O Papa Bento XVI respondeu às perguntas e partilhas de vida de seis prisioneiros da Penitenciária de Rebibbia, em Roma, durante a visita que fez neste domingo, 18. A fala do Santo Padre não obedeceu a nenhum roteiro pré-definido e foi caracterizada pela proximidade e solidariedade com a situação dos detidos, destacando-se o clima de afeto na Igreja do Pai Nosso, localizada no interior do complexo prisional.
A situação das prisões italianas; o pedido de intercessão pelo sofrimento dos detidos; o desejo de retorno à família; o preconceito disseminado com relação aos presos; dúvidas sobre a absolvição dos pecados e o poder da oração dos pobres foram os aspectos ressaltados pelos prisioneiros em suas perguntas.
"Penso com frequência em vós e rezo sempre por vós, porque sei que estão em uma condição muito difícil que, muitas vezes, ao invés de ajudar a renovar a amizade com Deus e com a humanidade, torna a situação ainda pior, também no íntimo. Venho, sobretudo, para mostrar-vos a minha proximidade pessoal e íntima, na comunhão com Cristo, que vos ama. […] Nas minhas orações, estou sempre convosco. Sei que, para mim, é uma obrigação particular rezar por vós, puxá-los, por assim dizer, ao Senhor", destacou.
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.: NA ÍNTEGRA: Respostas de Bento XVI
.: Justiça perfeita é animada pelo amor, diz Papa em prisão de Roma
O Bispo de Roma destacou que o sentido das prisões é precisamente ajudar a justiça, e a justiça implica como primeiro fato a dignidade humana. "Portanto, devem ser construídas de tal modo que cresça a dignidade, que seja respeitada a dignidade e vós possais renovar em vós mesmos o sentido de dignidade, a fim de responder melhor a essa vocação íntima".
Outro detento indicou que, mais que uma pergunta, preferia pedir ao Papa que leve consigo os seus sofrimento e o dos seus familiares, como um "cabo elétrico que se comunica com o Senhor".
"'Visitastes-me na prisão e era eu que vos esperava'. Essa identificação do Senhor com os prisioneiros exige profundamente de nós e eu mesmo devo me perguntar: Agi de acordo com esse imperativo do Senhor? Tive presente essa palavra do Senhor? Essa é uma razão pela qual eu vim, porque sei que o Senhor está esperando por mim em vós. […] Convido também os outros a unir-se convosco na oração e, assim, encontrar uma espécie de corda que segue rumo ao Senhor".
Já um prisioneiro do setor da enfermaria destacou que, na maioria das vezes em que se fala dos presos, é de modo tão feroz, como que a querer eliminá-los da sociedade.
"É importante essa coragem de levantar-se, de andar adiante com o auxílio do Senhor e com o auxílio de todos os amigos. Devemos suportar que alguns falem de modo feroz, falam de modo feroz também contra o Papa e ainda assim seguimos em frente. Devemos cooperar com o espírito de fraternidade e de reconhecimento também da própria fragilidade, para que possais realmente vos levantar e seguirdes em frente com dignidade e encontreis sempre respeitada a vossa dignidade".
Absolvição dos pecados e oração dos pobres
O tema da absolvição dos pecados esteve ao centro da pergunta de um dos detentos: "Santidade, foi-me ensinado que o Senhor vê e lê o nosso interior. Pergunto-me porque a absolvição foi delegada aos padres? Se eu a pedisse de joelhos, sozinho, dentro de um quarto, dirigindo-me ao Senhor, me absolveria? Ou seria uma absolvição com um valor diferente? Qual seria a diferença?"
O Papa respondeu que sempre foi Doutrina da Igreja que, se alguém, com verdadeiro arrependimento, isto é, não somente para evitar as penas e dificuldades, mas por amor ao bem, por amor a Deus, pede perdão, recebe o perdão de Deus. "Mas há um segundo elemento: o pecado não é somente algo 'pessoal', individual, entre mim e Deus; o pecado tem sempre também uma dimensão social, horizontal. […] Essa dimensão social, horizontal do pecado, exige que seja absolvido também no nível da comunidade humana, da comunidade da Igreja, quase corporalmente. […] Exige o sacramento. Nesse sentido, a absolvição requerida da parte do sacerdote, o sacramento, não é uma imposição que limita a bondade de Deus, mas, ao contrário, é uma expressão da bondade de Deus, porque me demonstra que também concretamente, na comunhão da Igreja, recebi o perdão e posso recomeçar de novo. Penso que devemos aprender a compreender o sacramento da penitência neste sentido: a possibilidade de encontrar, quase corporalmente, a bondade do Senhor, a certeza da reconciliação".
Por fim, um preso de origem africana questionou por que os pobres, que colocam sua esperança e fé em Deus, morrem em meio à pobreza e violência. "Por que Deus não lhes escuta? Será que Deus escuta somente aos ricos e poderosos que, ao contrário, não tem fé?", questionou.
Na resposta, Bento XVI recordou sua recente viagem apostólica ao Benin, em novembro passado, quando entregou a Exortação apostólica pós-sinodal Africae Munus, dizendo que viu, em um país que sofre, mais alegria do que nos países ricos.
"E isso também me faz pensar que, nos países ricos, a alegria está muitas vezes ausente, estamos todos totalmente ocupados com muitos problemas: com a massa das coisas que temos, somos cada vez mais afastados de nós mesmos e desta experiência original de que Deus existe e é próximo a mim; e, por isso, diria que ter grande propriedade e ter poder não torna necessariamente alguém feliz, não é o maior presente. Também podem ser, digamos, algo ruim, que me impede de viver verdadeiramente. As medidas de Deus, os critérios de Deus, são diferentes dos nossos, Deus dá também a esses pobres alegria".
No entanto, todos são chamados a fazer todo o possível para sair dessas escuridão das doenças, da pobreza. "É tarefa nossa e assim, ao fazer isso, também nós podemos nos tornar mais alegres. […] Nós devemos também ajudar para que também a África, esses países pobres, possam encontrar a superação desses problemas, da pobreza, ajudá-los a viver, e que eles possam ajudar-nos a compreender que as coisas materiais não são a última palavra. E devemos rezar a Deus: mostra-nos, ajuda-nos, para que haja justiça, para que todos possam viver na alegria de ser teus filhos!".
Por fim, um prisioneiro recitou uma oração de sua autoria, intitulada "Oração atrás das grades":
Ó, Deus, dá-me a coragem de chamar-te de Pai.
Sabes que nem sempre chego a pensar em ti com a atenção que mereces.
Tu não te esqueces de mim, mesmo quando vivo distante da luz do teu rosto.
Faze-te próximo, apesar de tudo, apesar do meu pecado, grande ou pequeno, secreto ou público que seja.
Dá-me a paz interior, aquela que somente tu sabes dar.
Dá-me a força de ser verdadeiro, sincero; arranca do meu rosto as máscaras que obscurecem a consciência de que eu tenho valor somente porque sou teu filho. Perdoa as minhas culpas e dá-me ao mesmo tempo a possibilidade de fazer o bem.
Encurta minhas noites de insônia; dá-me a graça da conversão do coração.
Recorda-te, Pai, daqueles que estão fora daqui e que ainda me querem bem, para que, pensando neles, recorde-me que somente o amor dá vida, enquanto o ódio destrói e o rancor transforma em inferno as longas e intermináveis jornadas.
Recorda-te de mim, ó Deus. Amém!
Por fim, o Papa abençoou uma árvore plantada diante da igreja, como recordação da visita, e retornou ao Vaticano, onde o aguardavam os fiéis reunidos por ocasião da tradicional oração mariana do Angelus.