Pastoral do Idoso completa 10 anos; 25 mil voluntários no país prestam serviço aos idosos mais fragilizados
Luciane Marins
Da Redação
O Canção Nova em Foco desta semana destaca o trabalho da Pastoral da Pessoa Idosa, Organismo vinculado à CNBB, que capacita líderes comunitários para visitar pessoas idosas fragilizadas em todo o país. A coordenadora nacional da Pastoral, Irmã Terezinha Tortelli, é quem conta sobre essa rede de solidariedade que reúne 25 mil voluntários no Brasil.
Irmã Terezinha atua na Pastoral desde seu surgimento, em 5 de novembro de 2004. Ela recorda, porém, que a inspiração para esse trabalho surgiu bem antes, em 1994, com a Dra. Zilda Arns. Na época, líderes da Pastoral da Criança diziam para Dra. Zilda que, nas visitas domiciliares que faziam, percebiam que muitos idosos também precisavam de algum tipo de acompanhamento.
Hoje a Pastoral da Pessoas Idosa atua em todos os estados do país, em 91 dioceses e em 1300 paróquias. “Líderes comunitários voluntários fazem visita domiciliar mensal às pessoas idosas preferencialmente as mais vulnerabilizadas, seja pela doença ou outras fragilidades como abandono e isolamento”, explica.
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Cada líder comunitário é capacitado para visitar, em média, dez idosos por mês e acompanhá-los por meio de alguns indicadores próprios da metodologia usada pela Pastoral. Além de promover a mística cristã e a solidariedade, eles observam, por exemplo, se o idoso faz algum tipo de atividade física, ingere líquidos, está em dia com a vacinação, previne-se contra quedas ou precisa ser encaminhado para os serviços de saúde.
Desafios e conquistas
Irmã Terezinha aponta três principais desafios para os idosos no Brasil: 1º- acreditar que o Brasil é um país jovem; 2º – o termo “melhor idade”; 3º- investimentos dos programas de governo.
“Há um equívoco, achando que o Brasil ainda é um país jovem. Isso faz com que se desconheça a realidade. Não se conhece a realidade de como vivem os idosos no nosso país.”
Em relação ao termo “melhor idade”, a irmã considera que é a fase da vida em que cada um se sente bem, podendo ser tanto a infância, a adolescência, a juventude ou a fase adulta, e não necessariamente a velhice. “Essa expressão leva a um equívoco na interpretação de como estão as pessoas idosas, considerando que todas envelhecem muito bem, e isso não é verdade.”
Por fim, a religiosa aponta os investimentos dos programas de governo que, segunda ela, acabam privilegiando áreas como esporte e turismo.
A coordenadora da Pastoral destaca também as conquistas, que considera serem “muitas”, especialmente em relação ao grande número de voluntários que se dedicam aos idosos e à legislação brasileira sobre o idoso. “Em 2003, foi sancionado o Estatuto do Idoso, temos os Conselhos de direito a nível federal, estadual, municipal. São conquistas porém ainda limitadas, porque legalmente está perfeito, a legislação é muito boa, até copiada por outros países, o que falta é a implementação desta legislação. Falta concretizar o que está muito bem escrito.”
Papa e idosos
Desde que assumiu o pontificado, o Papa Francisco tem destacado o valor dos idosos, a sabedoria que trazem em si e sua importância para a Igreja e sociedade.
No dia 28 de setembro o Papa convocou a Jornada Mundial dos Idosos no Vaticano. Irmã Terezinha e alguns membros da Pastoral estiveram lá. Ela conta que tem se surpreendido com os ensinamentos de Francisco em relação a essa temática.
“Um gesto deixou todos ali emocionados: tinha um convidado especial que era o Papa emérito Bento XVI e o primeiro gesto de Francisco foi cumprimentá-lo. Ele disse que desejou muito ter o Papa Bento XVI morando no Vaticano porque é como ter um avô sábio em casa. Só nessa expressão ele demonstra essa atenção especial que tem com a pessoa idosa.”
Encanto pelo trabalho
Muitos voluntários da Pastoral são idosos. A irmã destaca a própria Dra. Zilda Arns, idealizadora do projeto, que morreu aos 75 anos em uma missão da Pastoral da Criança no Haiti. Ela defende como é saudável que a pessoa idosa encontre uma causa para se dedicar.
“O contato com outras pessoas idosas, criar solidariedade entre as famílias, esse convívio é muito bom, não só pra quem recebe mas também para quem faz a visita. Esse trabalho me encanta”, destaca a religiosa.