O estudo da Sagrada Escritura fornece uma interpretação mais genuína dos textos bíblicos, por isso o trabalho dos exegetas deve chegar a todo povo de Deus
Luciane Marins
Da redação
No mês em que a Igreja celebra a Bíblia, o Canção Nova em Foco desta semana trata da exegese, ou seja do estudo aprofundado da Sagrada Escritura. Padre Antônio Xavier Batista, mestre em exegese bíblica e arqueologia, fala sobre como este estudo facilita a interpretação da Palavra de Deus.
Papa Francisco, em um encontro com biblistas neste mês, disse que a fé deve ser constantemente alimentada pela Palavra de Deus. Padre Xavier aponta dois meios para que isso aconteça: primeiro pela leitura da própria Escritura e, segundo, por meios que facilitem a compreensão de forma correta.
“A Palavra de Deus só pode ser compreendida quando se pensa na comunidade, porque ela foi escrita para testemunhar a ação de Deus no meio do povo e assim deve ser lida e compreendida.”
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A palavra “exegese” significa interpretação; para tanto, é preciso recuperar o sentido original do texto, o que exige um estudo minucioso de suas línguas originais como grego, hebraico e aramaico. Procura-se, primeiro, compreender o texto no seu contexto original, depois no contexto integral da Escritura e um outro passo ainda é analisá-lo diante da história da própria interpretação. Esta última etapa passa pela Igreja primitiva, pelos padres da Igreja e pelo modo como a Escritura vai sendo compreendida a partir dos tempos.
“Não podemos esquecer um aviso de João Paulo II, Bento XVI, para que os exegetas não tentem colocar o texto no passado e deixá-lo só no passado; explicar o que significava num primeiro momento e esquecer que é um texto vivo”.
O especialista explica que houve um tempo em que a exegese era praticamente científica e, portanto, inacessível à grande maioria das pessoas. Porém, ele destaca que o trabalho de um exegeta não deve ser voltado somente para eles mesmos, mas sim chegar ao povo de Deus.
Padre Xavier explica que um dos pontos mais importantes da exegese é fornecer uma interpretação mais genuína dos textos bíblicos e esclarecer as passagens consideradas complicadas. “Alimentamos, digerimos, trabalhamos, depois simplificamos para explicar ainda de forma profunda, mas sem necessidade dessas ciências”.
O que diferencia o trabalho de estudo sobre a Sagrada Escritura de qualquer outra obra antiga é a perspectiva de fé. Para o padre, a primeira característica que um exegeta precisa ter é respeito pela Escritura como Palavra de Deus. Ele destaca ainda que a intenção de explicar com mais profundidade a Palavra vem do amor pela própria Palavra. “Uma vez que se deve explicar porque existe a fé, se ela não existir na pessoa do exegeta, sua própria interpretação já vai estar marcada por uma tendência ideológica.”
O padre afirma que a exegese é um trabalho recompensante. Ele ressalta que as ciências bíblicas, apesar de darem um auxílio, não dão o domínio do texto, de forma que mesmo esses recursos não podem explicar totalmente pontos importantes e fundamentais.
“Isso é bom, porque mostra que realmente a Palavra de Deus continua sendo Palavra de Deus, não é possível ninguém chegar e dizer: ‘é isso aqui e acabou’. Não se pode olhar as Escrituras como se fosse um código de leis porque realmente se percebe que é um diálogo.”
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