Data homenageia aqueles que escrevem e criam músicas; compositores católicos comentam processo de composição e ressaltam valor das canções
Julia Beck
Da redação
Neste sábado, 15, é celebrado o Dia Mundial do Compositor. A data homenageia aqueles que escrevem e criam músicas. Entre os católicos, muitas são as canções que aproximam os fiéis de Deus e os ajudam nas orações. Padre Zezinho, Ziza Fernandes e Pitter de Laura são alguns compositores destas músicas.
“És Água Viva”, “Oração Pela Família”, “Um Coração Para Amar”, “Te Amarei, Senhor”, “Maria de Nazaré”, “Como São Belos”, “Alô, Meu Deus”. Estas são algumas das muitas composições do Padre José Fernandes, popularmente conhecido como Padre Zezinho.
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O sacerdote dehoniano, que já teve muitas de suas canções traduzidas para diversos idiomas – italiano, espanhol, inglês, alemão, francês dentre outros – conta que, antes de compor suas canções, busca meditar e escrever algum artigo. “Leio muito! E às vezes a reflexão vira uma canção!”.
Mergulhando dentro de si
Em seus 30 anos de carreira, Ziza Fernandes é conhecida pelos sucessos: “O Que Agrada a Deus”, “Doce Noite”, “Belo e Verdadeiro”, “Dentro do Teu Olhar”. A mais recente composição da cantora é: “Casa da Saudade”, sobre a ausência de pessoas que se foram.
Ziza afirma que, na hora de compor, sempre se esforça para fazer algo melhor, sincero, preciso e artístico. “A composição é quase um processo terapêutico. Eu mergulho para dentro de mim. Através dela consigo me expressar. Compor é uma necessidade incômoda, mas providente”, relata.
De acordo com a compositora, a escrita das músicas nasce do desejo de escrever sobre algo de forma mais ampla e mais abrangente. No entanto, a cantora católica ressalta que escrever um texto é diferente de escrever uma letra de música. “Acredito que a música atinge o interior das pessoas de forma abrangente”.
“É muito desafiador viver esse processo. O que mais me inspira são as realidades da vida. Compor também é nomear dramas humanos internos”, explica. “Quase sempre minhas composições dizem respeito ao ser humano, à busca do ser humano por Deus e pela verdade. Acredito que compor, além de ser um serviço prestado à humanidade, também é uma ferramenta de autoconhecimento”, destaca Ziza.
Olhar a vida com carinho
O missionário da Comunidade Canção Nova, Pitter de Laura, comenta que compor é transformar em arte aquilo que acontece na vida cotidiana. “É uma forma de prolongar um fato importante que presenciei ou vivi”, detalha. Para o músico, olhar a vida com carinho e viver bem é o primeiro passo para uma boa composição.
“O que me inspira é tentar fazer com que as pessoas experimentem o que vivi, que aprendam o que tive a oportunidade de aprender. Consigo isso através da composição”.
“Barco a Vela”, “Adeus sempre vem”, “Uma revolução”, “Após a Tempestade”, são algumas composições do missionário. Segundo o cantor, ao ver as pessoas cantando suas músicas, sente como se elas cantassem suas orações. “No início me sentia constrangido, hoje me sinto um servo”, define.
A canção em momentos difíceis
Para Pitter, a canção dá suporte muitas vezes para a dificuldade de se expressar em momentos difíceis. “É ruim quando uma canção não nos leva para Deus, mas nos arrasta para o mais fundo de nossos problemas”.
“A música precisa ser um fio condutor do nosso coração para o coração de Deus”, observa o compositor.
Proximidade com os outros e com Deus
Ziza ressalta que a arte é um instrumento de unidade, por isso deve aproximar também homens e mulheres. “A música deve ser uma ferramenta de comunicação com Deus e também com o próximo”.
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As composições são pontes para sair das dificuldades, para se conectar com o divino, reforça a cantora católica. “Com ela alcançamos lugares muito mais profundos da nossa alma”, destaca.
Nos documentos da Igreja, sobretudo o “Inter mirifica” (um dos 16 documentos do Concílio Vaticano II) sobre os milhares de dons que temos à nossa disposição, o sacerdote dehoniano comenta que é ensinado que tudo que temos à mão existe para aproximar pessoas.
Ao compor, padre Zezinho relata que se sente responsável pelas suas criações. “Levo a sério tudo o que levo ao povo. Acho que é minha vocação!”.
Composição: um dom de Deus
“Deus nos deu a inteligência e a imaginação para criarmos. Nosso trabalho e nossas inspirações nos levam a desenvolver projetos. Assim nascem pontes, estradas, canções, pregações e tecnologias. Somos chamados a co-criar o mundo!”, reflete padre Zezinho.
Diante disso, Ziza afirma que a composição é um dom de Deus. “Um dom se recebe de graça e é desenvolvido com esforço. Deste modo, o dom se torna então uma habilidade. O dom da composição não é adquirida por conta própria, mas recebida porque Deus é generoso”, comenta a cantora.
Deus está na arte, Deus está na composição, ressalta Pitter. Segundo o cantor, o homem sente a necessidade de expressar o que vive e a composição é essa arte. O missionário lembra também que a música permeia a história da Igreja. “A afinidade entre música, Igreja e Deus sempre existiu”.