Francisco recebeu integrantes da Comunidade Laudato si’, grupo que difunde temas de ecologia centrados na encíclica assinada pelo Santo Padre
Da redação, com Vatican News
No final da manhã deste sábado, 12, o Papa Francisco recebeu na Sala Paulo VI cerca de 250 participantes das Comunidade Laudato si’ que difundem, na Itália e no mundo, os temas da ecologia integral através de atividades concretas, conferências e publicações.
Vocês colocaram a ecologia integral proposta pela encíclica Laudato si’ como a força propulsora de todas as suas iniciativas. Integral, porque somos todos criaturas e tudo na criação está em relação, tudo está relacionado. Na verdade, ouso dizer: tudo é harmônico. Até mesmo a pandemia demonstrou isso: a saúde do ser humano não pode ser separada da saúde do ambiente em que ele vive. Também é evidente que as mudanças climáticas não só perturbam o equilíbrio da natureza, mas também causam pobreza e fome, afetam os mais vulneráveis e, às vezes, obriga-os a deixar suas terras. A falta de cuidado com a criação e as injustiças sociais se influenciam reciprocamente: pode-se dizer que não há ecologia sem equidade e que não há equidade sem ecologia.
Seguindo o exemplo de São Francisco de Assis, as Comunidades Laudato si’ são motivadas “a cuidar dos últimos e da criação” e se comprometem “a salvaguardar a nossa Casa comum”, disse o Papa, acrescentando:
Esta é uma tarefa que diz respeito a todos, especialmente os responsáveis pelas nações e atividades produtivas. É necessária uma vontade real para enfrentar na raiz as causas das atuais mudanças climáticas. Não são suficientes compromissos genéricos, palavras e palavras, e não se pode olhar apenas para o consentimento imediato dos próprios eleitores ou financiadores. É preciso olhar distante, caso contrário, a história não perdoará. É preciso trabalhar hoje para o amanhã de todos. Os jovens e os pobres vão nos pedir conta.
A seguir, o Papa citou duas palavras-chave da ecologia integral: contemplação e compaixão.
Contemplação
“Hoje, a natureza que nos circunda não é mais admirada, contemplada, mas “devorada”. Tornamo-nos vorazes, dependentes do lucro e dos resultados imediatos a qualquer custo. O olhar sobre a realidade é cada vez mais rápido, distraído, superficial, enquanto em pouco tempo as notícias e as florestas se queimam”, disse ainda o Papa.
Doentes de consumo, esta é a nossa doença, doentes de consumo, nos preocupamos em ter o último “aplicativo”, mas não sabemos mais os nomes de nossos vizinhos, muito menos sabemos distinguir uma árvore da outra. E o que é mais grave, com este estilo de vida se perdem as raízes, se perde a gratidão por aquilo que tem e por quem nos deu.
“Para não esquecer, é preciso voltar à contemplação; para não nos distrair com mil coisas inúteis, é preciso reencontrar o silêncio; para que o coração não fique doente, é preciso parar. Não é fácil. É necessário, por exemplo, libertar-se da prisão do telefone celular, para olhar nos olhos quem está ao nosso lado e a criação que nos foi doada.”
“Contemplar é dar-se tempo para ficar em silêncio, para rezar, para que na alma retorne a harmonia, o equilíbrio saudável entre cabeça, coração e mãos, entre pensamento, sentimento e ação. A contemplação é o antídoto para as escolhas precipitadas, superficiais e inconclusivas. Quem sabe contemplar não fica com as mãos paradas, mas faz algo concreto. A contemplação leva à ação”, sublinhou ainda Francisco.
Compaixão
Segundo o Papa, a compaixão “é o fruto da contemplação. Como se entende que alguém é contemplativo, que assimilou o olhar de Deus? Se tem compaixão pelos outros, se vai além das desculpas e teorias, para ver nos outros irmãos e irmãs para amar. Esta é a prova, e o mesmo acontece com o olhar de Deus que, apesar de todo o mal que pensamos e fazemos, sempre nos vê como filhos amados. Ele não vê indivíduos, mas filhos, nos vê irmãos e irmãs de uma única família, que mora na mesma casa. Nunca somos estranhos aos seus olhos. A sua compaixão é o oposto de nossa indiferença. A compaixão é o contrário da indiferença”.
Vale também para nós: a nossa compaixão é a melhor vacina contra a epidemia da indiferença. “Não me diz respeito”, “não me importa”, “não me interessa”: estes são os sintomas da indiferença. Quem tem compaixão passa do “não me importo com você” ao “você é importante para mim”. A compaixão não é um sentimento bonito, não é pietismo, é criar um novo vínculo com o outro. É assumir, como fez o bom Samaritano que, movido pela compaixão, cuida daquela vítima que nem mesmo conhece.
Francisco ressaltou que “o mundo precisa dessa caridade criativa e ativa, de pessoas que não estão diante de uma tela para comentar, mas que sujam as mãos para remover a degradação e restabelecer a dignidade. Ter compaixão é uma escolha: é escolher não ter nenhum inimigo para ver o meu próximo em cada um. Isso não significa amolecer e parar de lutar. Pelo contrário, quem tem compaixão entra numa dura luta cotidiana contra o descarte e o desperdício, o descarte dos outros e o desperdício das coisas”.
O Pontífice disse que dói pensar nas pessoas são descartadas sem compaixão: idosos, crianças, trabalhadores, pessoas com deficiência, e que “o desperdício das coisas é escandaloso”.
A FAO documentou que, nos países industrializados, mais de um bilhão de toneladas de alimentos comestíveis são jogados fora em um ano! Vamos nos ajudar e lutar juntos contra o descarte e o desperdício. Esta é a realidade. Vamos exigir escolhas políticas que combinem progresso e equidade, desenvolvimento e sustentabilidade para todos, para que ninguém seja privado da terra em que vive, do bom ar que respira, da água que tem o direito de beber e do alimento que tem o direito de comer.
Francisco concluiu o seu discurso, convidando a “trabalhar como irmãos e construir a fraternidade universal. Este é o momento. Este o desafio de hoje”.