Papa Francisco celebrou nesta quinta-feira, 5, a missa exequial do Papa Emérito; Bento XVI foi sepultado no exato local onde esteve o corpo de São João Paulo II
Julia Beck
Da redação
A missa exequial do Papa Emérito Bento XVI – falecido no dia 31 de dezembro – foi presidida na manhã desta quinta-feira, 5, pelo Papa Francisco na Praça São Pedro, no Vaticano. A celebração contou com a presença de mais de 120 cardeais e aproximadamente 60 mil fiéis.
As últimas palavras que Jesus pronunciou na cruz, “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23, 46), nortearam a homilia de Francisco. Segundo o Pontífice, as últimas palavras do Senhor confirmam aquilo que Ele fez durante toda a sua vida: viveu uma vida continuamente entregue ao Pai.
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.: Texto completo da homilia do Papa Francisco
“Mãos de perdão e compaixão, de cura e misericórdia, mãos de unção e bênção, que O impeliram a entregar-Se também nas mãos dos seus irmãos. Aberto às pendências que ia encontrando ao longo do caminho, o Senhor deixou-Se cinzelar pela vontade do Pai, carregando aos ombros todas as consequências e dificuldades do Evangelho até ao ponto de ver as suas mãos chagadas por amor”, sublinhou.
“Olha as minhas mãos”, disse Jesus a Tomé (Jo 20, 27), e o mesmo, de acordo com o Papa, Jesus diz a cada um. O Santo Padre afirmou que as mãos chagadas de Cristo são estendidas à humanidade numa oferta incessante para que todos conheçam o amor de Deus.
Modelando o coração do pastor
O Papa explicou que as últimas palavras de Jesus – “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” – são o convite e o programa de vida que inspira e pretende modelar o coração do pastor para que tenha os mesmos sentimentos de Cristo: dedicação agradecida, dedicação orante e dedicação sustentada pela consolação do Espírito.
A “dedicação agradecida”, explicou o Pontífice, deve ser feita de serviço ao Senhor e ao seu povo. Ela nasce da certeza de se ter recebido um dom totalmente gratuito, comentou. O Papa destacou que Deus é capaz de Se colocar nas mãos frágeis dos seus discípulos para poder alimentar o seu povo.
Sobre a “dedicação orante”, o Santo Padre destacou que ela é vivida e aperfeiçoada silenciosamente diante do enfrentamento das provações e do convite feito por Cristo para que seus pastores apascentem seu rebanho.
O Pontífice lembrou que o Mestre carrega sobre os ombros a canseira da intercessão e o desgaste da unção pelo seu povo. “Neste encontro de intercessão, o Senhor vai gerando a mansidão capaz de compreender, acolher, esperar e apostar para além das incompreensões que isso possa suscitar”.
A confiança orante e adoradora, segundo Francisco, é capaz de moldar as ações do pastor e adaptar o seu coração e as suas decisões aos tempos de Deus (cf. Jo 21, 18): “Apascentar significa amar, e amar quer dizer também estar prontos para sofrer. Amar significa dar às ovelhas o verdadeiro bem, o alimento da verdade de Deus, da palavra de Deus, o alimento da sua presença”, complementou.
Por último, o Santo Padre comentou sobre “dedicação sustentada pela consolação do Espírito”. De acordo com o Papa, ela sempre precede na missão e transparece na paixão de comunicar a beleza e a alegria do Evangelho, no testemunho fecundo daqueles que, como Maria, permanecem de muitos modos ao pé da cruz.
Confiando Bento XVI às mãos do Pai
Unidos às últimas palavras do Senhor e ao testemunho que marcou a Sua vida, Francisco sublinhou que ele e toda comunidade eclesial confia Bento XVI às mãos do Pai: “Que estas mãos misericordiosas encontrem a sua lâmpada acesa com o azeite do Evangelho, que ele difundiu e testemunhou durante a sua vida (cf. Mt 25, 6-7)”.
Como as mulheres do Evangelho no sepulcro, o Santo Padre afirmou que ele e toda a Igreja, com o perfume da gratidão e o unguento da esperança, entregam Bento XVI a Deus. “Queremos fazê-lo com a mesma unção, sabedoria, delicadeza e dedicação que ele soube dispensar ao longo dos anos”, disse.
No final de sua homilia, Francisco ressaltou que Bento era um “fiel amigo do Esposo” e desejou: “Que a tua alegria seja perfeita escutando definitivamente e para sempre a sua voz!”.
Última despedida
Antes da conclusão da celebração, o Papa Francisco presidiu o rito da última recomendação e da despedida. O Decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Giovanni Battista Re aspergiu água benta no caixão do Papa Emérito e o incensou. A antífona foi cantada: “Que os anjos vos conduzam ao Paraíso; que os mártires venham e vos acolham e vos levem para a cidade santa, a nova e eterna Jerusalém”.
Na sequência, em um rito privado – sem transmissão pelo Vaticano – foi colocada uma faixa no caixão com selos do Capítulo de São Pedro, da Casa Pontifícia e das celebrações litúrgicas.
O caixão de cipreste foi então colocado em um caixão de zinco, maior, que é soldado e selado. Depois, inserido em outra caixa de madeira que é depositada no local que anteriormente foi ocupado por São João Paulo II.