de Lucas narra a história das primeiras comunidades cristãs que, impulsionadas pela força do Espírito Santo, dão testemunho da sua fé no Cristo ressuscitado e vão crescendo e amadurecendo em seu estilo de vida em meio a tantas dificuldades e perseguições.

O texto da primeira leitura de hoje fala-nos do, assim chamado, Concílio de Jerusalém, que considerou a questão de se impor ou não a observância da Lei Mosaica [de Moisés] aos pagãos convertidos ao Cristianismo. A contenda surgiu quando alguns judeus cristãos, apegados às leis e tradições judias, foram da Judeia à Antioquia com a intenção de impor aos pagãos convertidos ao Cristianismo a prática de certos costumes da Lei Mosaica. Paulo e Barnabé reagiram fortemente contra a imposição e foram a Jerusalém tratar do assunto com os apóstolos e com os anciãos daquela Igreja. Apoiados primeiramente em sua experiência com o pagão Cornélio, que fora acolhido pela comunidade cristã sem a exigência da observância da referida lei. Pedro, chefe dos apóstolos, apresentou-a à própria experiência como fato fundacional da nova linha da Igreja, classificando-a como imperiosa desde os primeiros dias. A salvação, segundo afirmação de Pedro, vem da graça de Cristo e não da observância da Lei de Moisés. Portanto, opor-se à incorporação plena dos pagãos à comunidade dos cristãos é opor-se a Deus. Após terem ouvido Paulo e Barnabé anunciarem todos os sinais de prodígio que Deus havia realizado por meio deles entre os pagãos, o bispo de Jerusalém confirmou as palavras de Pedro ao asseverar que não se deveriam impor obstáculos aos pagãos convertidos. Dessa forma, a assembleia ratificou o acordo e decidiu formalizá-lo em carta aos cristãos de Antioquia. Os cristãos daquela comunidade, após terem tomado conhecimento da decisão, sentiram-se aliviados, reanimados e confirmados na sua ação apostólica.

O texto dos Atos dos Apóstolos é muito apropriado para nós, bispos reunidos nesta assembleia eclesial, visto que se  refere ao discernimento comunitário a cerca dos grandes problemas que a Igreja encontrou desde seus primórdios e ao longo de seu caminho. Esclarecidos estes desafios e estas dificuldades – com a luz do Espírito Santo – pelos apóstolos e pelos anciãos de então e por seus sucessores de todos os tempos. O Documento de Aparecida, no número 367, recorda-nos que a pastoral da  Igreja não pode prescindir  do contexto histórico em que vivem os seus membros, sua vida acontece em contextos sócio-culturais bem concretos. Essas transformações sociais e culturais representam naturalmente novos desafios para a Igreja em sua missão de construir o  Reino de Deus, daí nasce a fidelidade ao Espírito Santo e a necessidade de uma renovação eclesial, que implica reformas espirituais, pastorais e também institucionais.

O tema central do Evangelho de hoje é o amor de Jesus para com Seus discípulos e Seu apelo para permanecermos no Seu amor. “Como o meu Pai me amou, assim também vos amei”. O amor de Cristo pelo Pai levava-O a alimentar-se de Sua vontade. O nosso amor por Jesus é demostrado na prática pela obediência a Suas palavras. “Se guardardes meus mandamentos, permanecereis no meu amor”. O texto do Evangelho faz parte do discurso por meio do qual Jesus se despede de Seus discípulos, situa-se no contexto de Sua Paixão e Morte. Cristo está prestes a dar a vida por Seus discípulos e sente nessa entrega até o fim o amor do Pai que O enche de alegria, uma alegria que ninguém pode arrebatar-lhe, nem mesmo a Morte na cruz.

A mesma alegria experimentada por Nosso Senhor Jesus Cristo pode tornar-se também alegria dos Seus discípulos à medida que permanecermos no amor d’Ele. Essa certeza do amor incondicional de Deus Pai para conosco, manifestado pelo amor de Jesus, que deu a vida por nós, é a razão mais profunda de nossa alegria, a qual ninguém pode nos tirar, nem o sofrimento nem a morte. Que o Espírito Santo nos conduza, com Sua luz, em nossos trabalhos durante esta assembleia em Brasília e que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, nos proteja!

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo