Esperança no futuro

Padre em Gaza: cessar-fogo não garante a paz, mas é um passo para ela

Nestas primeiras horas de trégua, pároco da Igreja da Sagrada Família em Gaza conta como está o retorno de muitos palestinos e frisa esperança e confiança na paz

Da redação, com Vatican News

Pároco da Igreja da Sagrada Família em Gaza, padre Gabriel Romanelli /Foto: PA Images via Reuters

Ver o mar depois de mais de um ano, andar de bicicleta, procurar nos restos da própria casa algo que seja uma âncora para o passado, que não apague o que se viveu antes: uma foto, um objeto que dê esperança para o amanhã e força para reconstruir o futuro. Essas são as imagens que o pároco da Igreja da Sagrada Família em Gaza, padre Gabriel Romanelli, contou ter visto em poucas horas após o início do cessar-fogo.

Embora no momento em que o cessar-fogo foi declarado ainda houvesse tiros e bombardeios, além do atraso na divulgação dos nomes dos reféns, o sacerdote afirma que o clima é de esperança. “As pessoas estão começando a pensar, a viver. Aqui há vários refugiados que querem ir para sua casa ou para o local onde moravam, mas até agora isso não é permitido porque é uma zona militar e porque o exército vai se retirar aos poucos. Alguns querem ir para o mar, especialmente os pescadores. Gaza fica no Mediterrâneo, portanto, depois de mais de um ano, eles querem ver o mar. A autoridade israelense explicou que ainda não é possível chegar perto do mar para pescar ou nadar, mas muitos queriam nadar, apesar do frio. Certamente há alívio, as pessoas estão começando a pensar em como reconstruir suas casas, como retomar suas vidas, mas ainda há incerteza”, disse.

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Ajuda humanitária

Gaza está destruída. Pouquíssimas estruturas estão de pé, portanto padre Romanelli frisa que a ajuda humanitária é necessária. A expectativa é que o palestinos recebam alimentos, água de boa qualidade e diesel, fundamental para os geradores e para todo o sistema elétrico.

“As pessoas já estão esperando para ver como poderão reconstruir suas casas, mas isso não está incluído na primeira etapa do acordo de cessar-fogo, porém serão 600 caminhões, em vez dos 400 que vieram antes da guerra. Durante a guerra, havia dias em que nada chegava, portanto, 600 é um bom número, mas certamente não é suficiente, mas esperamos que a vontade daqueles que aceitaram o cessar-fogo e a ajuda internacional se concretizem para salvar essa população de 2,3 milhões de pessoas”, reitera.

Proximidade do Papa

O presbítero recorda que o Papa Francisco liga “religiosamente” às 20h, horário local (19h em Roma). Ontem não foi diferente, o telefonema também aconteceu. Havia um grande número de refugiados, alguns deles doentes, prostrados, havia crianças pequenas que já estavam dormindo porque era cedo e, como há pouca luz, ela é utilizada, por exemplo, para a internet. “A surpresa foi que um grande número de refugiados veio aqui para dizer obrigado, obrigado por estar sempre conosco. Fizeram uma faixa com essas palavras, cantaram para o Papa Francisco, disseram uma frase em espanhol, em árabe, em inglês, em italiano e ele respondeu que era bom vê-los ali e que estava feliz porque a paz estava chegando a Gaza”, conta. A frase do Santo Padre impressionou a todos.

A trégua, o cessar-fogo não é sinônimo de paz, acrescenta padre Romanelli, mas, como diz o Papa Francisco, a paz está chegando, é um passo para o fim dessa guerra e o início de uma nova etapa em Gaza. Desde o início da guerra, ele comenta que o Pontífice tem telefonado todos os dias para rezar, dar sua bênção, cuidar um a um das pessoas de Gaza e se tornou, como disse o Patriarca de Jerusalém, um da comunidade, um paroquiano.

Futuro

“Estamos muito cansados, muito cansados, porque nós não nos esquecemos de que a guerra é terrível em todos os lugares, essa guerra tem sido terrível e, quando relaxamos, o cansaço se instala. Em geral, há um clima de serenidade, de paz, mas é preciso pensar no dia a dia, haverá muito o que fazer e a Igreja sempre estará ao lado das pessoas que precisam espiritualmente, moralmente e materialmente”, reflete.

O sacerdote revela que a Igreja em Gaza ajudou 10 mil famílias no mês passado, cerca de 60 mil pessoas, doando alguns vegetais e frutas. “Estamos esperando há 3-4 dias por mais ajuda, enviada pelo Patriarcado Latino, pelos Cavaleiros de Malta, e que está parada na fronteira. Continuaremos a ajudar. Reabrimos a escola há alguns meses, salvamos o último ano acadêmico de 2023 – 2024 e começamos o de 2024 -2025, mas não podemos receber alunos de fora, é apenas para meninas, crianças e crianças refugiadas, mas esperamos reabrir, reconstruir, há várias estruturas da Igreja que também foram bombardeadas, destruídas, mas o Senhor nos ajudará e, ao lado Dele, há muitos homens de boa vontade que estão em toda parte e também querem ajudar a construir a paz aqui em Gaza e em toda a Terra Santa!”.

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