O Papa Bento XVI recebeu em audiência na manhã deste sábado, 19, os participantes da 24ª Assembleia Plenária do Pontifício Conselho Cor Unum. A Plenária, aberta na quinta-feira, 17, pelo presidente do Conselho, Cardeal Robert Sarah, enfatizou o discernimento e a vigilância como indispensáveis na obra de caridade da Igreja.
A Assembleia deste ano reuniu cerca de cem participantes de vinte países: religiosos e leigos engajados que trabalham em associações católicas e ONGs de diversas áreas, Caritas locais, entidades como a Catholic Relief Services, a Comissão Católica Internacional de Migrações, Terra Solidária e organizações de desenvolvimento e cooperação.
Em seu discurso, Bento XVI destacou que hoje se compartilha sempre mais um sentimento comum sobre a dignidade inalienável de cada ser humano. Porém, ele lembrou que o tempo atual conhece “sombras que escurecem” o projeto de Deus. Em especial, o Pontífice referiu-se à redução antropológica que re-propõe o antigo materialismo hedonista, ao qual se une o “prometeísmo tecnológico”.
“A partir da união entre uma visão materialista do homem e o grande desenvolvimento da tecnologia emerge uma antropologia no fundo ateia. Essa pressupõe que o homem se reduz a funções autônomas, a mente ao cérebro, a história humana a um destino de auto-realização. Tudo isso prescindindo de Deus, da dimensão propriamente espiritual e do horizonte além-terra”.
O Santo pontuou ainda que, na perspectiva de um homem privado da sua alma e também de uma relação pessoal com o Criador, o que é tecnicamente possível torna-se moralmente lícito, cada experimento resulta aceitável, cada política demográfica consentida, cada manipulação legitimada. A armadilha mais perigosa desta linha de pensamento, segundo o Pontífice, é a absolutização do homem, que quer ser livre de qualquer vínculo ou constituição natural: ele quer ser independente e pensa que a felicidade está em sua autoafirmação. Contudo, Bento XVI lembrou que o ser humano é ordenado para a sociabilidade.
"A visão cristã do homem de fato é um grande sim à dignidade da pessoa chamada à íntima comunhão com Deus, uma comunhão filial, humildade e confiante. O ser humano não é nem um indivíduo autônomo nem elemento separado da coletividade, mas sim pessoa singular e única, intrinsecamente ordenada à relação e à sociabilidade".
Por fim, o Papa lembrou que, diante dos desafios de cada época, a resposta é sempre o encontro com Cristo. "Nele (em Cristo) o homem pode realizar plenamente o seu bem pessoal e o bem comum", disse.