“Não é só uma operação de resgate de corpos e de cadáveres é, sobretudo, uma operação de resgate de dignidade”, afirmou o porta-voz dos bombeiros
Da redação, com Agência Brasil
O trabalho dos bombeiros desde o rompimento da barragem 1, da Vale, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro deste ano, tem sido exaustivo e com momentos de muita tristeza. Para o porta-voz da corporação, tenente Pedro Aihara, são seis meses de uma operação muito complexa, que exige em termos logísticos e humanos, mas também é um período em que a população tem visto claramente o compromisso e o envolvimento da corporação com a dor das famílias.
Segundo o tenente, nesse tempo, foram localizadas 270 vítimas e, dessas 248 foram identificadas, o que dá aproximadamente quase 92%, patamar que era considerado impossível, para muitos especialistas internacionais. Ainda há 22 pessoas desaparecidas. Na visão dele, só foi possível alcançar esse índice de localização graças a um trabalho de muita dedicação. Durante os seis meses houve investimento no aprimoramento da inteligência operacional empregada, revolvendo menos de 10% do rejeito a partir das análises, do cruzamento de dados, da verificação de onde estavam as pessoas, como foi o fluxo e a velocidade da lama e onde ficou retida.
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“Ainda estamos com 22 pessoas desaparecidas. Na atual fase da operação trabalhamos no sentido de compreender como a gente pode definir as áreas prioritárias de busca, onde há maior possibilidade de encontrar as vítimas e a partir das que já foram levantadas, a gente fazer um trabalho direcionado nesse foco”, disse à Agência Brasil.
Aihara afirmou ser muito importante destacar que a operação continua e emprega diariamente mais de 150 agentes. Desde o dia 25 de janeiro não houve interrupções no trabalho dos bombeiros tanto em melhores como em piores condições. O compromisso, conforme o porta-voz, é achar todas vítimas ou, então, encerrar a operação quando não houver mais viabilidade técnica para as buscas.
“A gente atua hoje com mais de 100 máquinas pesadas como retroescavadeiras e com mais de 150 bombeiros militares por dia. Agora a gente trabalha em uma área de 4 milhões de m², volume de rejeitos de 10,5 milhões m³ e hoje existem mais de 25 frentes simultâneas de trabalho para conseguir inspecionar todos os locais em um mesmo momento”.
O tenente revelou que nesta fase da operação já não há tanta necessidade de utilizar helicópteros. Para fazer a varredura aérea, os bombeiros estão se valendo de drones e ainda o equipamento que consegue identificar uma concentração de massa metálica, que pode ser de um carro ou de uma locomotiva que foram soterrados. Além disso, contam com a atuação de cães de buscas. “Tudo isso a gente alimenta uma base de dados de informação relevante e, com isso, consegue estimar com precisão determinadas áreas onde podem estar as vítimas”, contou.
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O porta-voz reconheceu que as buscas são um tipo de ocorrência que exige muito dos bombeiros também psicologicamente, mas ponderou que os agentes entendem a importância das suas atuações para trazer tranquilidade e paz para as famílias que estão com parentes desaparecidos. “Por mais difícil que seja o momento no ponto de vista do nosso psicológico, a gente sabe que esse é um momento de doação ao outro, em poder prestar um bom serviço diante da expectativa de tanta gente”, afirmou.
Na visão do tenente, o que mais o impressionou nesse tempo foi a força das pessoas. “Mesmo diante desse cenário de tragédia elas têm conseguido encontrar forças para seguirem suas vidas para enxergarem esperança onde existe tanta dor e sofrimento. O que a gente puder contribuir no sentido de fornecer um alento dessas pessoas, isso também é um compromisso que a gente assumiu. Todas as semanas a gente faz reunião com as famílias para mostrar tudo que está sendo feito”, apontou.
“Não é só uma operação de resgate de corpos e de cadáveres é, sobretudo, uma operação de resgate de dignidade, de dar a essas pessoas um acolhimento e mostrar que existe uma instituição que se importa com cada uma delas”, observou, acrescentando, que a diferença entre encontrar um sobrevivente e uma vítima morta está na possibilidade de reduzir o sofrimento da família que tem o seu parente desaparecido e sem identificação.
Para Aihara, atualmente a cidade de Brumadinho tem o sentimento de tristeza e de consternação, aliado à necessidade de reconstrução. Conforme o tenente, este é um momento também de reflexão para novas tragédias como esta não ocorram. “Que se possa utilizar esta situação tão triste, esse legado tão pesado para identificar como a gente pode estabelecer cenários mais seguros e uma cultura de prevenção de acidentes para o país e fazer tudo para que isso não aconteça mais”, defendeu.
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O mesmo sentimento, tem o operador ambiental da Vale, Sebastião Gomes, um sobrevivente do rompimento da barragem de Brumadinho. “Eu quero e muita gente quer, que isso não seja esquecido”.