Missionários arrecadaram alimentos, material para higiene e dinheiro para um dos países mais pobres das Américas
Thiago Coutinho
Da redação
Em outubro de 2016, o furacão Matthew deixou um rastro de destruição no Haiti. O país caribenho, que tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da América, foi acometido por uma tempestade com mais de 230 quilômetros por hora que deixou cerca de 200 mil mortos. E foi diante deste cenário trágico que surgiu o Projeto Missão JF/Haiti, idealizado pela Arquidiocese de Juiz de Fora, sob a liderança de Dom Gil Antônio Moreira, em parceria com a Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus.
Entre as várias iniciativas do projeto está uma ação natalina: uma corrida que acontecerá no dia 17 de dezembro na cidade mineira de Matias Barbosa, com o intuito de arrecadar recursos para o Natal das crianças no Haiti. Além disso, o projeto pretende organizar futuros eventos, ações de apadrinhamento de crianças haitianas e o envio de profissionais de saúde e religiosos para o país.
Os missionários realizaram uma primeira visita ao Haiti entre julho e agosto deste ano. Os planos iniciais eram de apenas levar mantimentos à já fragilizada população haitiana. Em parceria com os frades da Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, os missionários da Arquidiocese de Juiz de Fora recolheram estes suprimentos que foram entregues à Congregação Franciscana no Rio de Janeiro, que enviou todo o material arrecadado para o Haiti.
“Além disso, Dom Gil cuida do projeto Jovens Missionários Continentais, um grupo de jovens missionários que faz trabalhos em Juiz de Fora e outros estados, como a Amazônia. Então, fizemos uma visita para que fizéssemos um diagnóstico social e pudéssemos fazer uma colaboração mais intensiva, não apenas quando houvesse essas tragédias”, explicou o vice-coordenador geral do Projeto Missão JF/Haiti, Wilmar José Pereira de Carvalho.
Foram 17 dias em solo haitiano, em que o grupo de missionários brasileiros pôde colocar em prática a ideia da Igreja em Saída, tão propagada pelo Papa Francisco. Segundo Carvalho, fazer um paralelo com a realidade brasileira foi algo automático. “Aqui existem regiões pobres, mas nada é semelhante àquilo, pois não há nada, não há tratamento de lixo ou esgoto, mas quando nos propomos nesta missão são dificuldades que sabemos que vamos encontrar”, disse.
Além dos missionários, o projeto conseguiu lotar um contêiner com água potável, comida não perecível e vestuário. “Esta primeira viagem foi mais para reconhecer território, um diagnóstico social, entender um pouco mais da necessidade deles. Percebemos que a mídia tem uma visão muito deturpada do Haiti. Nosso objetivo agora com o projeto é promover uma cultura do amor, de amparo, apoio e auxílio”, explicou Carvalho.
No momento, os missionários pretendem organizar uma nova viagem acompanhados de médicos que possam realizar um mutirão em solo haitiano. “Estamos buscando serviços de medicina e odontologia, serviços sociais, engenharia. Queremos levar uma junta de médicos que possa ficar por lá por algum tempo e ajudar a população”, esclareceu o vice-coordenador geral do projeto.
Em meio a tanto sofrimento e um cenário de muita pobreza, qual seria a lição aprendida pelo missionário? “Precisamos, enquanto missionários, colocarmo-nos no lugar da missão e não do lugar. Em meio a tanto sofrimento enxergamos uma semente de amor. Ficou uma coisa de amor ao próximo, de que estávamos fazendo o projeto certo na hora certa”, finalizou.
Os interessados em colaborar podem fazê-lo por meio de uma conta bancária. Todos os recursos serão destinados ao trabalho realizado pelos freis franciscanos da Providência de Deus naquele país junto à população carente da cidade de Croix-des-Bouquets:
Banco: Caixa Econômica Federal
Agência: 3029
Operação: 003
Conta corrente: 3174-8
A fé foi mais forte
O Projeto Missão JF/Haiti contou com a colaboração de diversas pessoas. Mas a força motriz que guiou os missionários até o país caribenho pode ser personificada no arcebispo da Diocese de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira. Na conversa a seguir, Dom Gil conta como foi atuar com os missionários em um país pobre e carente de ajuda humanitária e material.
O Haiti é considerado o país mais pobre das Américas: quase não há saneamento básico e doenças como a cólera são comuns, além das catástrofes naturais que atingiram o país e deixaram um rastro de destruição em um local já fragilizado. Num contexto como este, como foi para os missionários se estabelecerem e seguir adiante com o trabalho humanitário?
Dom Gil Antônio Moreira ― Não observei em nossos missionários a menor preocupação com isto. O motivo da fé me parece mais forte que tudo, até mais forte que a morte. Mesmo que possa ter passado na mente de alguém algum receio, vejo que isto é, de imediato, superado, pois o risco que o missionário corre é o mesmo que aquela população tão carente corre todos os dias. O princípio do amor ao próximo, do jeito que Jesus ensinou, supera tudo.
Atualmente, quais são os principais objetivos do Projeto Missão em solo haitiano? Há metas que não foram cumpridas na primeira visita ao país e que serão realizadas num segundo momento?
Dom Gil ― Nosso trabalho, atualmente, é o de fazer parcerias com os queridos Freis Franciscanos da Providência de Deus, que têm base missionária no Haiti. Estaremos à disposição para atender às demandas que eles nos apontarão e também iremos propor promoções. Estamos organizando grupos de Profissionais Continentais, como médicos, dentistas, sanitaristas, empresários, etc., que, com espírito missionário, quiserem ir para o Haiti ou colaborarem, de alguma forma, com a missão. Estes grupos já estão sendo formados. Há coisas maravilhosas acontecendo no coração de muita gente que está aderindo ao nosso convite. Enviaremos também pessoas para auxiliar os Freis na catequese e na liturgia, mas, para isto, precisam antes aprender a língua.
O Papa Francisco tem se focado muito no conceito da Igreja em Saída. Partindo deste ponto de vista, como o senhor analisa o trabalho missionário realizado pela Arquidiocese de Juiz de Fora?
Dom Gil ― A Arquidiocese de Juiz de Fora está sempre, amorosamente, atenta à voz do Sucessor de Pedro. As fortes indicações de Papa Francisco no campo da Missão são acolhidas por nós com muito ardor, pois coincidem com o propósito e as decisões do Sínodo Arquidiocesano, que celebramos de 2009 a 2011 e que está regendo toda a nossa vida Pastoral e evangelizadora na Igreja Particular. No Sínodo, acolhemos o tema para nossa Igreja local, que é “Arquidiocese de Juiz de Fora, uma Igreja sempre em Missão”, e o lema “Fazei discípulos meus!” (Mt 28,20). Queremos, com o Papa Francisco, ser sempre e cada vez mais, uma Igreja em saída, com olhos voltados prioritariamente para as periferias.
No comunicado à imprensa, é mencionado que a Arquidiocese realizará uma campanha especial para o Natal dos haitianos. Quais seriam os planos específicos para esta campanha?
Dom Gil ― Será feita na cidade de Matias Barbosa uma Corrida Atlética na ocasião do Natal, com contribuições dos atletas que serão enviadas aos Freis no Haiti para comprar presentes para as crianças. A coordenação será de uma das empresárias de nosso grupo. Outras promoções poderão ser organizadas.
Como sacerdote, quais seriam os maiores aprendizados que o senhor ressaltaria de um trabalho missionário como este, num dos lugares mais pobres do mundo?
Dom Gil ― Como viver intensamente a ordem missionária de Jesus: “Ide por todo o mundo, ensinai a todos tudo o que vos ensinei”. Como viver o amor que Cristo nos ensinou: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei!”. E o mais importante: através das ações caritativas, queremos levar Cristo por inteiro a todos que não O conhecem e aumentar o amor de Cristo naqueles que já o conhecem.