Solidariedade

Justiça perfeita é animada pelo amor, diz Papa em prisão de Roma

Alegria e comoção foram as marcas da visita de Bento XVI à Penitenciária de Rebibbia, na periferia de Roma, neste domingo, 18. O encontro com os cerca de 300 presos e funcionários aconteceu na Igreja do Pai Nosso, dentro do complexo prisional.

"Nossa justiça será tanto mais perfeita quanto mais for animada pelo amor por Deus e pelos irmãos", destacou o Pontífice.

O Bispo de Roma começou seu discurso com um trecho do Evangelho de São Mateus – "Estava na prisão e viestes a mim" (Mt 25,36) -, destacando qual a principal razão que o deixou feliz por estar entre os presos para rezar, dialogar e escutar. "Onde quer que haja um faminto, um estrangeiro, um doente, um prisioneiro, ali está o Cristo mesmo, que espera a nossa visita e o nosso auxílio".

Ao recordar que a Igreja sempre incluiu, entre as obras de misericórdia corporal, a visita aos prisioneiros, Bento XVI expressou seu desejo de poder se colocar em escuta da história pessoal de cada um.

"Mas, infelizmente, não é possível; venho, no entanto, dizer-vos simplesmente que Deus vos ama com um amor infinito, e sois sempre filhos de Deus. E o mesmo Unigênito Filho de Deus, o Senhor Jesus, fez a experiência do cárcere, submeteu-se a um juízo diante de um tribunal e à mais feroz condenação à pena capital", sublinhou.

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.: NA ÍNTEGRA: Discurso de Bento XVI
.: Bento XVI responde perguntas de presos: "Rezo sempre por vós"

O Pontífice ressaltou que a vida humana pertence a Deus somente, e que essa não está abandonada à mercê de ninguém, nem mesmo ao  livre arbítrio do homem. Além disso, indicou que conhece a situação de superlotação e a degradação dos cárceres, que podem tornar ainda mais amarga a detenção.

"É importante promover um desenvolvimento do sistema carcerário, que, ainda que no respeito da justiça, seja sempre mais adequado às exigências da pessoa humana, com o recurso também às penas não detentivas ou a modalidades diferentes de detenção", afirmou.

Justiça e misericórdia

"A justiça humana e a divina são muito distintas", apontou, destacando que os homens não são capazes de aplicar a justiça divina, mas devem, ao menos, olhar para essa e buscar captar o espírito profundo que a anima, para que ilumine também a justiça humana, evitando que o prisioneiro torne-se um excluído.

"Deus, de fato, é Aquele que proclama a justiça com força, mas que, ao mesmo tempo, cura as feridas com o bálsamo da misericórdia".

Uma Parábola do Evangelho de Mateus (20,1-16) faz compreender em que consiste essa diferença entre a justiça humana e a divina, porque ali se torna explícita a delicada relação entre justiça e misericórdia. No texto, o dono da vinha chama trabalhadores em diferentes horários do dia, mas dá a todos o mesmo pagamento, ao final da jornada, inclusive àqueles que trabalharam por somente uma hora. "Na óptica humana, essa decisão é uma autêntica injustiça; na óptica de Deus, um ato de bondade, porque a justiça divina dá a cada um o que é seu e, também, compreende a misericórdia e o perdão".

"Justo, para nós, é 'aquilo que é ao outro devido', enquanto misericordioso é aquilo que é dado por bondade. E uma coisa parece excluir a outra. Mas, para Deus, não é assim: n'Ele, justiça e caridade coincidem; não há uma ação justa que não seja também um ato de misericórdia e de perdão e, ao mesmo tempo, não há uma ação misericordiosa que não seja perfeitamente justa", explicou o Santo Padre.

Nesse sentido, é distante a lógica de Deus da do homem e também muito diferente o modo de agir de cada um.

"A Igreja apoia e encoraja todo o esforço direto para garantir a todos uma vida digna. Estais seguros de que eu estou próximo a cada um de vós, às vossas famílias, aos vossos filhos, aos vossos jovens, aos vossos anciãos e vos levo a todos no coração diante de Deus", ressaltou.

Ao final, o Santo Padre respondeu a algumas perguntas e partilhou sobre aspectos da vida de alguns detentos. O encontro terminou com a "Oração atrás das grades", composta por um dos detentos, e com a recitação do Pai-Nosso e a Bênção Apostólica. Por fim, o Papa abençoou uma árvore plantada diante da igreja, como recordação da visita, e retornou ao Vaticano, onde o aguardavam os fiéis reunidos por ocasião da tradicional oração mariana do Angelus.

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