Semana Nacional da Família, no mês vocacional, vai até o dia 20 de agosto; o pontificado de João Paulo II ficou marcado, entre outros, pela promoção dos temas da vida e família
Mauriceia Silva
Da Redação
A Igreja no Brasil está vivenciando a Semana Nacional da Família, como espaço de reflexão e diálogo em defesa e promoção da família. Um dos documento mais recentes da Igreja nessa temática é a exortação apostólica Amoris Laetitia, do Papa Francisco, que trata do amor na família. Mas não é de hoje que a temática está no seio da atenção da Igreja.
Em seu pontificado, o Papa João Paulo II, hoje santo da Igreja, ficou conhecido por promover os temas de vida e família. Ele publicou a Exortação Apostólica Familiaris Consortio, a Carta Encíclica Evangelium Vitae e a Carta às famílias no Ano da Família em 1994. Além disso, São João Paulo II também foi o idealizador do Encontro Mundial das Famílias. Por todas essas iniciativas, ficou conhecido como o “Papa das famílias”.
O professor de História da Igreja, Felipe Aquino, explica que são vários os documentos dos Papas sobre a família, além dos ensinamentos do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja, (nn.2201 a 2257) que falam de diversas temáticas. Dentre elas estão: os deveres da família para com os jovens e idosos, os deveres dos pais, os deveres dos filhos, o direito de formar uma família, a educação e a evangelização dos filhos, as ofensas à família, a oração em família, os perigos que ameaçam a família, a preparação para formar uma família.
Segundo Aquino, na Exortação Apostólica Familiaris Consortio, São João Paulo II coloca os fundamentos da família cristã. Na Carta às Famílias, mostra as grandes ameaças existentes contra a família (divórcio, aborto, eutanásia, manipulação de embriões, uniões livres, coabitação sem matrimônio, controle da natalidade por meios artificiais, etc.).
A mestre em Antropologia e psicóloga Maria Celia dos Reis Silva estuda os documentos e a vida de São João Paulo II desde 2008. Segundo Maria Célia, o próprio João Paulo II dizia que queria ser lembrado como o Papa da família e dos jovens, quando perguntavam para ele.
“Quando ele era padre em Cracóvia juntava os jovens, as famílias para as montanhas, ali esquiavam, contemplavam a natureza e ele os ensinava sobre a fé, sobre o amor humano. Ele era um pastor de fato, fazia-se família com suas ovelhas. Seus escritos, sua vida era um grito de defesa da dignidade humana, do amor autêntico, uma visão integral da pessoa humana.”
Casal cristão: santidade conjunta
Na Familiaris Consortio, São João Paulo II reitera que, se no plano individual, o objetivo do cristão é tornar-se santo, então o objetivo do casal cristão é santificar-se junto.
“Cada família vai descobrindo sua vocação à santidade. Conforme os sofrimentos chegam, eles apontam para onde está a nossa missão nesse mundo, onde precisamos crescer na nossa capacidade de amar. Portanto, já que o sofrimento é inerente à vida, já diria um filósofo que gosto muito, Kierkegaard, que só temos que escolher por quem vale a pena sofrer! Eu penso que por tudo isso o compromisso do matrimônio nos empurra a amadurecer!”, afirma Maria Celia.
O Professor Felipe Aquino recorda que o Papa São João Paulo II esforçou-se para mostrar que há muitos casais santos. Por isso, canonizou no mesmo dia tanto o pai quanto a mãe de Santa Teresinha.
“Há muitos casais beatificados e canonizados. No livro “Matrimônios santos”, do padre Thomas Kraft, se fala da vida de 12 casais que foram beatificados ou canonizados. Isto mostra que a vida matrimonial é um caminho de santificação para os cônjuges se eles vivem os Mandamentos da Lei de Deus e fazem a vontade de Deus na vocação matrimonial”, conta o professor de História da Igreja.
Oração familiar
Ainda na Familiaris Consortio, vemos o seguinte trecho: “A dignidade e a responsabilidade da família cristã como Igreja doméstica só podem pois ser vividas com a ajuda incessante de Deus, que não faltará”. Esse texto elucida que também a oração familiar teve o seu lugar de destaque nos documentos de São João Paulo II e é o que também recorda Maria Célia:
“Os pais são os sacerdotes do lar e marcam no coração dos filhos essa confiança em Deus e essa intimidade real, uma vida permeada de oração e uma oração permeada de vida que nada é capaz de arrancar. O Papa destaca que é na família que se conduz as crianças ao altar da Santa Missa, mas também ao rosário e a toda riqueza da nossa fé.”
Família, Santuário da Vida
O Concílio Vaticano II já havia chamado a família de “Igreja Doméstica”. Na carta às Famílias, São João Paulo II chama as famílias de “Santuário da Vida”.
O Professor Felipe ensina que a palavra santuário vem de “santus” (santo) e “ário” (lugar). Então, o Papa quis mostrar que a família é um lugar santo, como um santuário onde se entra em silêncio e respeito para rezar.
“Um lugar onde a vida deve ser amada, desejada, bem cuidada, longe de se praticar o aborto, a eutanásia, a manipulação de embriões, de ofensas, brigas, adultérios, infidelidades de todo tipo, e tudo mais que fere a sua sacralidade. Um lugar onde Deus é amado, servido, adorado e respeitado”, explica o professor.
“São João Paulo II, o doutor da Família”
Dom José Ruy Gonçalves Lopes é bispo de Caruaru (PE). Ele conta que foi da primeira turma do Instituto da Família, em Salvador. Ele assistiu à aula inaugural com Dom Lucas que, pela sua amizade e proximidade com São João Paulo II, se referia exatamente a esse carinho que João Paulo II tinha com as famílias.
“Durante a aula Magna, Dom Lucas, por revelação de Deus ou por uma intuição afirmou: ‘Um dia, João Paulo II quando partir para a eternidade será canonizado, será reconhecido como santo. E depois, um dia também, a Igreja haverá de dar a ele, um título, assim como Tomás de Aquino é o Doutor Angélico, assim como Bernardo de Claraval é o Doutor Melífluo, São João Paulo II será o Doutor da Família’,” contou Dom Ruy.
O bispo de Caruaru observa que a primeira parte já se cumpriu, e que agora aguarda que se cumpra o restante do que falou Dom Lucas. “A segunda nós estamos esperando. Porque de fato a família vem sendo atacada, como sempre foi, mas a gente confia, a gente crê na graça de Deus, mas a Igreja também cumpre o seu papel de ajudar a família a viver aquilo que ela é, a sua identidade entre marido e mulher, esposos e filhos. Isso não é apenas um vínculo de amor, mas é também a graça de Deus”, concluiu.