Papa rezou o Angelus deste domingo da Biblioteca do Palácio Apostólico; oração foi transmitida ao vivo
Da redação, com Vatican News
Um Angelus “um pouco estranho” em tempo de coronavírus: o Papa fez sua tradicional alocução dominical não da janela do Palácio Apostólico, mas na Biblioteca, “enjaulado”, como disse Francisco logo no início da transmissão.
Os telões na Praça São Pedro mostraram ao vivo este momento, com a presença de algumas centenas de fiéis. A medida foi tomada, como explicou o Pontífice, o para evitar aglomerações que, neste período, podem favorecer a transmissão do vírus.
Dimensão ultraterrena de Jesus
Sem os aplausos e a interação dos fiéis, o Pontífice comentou o Evangelho deste segundo Domingo da Quaresma (cfr Mt 17,1-9), que apresenta a narração da Transfiguração de Jesus.
Cristo toma consigo Pedro, Tiago e João e os leva para uma alta montanha, símbolo da proximidade com Deus, para abri-los a uma compreensão mais plena do mistério da sua pessoa. Jesus diz a eles dos sofrimentos, da morte e da ressurreição que o aguardavam, mas os discípulos não conseguiam aceitar aquela perspectiva. Por isso, já no topo da montanha, Jesus se imergiu em oração e se transfigurou diante dos três: “o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas ficaram brancas como a luz” (v. 2).
Através do evento maravilhoso da Transfiguração, explicou o Papa, os três discípulos são chamados a reconhecer em Jesus o Filho de Deus. “Assim, eles avançam no conhecimento do seu Mestre, dando-se conta que o aspecto humano não expressa toda a sua realidade; aos olhos deles, é revelada a dimensão ultraterrena e divina de Jesus.”
E os discípulos são convidados a ouvi-lo e segui-lo.
Os desígnios de amor
Francisco destacou que, em meio ao grupo dos Doze, Jesus escolhe Pedro, Tiago e João. Reserva a eles o privilégio de assistir à transfiguração, “não porque eram os mais santos”. E mesmo assim, na hora da provação, Pedro o renegará; e os dois irmãos Tiago e João pedirão para ter os primeiros lugares no seu reino.
O Papa recordou que Jesus não escolhe segundo os nossos critérios, mas segundo o seu desenho de amor. “Trata-se de uma escolha gratuita, incondicionada, uma iniciativa livre, uma amizade divina que não pede nada em troca.”
E assim como chamou aqueles três discípulos, também hoje chama algumas pessoas para que estejam próximas a Ele, para poder testemunhar.
“Ser testemunhas é um dom que não merecemos: nos sentimos inadequados, mas não podemos nos furtar com a desculpa da nossa incapacidade.”
Testemunhar é um dom do Espírito
Não estivemos no monte Tabor, prosseguiu Francisco, não vimos com os nossos olhos o rosto de Jesus brilhar como o sol. Todavia, também a nós foi entregue a Palavra da salvação, foi doada a fé. Também a nós Jesus diz: “Levantai-vos e não tenhais medo”.
“Neste mundo, marcado pelo egoísmo e pela avidez, a luz de Deus está ofuscada pelas preocupações do cotidiano. Dizemos com frequência: não tenho tempo para rezar, não sou capaz de realizar um serviço na paróquia, de responder aos pedidos dos outros… Mas não devemos nos esquecer que o Batismo que recebemos faz de nós testemunhas, não pela nossa capacidade, mas pelo dom do Espírito.”
O Papa concluiu pedindo a intercessão da Virgem Maria para que, no tempo propício da Quaresma, nos dê a docilidade ao Espírito, que é “indispensável para nos encaminhar de maneira resoluta no caminho da conversão”.