Iniciada por um psicólogo que foi às ruas para falar da importância de cuidar da própria mente, campanha se tornou popular em todo o Brasil e até virou lei
Gabriel Fontana
Da Redação
Há 10 anos, um psicólogo no interior de Minas Gerais convidou outros profissionais para falar sobre saúde mental. Nas ruas, conversando com as pessoas sobre a importância de cuidar da própria mente, surgiu aquele que se tornaria o maior movimento do mundo sobre qualidade de vida e bem-estar emocional — a Campanha Janeiro Branco.
A iniciativa de Leonardo Abrahão, de Uberlândia (MG), foi uma resposta ao aumento de casos de violência e autoviolência, ao consumismo alienado e ao desconhecimento das pessoas a respeito das suas condições psicológicas. Neste período, o movimento iniciado pelo psicólogo cresceu cada vez mais, originando inclusive um instituto sem fins lucrativos responsável por organizar e promover a campanha.
Por uma cultura de cuidado
“O mundo pede psicoeducação e o Janeiro Branco nasceu para isso”, afirma Leonardo. Presidente do Instituto Janeiro Branco, criado em 2018, ele comenta que a missão de construir uma cultura da saúde mental nas sociedades ainda está no início, com um longo caminho por percorrer. Contudo, reconhece que houve diversos avanços desde o surgimento da iniciativa em 2014.
O psicólogo cita que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil tem a população mais ansiosa do mundo e a 5ª mais deprimida do planeta. Além disso, as taxas de suicídio do País dobraram nos últimos 20 anos. Esses índices só reforçam a missão da campanha ao promover a conscientização sobre o cuidado com a saúde mental.
Entre as atitudes que podem ajudar, Leonardo cita a prática de exercícios físicos e uma alimentação consciente e saudável. Ele também pontua que amizades confiáveis, contato constante com a natureza, práticas espirituais e um propósito saudável para a própria vida também contribuem com esse processo de autocuidado.
Apoio do poder público
Outro fator importante é o acesso a direitos sociais e à qualidade de vida. Para isso, é importante a atuação conjunta ao poder público, a fim de oferecer melhores condições para a população. Neste contexto, o ano de 2023 reservou uma grande conquista para a Campanha Janeiro Branco em âmbito nacional.
Em abril do ano passado, foi sancionada a Lei Federal n. 14.556/23, que institui a campanha em todo o território nacional. Leonardo reconhece esta medida do governo como uma conquista muito importante, pois atesta e valida a história da campanha. “Significa a força do estado brasileiro em prol da divulgação da campanha, ampliando a sua legitimidade e o alcance da sua mensagem”, observa.
Resgate do sentido da vida
Neste ano, a Campanha Janeiro Branco tem como tema “Saúde mental enquanto há tempo! O que fazer agora?”. O presidente do instituto explica que a motivação é a necessidade de alertar a sociedade para a urgência e para a esperança ao cuidar da saúde mental das pessoas e dos coletivos sociais. Desta forma, a edição de 2024 busca chamar a atenção para a causa, mostrando a sua importância e o caráter humanizador de tudo o que promove o bem-estar emocional dos indivíduos.
Um exemplo disso é a psicóloga Fabiana Barcelos, que ao apoiar a campanha, foi também ajudada. Ela conta que, em junho de 2016, sua irmã morreu em um acidente de carro, impactando-a imensamente. “Eu passei seis meses em um luto muito profundo, muito difícil, sem ver nenhum sentido na vida”, partilha.
No ano seguinte, Fabiana ajudou a promover ações da Campanha Janeiro Branco, que já conhecia, mas nunca havia se envolvido. Enquanto buscava ajudar outras pessoas, ela mesma acabou sendo curada, retomando o sentido para sua vida. “Esse movimento de voltar para a vida por meio do Janeiro Branco me resgatou, e fazendo o que eu mais amo, que é servir à vida pelo meu trabalho com a psicologia”, expressa.
Falar de saúde mental
Diante de sua experiência, a psicóloga reitera a importância dos cuidados com a própria mente. “Sempre foi muito importante levar a campanha da saúde mental em vários lugares, e o Janeiro Branco traz esse acesso, as pessoas ficam mais abertas a falar sobre o tema”, reconhece Fabiana.
De forma especial, ela cita a necessidade de romper com o paradigma que só precisa de ajuda quem está “louco” ou “quase surtando”. “A gente vai desmistificando isso e trazendo a saúde mental como uma prevenção, um cuidado. Da mesma forma que eu cuido da minha saúde física, eu posso cuidar da minha saúde mental, da minha saúde emocional”, conclui.