Papa Leão XIV participou da primeira de três pregações do Advento que são conduzidas pelo pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini
Da Redação, com Vatican News

Padre Roberto Pasolini conduz primeira pregação do Advento / Foto: Reprodução Vatican News
“Aguardando e apressando a vinda do dia de Deus” é o tema das pregações do Advento no Vaticano que começaram nesta sexta-feira, 5, com a presença do Papa Leão XIV. O ciclo de três meditações, sempre nas sextas-feiras que antecedem o Natal, são conduzidas pelo pregador da Casa Pontifícia, padre Roberto Pasolini.
Esta primeira reflexão foi centrada na Parusia do Senhor e introduz em um tempo singular: a conclusão do Jubileu da Esperança. “O Advento é o tempo em que a Igreja reacende a esperança, contemplando não só a primeira vinda do Senhor, mas, sobretudo, o seu regresso no fim dos tempos”, explicou padre Pasolini. É o momento em que os fiéis são chamados a aguardar e, ao mesmo tempo, apressar a vinda do Senhor com vigilância serena e diligente.
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Perceber a graça de Deus
O sacerdote explicou que parusia é um termo usado quatro vezes pelo evangelista Mateus no capítulo 24 com um duplo significado: “presença” e “vinda”. Jesus compara a expectativa de sua vinda aos dias de Noé antes do dilúvio universal. Eram dias em que a vida seguia normalmente e em que Noé, sozinho, construiu a arca, o instrumento da salvação. Sua história levanta questões essenciais para a compreensão do que o homem moderno precisa reconhecer.
“A paz permanece uma miragem em muitas regiões até que antigas injustiças e memórias feridas sejam curadas, enquanto na cultura ocidental o senso de transcendência é enfraquecido, esmagado pelo ídolo da eficiência, da riqueza e da tecnologia. O advento da inteligência artificial amplifica a tentação de uma humanidade sem limites e sem transcendência.”
Nesse sentido, padre Pasolini destacou a necessidade de conhecer a direção para a qual o Reino de Deus continua a se mover dentro da história, retornando à capacidade profética do Batismo. É preciso, acrescentou, perceber a graça de Deus, “esse dom da salvação universal que a Igreja humildemente celebra e oferece, para que a vida humana seja libertada do fardo do pecado e do medo da morte”.

Papa Leão XIV acompanha a pregação / Foto: Reprodução Vatican News
Apagar o mal para que a vida floresça
O pregador da Casa Pontifícia recordou que, para redescobrir o rosto de Deus que acompanha sua criação ferida, é preciso recorrer à história do dilúvio universal, quando o Senhor vê o mal no coração humano. Esse mal não pode ser vencido pela mudança, pela evolução, porque à humanidade não serve somente realizar-se, mas também de salvar-se.
“O mal não deve ser simplesmente perdoado: deve ser apagado, para que a vida possa finalmente florescer em sua verdade e beleza.” Apagar, na cultura do cancelamento em que a humanidade de hoje está imersa, não é apenas destruir tudo, eliminar o que parece pesado nos outros. “Todos os dias cancelamos muitas coisas, sem nos sentirmos culpados ou causar qualquer dano. Apagamos – recorda Pasolini – mensagens, arquivos inúteis, erros em documentos, manchas, vestígios, dívidas. De fato, muitos desses gestos são necessários para permitir que nossos relacionamentos amadureçam e tornem o mundo habitável.” Apagar significa abrir-se a Deus, partindo da própria fragilidade, e permitir que Ele cure.
Retornando ao exemplo de Noé, o sacerdote observou que a história do dilúvio lembra que a vida floresce somente quando se reconstrói os céus, na medida em que se coloca Deus de volta no centro. O dilúvio se torna “uma passagem de recriação através de um momento de descriação”. “É uma mudança temporária nas regras do jogo, para salvar o próprio jogo que Deus havia inaugurado com confiança.”
Decidir não ferir
O dilúvio é, portanto, “uma renovação paradoxal da vida”. Deus não se esquece da humanidade e coloca seu arco nas nuvens como sinal de aliança. O Senhor depõe suas armas com uma solene declaração de não violência. “Pode parecer – acrescentou o padre Pasolini – uma metáfora ousada, quase inadequada para falar de Deus e da forma como a sua graça se manifesta. No entanto, a humanidade, após milênios de história e evolução, ainda está longe de saber como imitá-lo.”
A Terra, de fato, está dilacerada por conflitos atrozes e intermináveis, que não dão trégua a tantas pessoas frágeis e indefesas. A decisão daqueles que, apesar de terem a capacidade, escolhem voluntariamente não ferir é reconfortante, porque compreendem que só acolhendo os outros é que a aliança “pode ser duradoura, verdadeira e livre, acrescentou o pregador.
O tempo do bem
“Vigiai pois, porque não sabeis o dia em que o seu Senhor virá”: esta é a recomendação final de Jesus. Padre Pasolini explicou que não saber o dia e a hora deste evento criou muita expectativa no passado, mas hoje as coisas parecem ter se invertido. “A espera diminuiu ao ponto de, por vezes, dar lugar a uma sutil resignação quanto ao seu cumprimento.” Hoje, prevalece “uma vigilância cansada, tentada pelo desânimo”.
O tempo de espera é o tempo de semear o bem e aguardar a vinda de Jesus Cristo. Concluindo sua pregação, o sacerdote alertou sobre duas grandes tentações que afetam a humanidade e a Igreja: esquecer a necessidade da salvação e pensar que se pode recuperar o consenso cuidando da aparência externa da imagem e diminuindo a radicalidade do Evangelho.
É preciso, enfatizou padre Pasolini, retornar à alegria — e também ao esforço — de seguir, sem domesticar a palavra de Cristo. Somente como “sentinelas nas fronteiras do mundo”, como escreveu o monge Thomas Merton, é que se pode aguardar o retorno de Cristo.




