Professores repercutem a intenção de oração de Francisco para janeiro; além da fraternidade, o acolhimento é outra ação defendida pelos profissionais da educação
Julia Beck
Da redação
A Rede Mundial de Oração do Papa divulgou, no último dia 11, a intenção do Papa Francisco para este mês de janeiro: a fraternidade no âmbito educacional. O professor universitário e padre da Diocese de Lorena Padre Pedro Cunha destaca que o pedido do Pontífice reflete um olhar apurado sobre as importantes realidades da sociedade, entre elas a da educação.
“É muito importante que o Papa nos chame à oração para essa realidade e, mais importante ainda, que todo católico responda positivamente ao pedido de Francisco e reze nessa intenção. A oração tem força para curar, restaurar e fazer milagres nesse sentido”, pontua o sacerdote.
O professor universitário Jefferson Moura comenta que a educação deve partir do princípio do acolhimento. “É importante que o professor seja fraterno, no sentido de propor a união, a harmonia e a irmandade”, frisa.
A professora de educação infantil Tainá Magalhães afirma que viver a fraternidade no ambiente escolar é exercitar o amor ao próximo. “Muitas vezes, enfrentamos uma guerra diária nas salas de aula contra a desesperança, o desrespeito, o preconceito…”, pontua a professora, que reafirma o valor da fraternidade diante de tantos desafios.
Fraternidade em vez da competição
No vídeo de divulgação de sua intenção de oração para este mês, o Santo Padre pediu que os educadores sejam testemunhas credíveis, ensinando a fraternidade em vez da competição.
Padre Pedro afirma que, entre educadores, a competição por cargos, funções e status deveria desaparecer. Segundo o sacerdote, os professores têm uma missão nobre sobre a terra: educar, ou seja, ajudar as pessoas a se descobrirem em sua identidade, suas potencialidades, seus dons e talentos.
“Temos a missão de oferecer o conhecimento e a experiência de vida que adquirimos ao longo da vida, e isso de maneira credível e sem relativismos”, ressalta.
O mundo corporativo prega um ambiente de competição onde o importante é vencer sem importar por quais meios, alerta Moura. “O outro passa a ser um rival que deve ser superado a qualquer custo”, complementa.
Para o professor, “transplantar esse ambiente para o espaço de ensino”, no sentido de “preparar” o aluno para o mercado, serve apenas para reforçar e manter esse ambiente tóxico.
“A escola deve formar homens e mulheres capazes de mudar e melhorar o mundo. Preparar bons cristãos e honestos cidadãos capazes de compreender e viver a fraternidade no seu dia a dia”, defende.
Contra a competição, professora Tainá defende a propagação de ideais voltados para a unidade e o acolhimento. Segundo ela, estes ideais são capazes de extinguir não só a competição, como também a divisão que nasce por meio dela.
Cabeça, coração e mãos em harmonia
O Santo Padre sublinha que “o educador é uma testemunha que não oferece os seus conhecimentos mentais, mas as suas convicções, o seu compromisso com a vida. É alguém que sabe manusear bem três linguagens: a da cabeça, a do coração e a das mãos em harmonia”.
O Papa pensa e age de forma integrada, sem divisões, comenta padre Pedro. Para ele, todo educador precisa vivenciar, na sua prática educativa, o conhecimento, o sentimento e a ação. “Sem isso nosso processo educativo será sempre capenga”, disse.
“Se amarmos os nossos alunos, amarmos a nossa profissão, o nosso ambiente de trabalho poderemos manusear muito bem estas três linguagens pedidas pelo Papa”, opina a professora Tainá.
Para o professor Moura, o ambiente escolar deve integrar inúmeros conhecimentos, no sentido de oferecer saberes, exemplos e ferramentas capazes de tornar a vida mais plena.
“À escola e aos professores não cabe apenas instruir empregados para o mercado. É preciso ter como objetivo formar bons profissionais capazes de exercer sua atividade técnica, sem deixar de lado o amor ao próximo e as ações concretas para transformar o mundo em um lugar melhor, mais harmônico e fraterno. Aí vejo cabeça, coração e mãos em harmonia”.
Ajudar os mais vulneráveis
Francisco reforça também a necessidade de os educadores ajudarem principalmente os jovens mais vulneráveis. A partir disso, o professor Moura ressalta que o educador deve ser capaz de reconhecer para além do plano de ensino, das avaliações, das explicações, os mais vulneráveis, seja no sentido social, econômico, cultural ou mesmo por questões de saúde.
“É preciso estar próximo deles, incentivando, ouvindo, apoiando, evitando que se percam porque não veem o caminho, que se abandonem por se sentirem abandonados ou que se fechem por achar que ninguém se importa. A educação deve e pode contribuir para que todos se sintam tocados por ela e capazes de seguir em frente”, reforça.
De acordo com padre Pedro, o que mais há na universidade e nas escolas de ensino médio e fundamental são estudantes vulneráveis. “Estamos sempre em contato com os vulneráveis em sua condição social, familiar, relacional, emocional, psicológica e religiosa”, conta.
“Nunca tivemos tantas pessoas tão vulneráveis como temos hoje. O Papa tem toda razão em ter essa preocupação, pois ela é perceptível diante de nossos olhos enquanto educadores”, conclui.
Professora Tainá pontua que sua realidade enquanto professora de educação infantil a fez perceber o quão importante é olhar para os mais vulneráveis e levar esperança por meio da fraternidade.
“Quando um aluno convive com professores e com uma escola que pensa nele, que cuida de seu bem-estar para além da formação educacional, ali ele encontra esperança”. “A educação salva. (…) Ela é o caminho para mudarmos pessoas, realidades e o mundo”