Homenagem

Dia das Mães: E quando os papéis se invertem?

Filhas contam experiência de cuidar de suas mães idosas; psicóloga comenta desafios de quem exerce este cuidado

Denise Claro
Da redação

Neste domingo, 8, é comemorado em todo o Brasil o Dia das Mães. Uma data escolhida para homenagear aquela que gera vida, educa, ama e cuida dos filhos. As homenagens variam entre presentes, cartões, visitas e almoços. Mas e quando o dia-a-dia deste filho já não é mais o de ser cuidado pela mãe? E quando é esta mãe, que, já em idade avançada, precisa de amparo?

Lira Cecília cuida há 11 anos de sua mãe Aracy./ Foto: Arquivo Pessoal

Lira Cecília cuida há 11 anos de sua mãe Aracy./ Foto: Arquivo Pessoal

Lira Cecília é carioca, solteira, e morava com os pais quando a mãe deu os primeiros sinais de Alzheimer, há 11 anos. “Não foi fácil ‘virar a chave’. Aos poucos, fui fazendo a transição do papel de filha para o papel de mãe. A Palavra de Deus me deu forças e me ajudou a entender meu papel: o quarto mandamento – Honrar pai e mãe- ecoou dentro de mim e me tornou capaz de assumir esta missão.”

Ao longo dos anos, o cuidado de Lira com sua mãe Aracy passou por várias fases. Hoje, ela está acamada e é totalmente dependente dos cuidados da filha.

“Ontem mesmo minha mãe teve febre de madrugada. Eram duas horas da manhã e eu estava cansada, mas pensei em quando eu era criança. Ela cuidou de mim com todo amor, sem reclamar. Agora é a minha vez de retribuir.”

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Silvana Vincenzi com a mãe Angelina. / Foto: Arquivo Pessoal.

Silvana Vincenzi com a mãe Angelina. / Foto: Arquivo Pessoal.

A paulistana Silvana Vincenzi é casada, tem uma filha, e trouxe seus pais para morar com ela, há um ano. Silvana conta que, apesar de ter sido criada pela avó, sempre se sentiu na obrigação de cuidar dos pais, por ser filha única e também por ter tido uma formação católica.

“Minha mãe precisava trabalhar na época e não pôde cuidar de mim. Mas ao chegar a minha hora de cuidar, senti que era minha responsabilidade. Meu esposo foi o primeiro a me apoiar. No começo eu via tudo como uma renúncia, porque de fato precisamos abrir mão de muita coisa, de viagens, passeios, da vida social e até mesmo das atividades pastorais. Mas hoje encaro como uma oferta.”

Amor e Exigência

Para a psicóloga Elaine Ribeiro, a tarefa do filho que cuida dos pais idosos é exigente:

“Cuidar tem ligação direta com cura. É um momento difícil para muitas famílias, não é uma tarefa emocional fácil. Requer abrir mão de certezas, de adaptar um ambiente, abrir exceções em casa e, muitas vezes, passar de cuidado para cuidador.”

Elaine afirma que o filho também pode precisar de cuidados: “O desgaste emocional de quem atende a um idoso é efetivo, muitas vezes este se sente sobrecarregado e até mesmo culpado em relação à situação que o idoso vive, se sentindo incapaz. É necessário buscar algum lazer ou atividade que goste, além do apoio de grupos e de psicólogos. A espiritualidade também é um elemento muito importante, que concede suporte às pessoas nesta etapa e não deve ser esquecido.”

Silvana lembra que muitas vezes se sentiu fragilizada: “Há dias em que estou mais cansada, mais desanimada, com vontade de viver mais a minha vida, de forma mais individualista, mas então eu me lembro novamente que é uma oportunidade que Deus está me dando, e não uma dificuldade. Não abro mão de cuidar da minha mãe.”

Ao ser perguntada se a experiência de já ter sido mãe ajudou nesse desafio de cuidar dos pais, nesta fase da vida, ela diz:

“Acho que sim, mas o que vivo hoje com meus pais me ajuda também a ter mais paciência e ser mais compreensiva até mesmo com minha filha. Sou muito mais madura, muito melhor hoje do que eu era quando fui mãe, há trinta e cinco anos atrás. Acho que estou aprendendo a ser muito mais mãe, agora. Naquela época, eu agia muito instintivamente. Hoje é uma oferta, muito mais consciente.”

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