Nesta quinta-feira, 4, Francisco presidiu a Santa Missa em sufrágio dos cardeais e bispos falecidos nos últimos meses
Da redação
A tradicional Missa celebrada pelo Papa Francisco em sufrágio dos cardeais e bispos falecidos nos últimos meses aconteceu nesta quinta-feira, 4. A celebração aconteceu na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Em sua homilia, o Pontífice recordou que na primeira leitura do dia, retirada do Livro das Lamentações, consta um convite para “esperar em silêncio a salvação do Senhor”. Segundo o Santo Padre, esta atitude não é um ponto de partida, mas um ponto de chegada.
O autor do texto chega ao final de um percurso acidentado que o fez amadurecer, afirma Francisco. O Papa aponta que o autor compreende a beleza de confiar em Deus, que nunca deixa de cumprir as suas promessas.
No entanto, o Pontífice ressalta que a confiança em Deus não nasce de um entusiasmo momentâneo, não é uma emoção ou um sentimento, pelo contrário, vem da experiência e amadurece na paciência.
O Santo Padre então recordou o profeta Jó, que passou de um conhecimento de Deus “por ouvir dizer” para um conhecimento experiencial.
Esperar pelo Senhor
“Para isso acontecer é preciso uma longa mudança interior, um pouco de sofrimento que leva a saber esperar em silêncio, com paciência, confiante, com o coração manso”, ressalta.
A paciência, denota Francisco, não é uma resignação, pois é alimentada pela expectativa do Senhor, cuja vinda é certa e não decepciona.
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O Papa destaca que é importante aprender a arte de esperar pelo Senhor. “Espera-lo docilmente, com confiança, afugentando fantasmas, fanatismo e clamores. Esperar com um coração cheio de esperança”, exorta.
Somente deste modo, revela o Pontífice, homens e mulheres podem se preparar para a última e maior provação da vida: a morte.
Paciência
Sobre as provações do momento, a cruz que cada um carrega, o Santo Padre exorta os fiéis a pedirem ao Senhor a graça de esperar ali mesmo a sua salvação vindoura. “Cada um de nós precisa amadurecer nisso”, comenta.
Diante das dificuldades e problemas da vida, Francisco constata a dificuldade de homens e mulheres serem pacientes e permanecerem serenos. “A irritação serpeia e chega o desconforto”, aponta.
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“Pode acontecer que sejamos fortemente tentados pelo pessimismo e pela resignação. Pode ser que vejamos tudo como sombrio, que acostumemos a tons de desencorajamento e lamento”, alerta o Papa.
Na provação, o Santo Padre destaca que muitas vezes nem mesmo as belas lembranças do passado podem servir de consolo porque a aflição leva a mente a se debruçar sobre os momentos difíceis e isso aumenta a amargura.
“Parece que a vida é uma cadeia continua de desventuras. No abismo e na angústia da falta de sentido, Deus se aproxima para salvar”, frisa.
Esperança
O Papa disse achar feio quem chega na velhice com o coração amargo, desiludido, com o coração crítico para as coisas novas. “Retomar a esperança no momento da amargura”, encoraja.
“O Senhor transforma o sofrimento em uma porta através da qual se entra a esperança. É uma experiência pascal, uma dolorosa passagem que se abre à vida, na escuridão se vê a luz”.
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Este momento decisivo, descrito anteriormente pelo Pontífice, não acontece porque os problemas desapareceram. Segundo o Santo Padre ele acontece porque a crise se tornou uma misteriosa oportunidade de purificação interior.
Francisco alerta para o fato de a prosperidade cegar. Ao invés de passar pela provação na dureza e lágrimas, o Papa incentiva homens e mulheres a deixarem que ela os faça renascer.
“Um padre da Igreja diz que nada mais que o sofrimento nos leva a descoberta de coisas novas”, indica.
Presença de Deus
O Senhor salva e tem o poder de transformar tudo, até mesmo a morte, garante o Papa.
“Ele nos deixa passar por caminhos estreitos não para nos abandonar, mas para nos acompanhar. Sim, porque Deus nos acompanha. Ele nos acompanha sobretudo na dor, como um pai que ajuda o seu filho a crescer estando com ele nas dificuldades, sem tomar o seu lugar”.
A dor, afirma o Pontífice, é um mistério. Nesse mistério, o Santo Padre comenta que homens e mulheres podem descobrir uma nova face da paternidade de Deus que visita seus filhos nas provações.
“O senhor é bom para aqueles que esperam nEle, que O buscam”, frisa Francisco. Diante do mistério da morte redimida, o Papa exorta os fiéis a pedirem a graça de olharem com olhos diferentes para as dificuldades, força para viver o silêncio manso e confiança para esperarem a salvação do Senhor sem reclamar e resmungar, sem se deixarem entristecer.
O que parece ser castigo se revelará uma graça, uma nova demonstração do amor de Deus, garante Francisco. Saber esperar em silêncio pela salvação do Senhor é uma arte, aponta.
“Agora mais do que nunca não há necessidade de gritar, fazer alarde, nos amargurar. É preciso que cada um testemunhe com a vida a fé que é uma expectativa dócil e esperançosa. A fé é uma expectativa dócil à esperança”, afirma.
Rezar e servir
Os cristãos que confiam no Senhor rezam diante das provações e por aqueles que sofrem, ressalta o Santo Padre. Para isso, o Pontífice exorta os fiéis a manterem os olhos no céu, mas as mãos na terra, para servir concretamente ao próximo.
“Mesmo em um momento da tristeza e escuridão, servir”, pede Francisco.
Cardeais falecidos
Por fim, o Papa exorta os católicos a rezarem pelos cardeais que faleceram no último ano. Ele recorda que alguns deles morreram em decorrência da Covid-19, em situações difíceis que agravaram o sofrimento que passavam.
“Que esses nossos irmãos possam saborear agora o convite evangélico que o Senhor dirige a seus fiéis servos: ‘Vinde, benditos de meu Pai! Recebei como herança o Reino que meu Pai vos preparou desde a criação do mundo! (Mt 25,31-46)’”