Dia do atleta paralímpico

Atleta cego conta que esporte ajudou a superar trauma

Gabriel Quirino perdeu a visão aos 16 anos vítima de um câncer; ele afirma que o esporte ajudou a superar o trauma

Luciane Marins
Da Redação

Os Jogos Paralímpicos Rio 2016 foram para o Brasil e para o mundo uma mostra do que o esporte é capaz de realizar na vida de uma pessoa. Mais de quatro mil atletas de 160 países disputaram os jogos, e nos 11 dias de competições, inúmeras histórias de superação foram conhecidas.

Milhares de outras, que seguem no anonimato, são recordadas aqui no Brasil neste 22 de setembro, Dia Nacional do Atleta Paralímpico. A de Gabriel Quirino e do seu treinador Moisés de Oliveira é uma delas.

Gabriel conquista segundo lugar nos 60º Jogos Regionais de Caraguá / Foto: Arquivo pessoal

Gabriel conquista segundo lugar nos 60º Jogos Regionais de Caraguá / Foto: Arquivo pessoal

Os dois moram em Lorena, interior de São Paulo. Gabriel Augusto Oliveira Quirino pratica atletismo, tem 26 anos e é cego. Ele perdeu a visão aos 16, vítima de um câncer. Depois de terminar o ensino médio, foi estudar em uma escola para deficientes visuais. Além de atleta, Gabriel é compositor e faz parte de um grupo de hip hop.

“No começo não é fácil, imagina um jovem de 16 anos perder a visão, e ter meio que recomeçar do zero, mas fui convivendo com pessoas que nunca enxergaram na vida e fui vendo que meu problema não era nada”, relembra o jovem. Ele conta que o esporte foi um dos meios que  utilizou para superar o trauma.

Há apenas dois anos, o atletismo entrou e transformou a sua vida. Em uma competição na escola, competindo com pessoas que enxergavam, ganhou a corrida dos 100m. “O Moisés viu que eu tinha talento”, recorda. Com ajuda do treinador, Gabriel foi desenvolvendo essa habilidade e obtendo bons resultados em competições. Com a prática esportiva, ele deixou até de tomar medicamentos que a princípio deveriam ser tomados pela vida toda.

“O esporte foi o melhor remédio que eu pude ter. Veio para completar o que faltava. Além de ser qualidade de vida foi a chance que eu tinha de mostrar para todo mundo que a limitação está dentro de cada um, que acima de tudo você pode fazer diferença, que não é só no falar, mas sim no agir.”

Motivação e confiança

Já Moisés, há 20 anos, trabalha treinando atletas. Com altos índices de violência na cidade, o secretário de esportes o convidou para trabalhar nas escolas municipais, ele aceitou e pediu para incluir a escola de crianças especiais.

Moisés (esq.) ao lado do ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima / Foto: Facebook AAL

Moisés (esq.) ao lado do ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima / Foto: Facebook Associação Atlética Ligeirinho – AAL

A Associação Atlética Ligeirinho de Lorena, local em que Moisés atua treinando cerca de 80 pessoas entre crianças, adultos e atletas da APAE, foi reconhecida no ano passado como entidade de Utilidade Pública.

“A primeira coisa que o esporte proporciona é a autoestima. Quando essas crianças ganham medalha, fazem festa, você vê nos olhos deles. Tem também a satisfação para os pais, que às vezes até rejeitavam o filho. As crianças melhoram na escola, surpreende os pais.”

O treinador de atletismo conta que aprendeu nesses anos, especialmente com os atletas que têm algum tipo de deficiência, a amar mais as pessoas. “Se todo mundo dedicasse um pouquinho de tempo, 10 minutos, a essas crianças para ver aquele sorriso, nosso país seria bem melhor.”

A dedicação dele foi fundamental para Gabriel. Quando o atleta começou a correr, Moisés foi seu primeiro atleta-guia. Este auxiliar corre junto com o competidor que não pode enxergar  e tem a função de orientar a direção da corrida. Gabriel explica que a relação entre eles deve ser de total confiança, porque o guia passa a ser os seus olhos.

Para Gabriel a limitação está dentro de cada um e não no tipo de deficiência que a pessoa possa ter. “Se você coloca na sua cabeça que você é capaz, não existe impossível e acima de tudo, você é o único representante dos seus sonhos na face da terra. A mensagem que eu quero deixar é que eu não vejo o mundo mas o mundo vai me ver.”

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