Comunicadores não façam do mal o protagonista, mas tenham uma atitude propositiva, entrando na lógica da “boa notícia”
Padre Antonio Aparecido Alves*
Anunciar uma boa notícia
A Igreja celebrou domingo passado, na Solenidade da Ascensão do Senhor, o 51º Dia Mundial das Comunicações Sociais, com a Mensagem do Santo Padre pedindo para que seja comunicada a esperança e a confiança em nosso tempo.
Em sua mensagem, o Papa Francisco parte da constatação de que, em sua grande maioria, os responsáveis pelos meios de comunicação se concentram sobre notícias más, como guerras, terrorismo, escândalo e outras tragédias humanas e naturais, porque existe uma lógica que afirma que notícia boa não desperta atenção. Daí seu apelo para que os comunicadores não façam do mal o protagonista, mas tenham uma atitude propositiva, entrando na lógica da “boa notícia”.
O Evangelho é “boa notícia”
A Igreja é enviada ao mundo para proclamar a boa notícia do Evangelho até o fim dos tempos e aos confins do mundo (Mt 28,19-20) e reconhece a necessidade de utilizar os modernos meios de comunicação social, como Rádio, TV, internet, impressos e as mídias sociais para este fim.
Desde o Decreto Inter Mirifica (1966) sobre os meios de comunicação social no Concílio Ecumênico Vaticano II, a Igreja se vê no direito e dever de se servir dos meios de comunicação para divulgar sua mensagem e afirma que compete especialmente aos leigos vivificar com espírito humano e cristão estes meios, a serviço da esperança e desígnios divinos (IM 3).
A ética nos meios de comunicação
Os meios de comunicação não são forças cegas que escapam do controle humano. Por isso, existe uma ética que deve reger estes meios, à qual estão sujeitos “os que controlam os instrumentos de comunicação social e determinam as suas estruturas, linhas de conduta e conteúdo”, como afirma o Pontifício Conselho para os Meios de Comunicação Sociais no documento Ética nas Comunicações Sociais (n. 3).
O mesmo documento salienta que esses meios não podem estar subordinados à lógica do mercado, aos interesses espúrios da Política ou à divulgação e padronização de pseudos-valores, pois tudo isto atenta contra a dignidade da pessoa humana (n. 13-19).
O mesmo chamado de atenção que é feito para as mídias leigas vale para as mídias católicas: escrita, falada, virtual e televisionada. Por exemplo, é necessária a atenção dos comunicadores católicos na seleção dos patrocinadores e o cuidado em apresentarem produtos farmacêuticos e outros como sendo a solução para todos os males, sem terem a certeza de que realmente esses podem trazer benefícios a quem os adquirir e utilizar. Caso contrário, estariam se rendendo à lógica do mercado.
Mostrar que o bem não é exceção e o mal não é a regra
Estamos tão acostumados a ouvir notícias de catástrofes, assassinatos, roubos, guerras, corrupção e violência que começamos a crer que no mundo somente acontecem coisas ruins. Porém, isso não é verdade.
Nós cremos que o bem está acontecendo e que ele é maior que o mal, que o Reino está crescendo entre nós, embora misturado com o joio (Mt 13, 24-30). Infelizmente, isso não é noticiado. O bem que fizemos ontem em nossa casa, na comunidade, no trabalho ou com a vizinhança não apareceu hoje nas manchetes dos jornais, mas estaríamos lá se tivéssemos feito algo mal.
Por isso, as mídias católicas deveriam se concentrar em divulgar a boa notícia. Como disse o Papa Francisco, vamos cuidar bem do trigo e não perder a paz por causa do joio (Evangelii Gaudium, n. 24).
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*Padre Antonio Aparecido Alves é Mestre em Ciências Sociais com especialização em Doutrina Social da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e Doutor em Teologia pela PUC-Rio. Professor na Faculdade Católica de São José dos Campos e Pároco na Paróquia São Benedito do Alto da Ponte em São José dos Campos (SP). Para conhecer mais sobre Doutrina Social visite o Blog: www.caminhosevidas.com.br