Ciudad Juárez já foi considerada o lugar mais perigoso do planeta; índices de violência melhoraram, mas local ainda tem marcas de hostilidade
Da Redação, com Rádio Vaticano Nesta quarta-feira, 17 o Papa Francisco se despede do México. Pela manhã o Santo Padre deixa a Nunciatura Apostólica que foi a sua casa nos últimos seis dias e se dirigie para a última etapa desta viagem que o levou a Cidade do México, Chiapas e Morelia.
Hoje o Papa encontra os fiéis de Ciudad Juárez, uma cidade de 1 milhão e 219 mil habitantes.
Sobre a cidade
Fundada em 1659 com o nome “El Paso del Norte” por exploradores espanhóis que buscavam uma estrada através das Montanhas Rochosas, a cidade foi durante mais de dois séculos a única passagem terrestre, ponte, sobre o Rio Grande para entrar do México ao Texas, nos Estados Unidos. Hoje é a quinta maior cidade do México e um centro industrial com um forte desenvolvimento.
Violência
Cinco anos atrás a cidade foi catalogada como o lugar mais perigoso do planeta devido ao seu alarmante índice de homicídios por cada cem mil habitantes, que era 36 vezes mais alto que a média mundial. Porém nas últimas estatísticas de 2015 Ciudad Juárez conseguiu sair da lista que chegou a ocupar o primeiro lugar das 50 metrópoles mais violentas do planeta.
Foi alto o preço que a cidade teve que pagar na transição de ser a cidade mais violenta do mundo a se tornar modelo a ser seguido para os lugares que procuram diminuir os crimes de alto impacto. Seus habitantes antes de alcançar uma relativa paz, sepultaram em seu deserto cerca de 7.500 jovens entre 2008 e 2011, assassinados na guerra do narcotráfico viram agredidos funcionários honestos que tentavam vencer a criminalidade.
Em 2010 a cidade tocou o fundo com um índice de homicídios dolosos com 253 para cada cem mil habitantes, 6.500 lojas foram extorquidas, registrou-se entre 7 e 10 sequestros por dia e foram roubados 18.500 veículos, segundo o Departamento de segurança local.
Luta pela paz
Enquanto a cidade estava aterrorizada, a guerra recrudecia, e o próprio chefe da polícia local era preso e enviado a uma prisão dos Estados Unidos por suas ligações com o crime organizado, surgiam jovens dispostos a fazer a sua parte e desmantelar as redes criminosas. Os jovens formaram a unidade de elite anti-extorsões com o objetivo de melhorar a cidade. Três foram mortos, e no funeral de um deles, o pai do jovem assassinado disse: “por favor não voltem atrás, lutem, meu filho deu a vida tentando erradicar esse crime, não deixem impue a sua morte”.
Este fato doloroso serviu para aumentar o compromisso de muitos empresários. Enquanto cerca de 230 mil pessoas fugiam da cidade por causa da violência, outras milhares estavam dispostas a lutar pela cidade e pela paz.
Além dos empresários e da comunidade local, os ativistas também começaram a realizar um grande trabalho para deter a criminalidade e reverter essa violência que estava levando a sociedade a “pisar no sangue” como diziam alguns habitantes de Ciudad Juárez.
Assim, universidades, empresários, sociedade civil e autoridades se uniram para formar a Mesa de Segurança e Justiça de Ciudad Juárez que com estratégias comuns conseguiram recuperar a cidade dos crimes e das violências.
Em setembro do ano passado, Ciudad Juárez completou 27 meses sem registro de um só sequestro. E apesar dos crimes de alto impacto tenham diminuido de maneira drástica, de acordo com as autoridades locais, o Observatório de Chihuahua dos direitos humanos, afirma que grande parte da população continua sendo vítima de crimes de foro comum, como roubos de casas, veículos e assaltos.
A cidade é a passagem obrigatória para milhares de imigrantes mexicanos que buscam o “sonho americano”.
É esta a realidade que Francisco visitará nesta quarta-feira. O Papa vai ao encontro dos habitantes de uma cidade que ainda tem as feridas abertas pela violência.
Compromissos do Papa
Como bálsamo para aliviar seu pesar e trazer esperança o “missionário da misericódia e da paz” visitará o Centro de Readaptação Social estatal N.3 de Ciudad Juárez, onde encontrará cerca de 700 detentos. O Centro acolhe cerca de 3 mil pessoas. No México existem 437 prisões e uma população carcerária de mais de 90 mil.
Francisco encontra ainda hoje o mundo do trabalho e celebra a Santa Missa na linha de fronteira internacional entre o México e os Estados Unidos, que deverá ter a presença de 230 mil pessoas.
Cerca de 20 oraganizações da sociedade civil do Estado de Chihuahua pediram que não se ocultem do Papa Francisco a realidade de violência que ainda vive a cidade. Foram dados passos – afirmam – mas isso não é um pretexto para esconder que ainda existem problemas como a impunidade nos massacres passados, o tráfico de mulheres e a violência e desaparecimentos provocados pelo crime organizado.
Hoje o encontro com os encarcerados, com o mundo do trabalho e a missa “missa binacional”. Francisco escolheu Ciudad Juárez porque é um lugar muito simbólico de uma sociedade que está lutando contra a violência, onde a migração é um tema importante.
Todos desejam do Papa uma mensagem que possa dar tranquilidade e paz aos corações dos habitantes de lugar martirizado e que a mensagem e oração de Francisco cheguem a todos, grandes e pequenos.