Papa presidiu Missa na abertura da Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa; na homilia, falou de uma Europa “doente de cansaço” e pediu Igreja acolhedora
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
Refletir, reconstruir e ver são três verbos que a Palavra de Deus oferece hoje e que, explica o Papa Francisco, interpelam os bispos como cristãos e pastores na Europa. A reflexão do Pontífice foi em sua homilia nesta quinta-feira, 23, na Missa com os participantes da Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (C.C.E.E) por ocasião dos 50 anos de sua instituição.
Francisco destacou que “refletir” é o primeiro convite que Deus faz por meio do profeta Ageu. É uma reflexão sobre o comportamento do próprio povo: “é tempo de morar tranquilos em casas bem cobertas, enquanto o Templo está em ruínas?”. Um questionamento que interpela também hoje os cristãos na Europa, considerou o Papa.
A tentação do comodismo
“Temos a tentação de nos acomodarmos nas nossas estruturas, nas nossas casas e nas nossas igrejas, na segurança das tradições, na satisfação por um certo consenso, enquanto ao redor os templos se esvaziam e Jesus fica cada vez mais esquecido”.
Francisco propôs aos bispos pensar quantas pessoas não têm mais fome e sede de Deus. Não é porque são más pessoas, mas porque falta quem lhes abra o apetite da fé e reacenda a sede que há no coração do homem, uma sede que a ditadura do consumismo tenta extinguir.
Outro aspecto comentado pelo Papa é que o povo, ao qual Deus fala por meio do profeta, tinha tudo o que queria e não era feliz. Aqui, o Pontífice pontuou que a falta de caridade causa infelicidade, porque só o amor sacia o coração. Fechados no interesse pelas próprias coisas, os habitantes de Jerusalém perderam o sabor da gratuidade.
“Também este pode ser o nosso problema: concentrar-se nas várias posições da Igreja, nos debates, nas agendas e estratégias, e perder de vista o verdadeiro programa que é o do Evangelho: o zelo da caridade, o ardor da gratuidade. O caminho de saída dos problemas e fechamentos é sempre o do dom gratuito; não há outro. Reflitamos nisto.”
Reconstrução: em conjunto, em unidade
Francisco observou que, seguindo o pedido de Deus através do profeta, o povo reconstruiu o templo. Deixou de se contentar com um presente tranquilo para trabalhar pelo futuro. E é disso que precisa também hoje a construção da casa comum europeia, disse o Papa. Trata-se de deixar as conveniências do imediato para voltar à visão clarividente dos pais fundadores, visão profética e de conjunto.
O mesmo vale para a Igreja, casa de Deus. “Para torná-la bela e acolhedora, é necessário olhar juntos para o futuro, não restaurar o passado. Sem dúvida, devemos partir dos alicerces, das raízes – isso sim, é verdade – porque dali se reconstrói: a partir da tradição viva da Igreja, que nos alicerça sobre o essencial, o bom anúncio, a proximidade e o testemunho. Daqui se reconstrói, dos alicerces da Igreja dos primórdios e de sempre, da adoração a Deus e do amor ao próximo, não a partir dos gostos particulares”.
Nesse ponto da homilia, o Papa agradeceu pelo trabalho realizado pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa ao longo desses 50 anos. O Pontífice destacou o chamado a trabalhar para que a Igreja seja sempre mais acolhedora, que tenha as portas abertas a todos.
E esse trabalho de reconstrução deve acontecer em conjunto. Pode haver diferentes visões, mas sempre seja protegida a unidade. “É o nosso chamado: ser Igreja, um só Corpo entre nós. É a nossa vocação, como Pastores: reunir o rebanho, não o dispersar nem mesmo preservá-lo em belos recintos fechados”.
Ver: Deus se vê nos rostos e gestos dos homens
Por fim, o Papa falou que essa reconstrução dará aos irmãos e irmãs a chance de ver. Ele considerou que muitos na Europa pensam que a fé é algo já visto, que pertence ao passado. Isso porque não viram Jesus em ação em suas vidas.
“E muitas vezes não O viram porque nós, com as nossas vidas, não O mostramos suficientemente. Pois Deus se vê nos rostos e nos gestos de homens e mulheres transformados pela sua presença. E se os cristãos, em vez de irradiarem a alegria contagiante do Evangelho, repropuseram esquemas religiosos gastos, intelectualistas e moralistas, as pessoas não veem o Bom Pastor”.
Concluindo a homilia, o Santo Padre destacou que este amor divino, misericordioso e impressionante é a novidade perene do Evangelho. E cabe mostrá-la não com palavras, mas com a vida, com oração e pobreza, com criatividade e gratuidade.
“Ajudemos a Europa de hoje, doente de cansaço – esta é a doença da Europa de hoje – , a reencontrar o rosto sempre jovem de Jesus e de sua esposa. Não podemos fazer outra coisa a não ser doar-nos completamente para que se veja esta beleza sem ocaso”, concluiu o Papa.