Presidente e assessora da REPAM explicam fases do processo sinodal; Sínodo da Amazônia acontecerá em outubro
Denise Claro
Da redação
Nesta terça-feira, 19, o presidente da REPAM, Dom Cláudio Hummes, fará uma palestra na PUC/SP sobre o tema do Sínodo de outubro: “Amazônia: novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral”.
Dom Cláudio afirma que a importância de se tratar esse assunto no meio acadêmico é justamente por envolver todas as realidades da sociedade nessa reflexão:
“Esse tema interessa a toda a Igreja e o Papa tem insistido nisso. Essa escuta não é só do povo, mas também de especialistas, de estudos mais profundos, para que as decisões do Sínodo tenham embasamento científico, bíblico, histórico, cultural.”, diz Dom Cláudio.
Fases do Sínodo
A ‘escuta’ a que o cardeal se refere é uma das fases do processo sinodal. Após o anúncio feito pelo Papa, em 2017, de que haveria um Sínodo para a Amazônia, foi feito um documento preparatório, por um conjunto de especialistas da América Latina e de Roma, que continha uma série de perguntas.
A antropóloga e assessora da REPAM/Brasil, Moema Miranda, explica que este questionário foi distribuído para toda a Pan-Amazônia, e a partir dele, realizado este grande processo de escuta:
“Foram mais de 250 atividades organizadas em toda a região, como assembleias territoriais, rodas de conversa, fóruns temáticos, de diferentes naturezas envolvendo povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, os moradores das cidades, universidades, todas as pastorais, catequese… um processo muito bonito. E essa escuta se consolidou então num conjunto de documentos enviado pra REPAM, que fez um registro muito rigoroso dessas respostas para o sínodo.”
Dom Cláudio ressalta que esta fase de escuta vai até o dia 28 de fevereiro, e explica as demais etapas:
“Neste momento, nesta semana estamos vivendo o fechamento dessa fase de escuta. Os sínodos começam com este questionário enviado também para os bispos da região em questão, que neste caso são os nove países que compõem a região pan-amazônica. Nesses últimos meses então vivemos esta fase de escuta, um grande movimento dos últimos meses, e termina agora, sendo feita uma síntese do que resultou dessa escuta. Essa síntese vai para Roma, para o conselho Pré-Sinodal, e até maio será elaborado o novo documento que será entregue aos padres sinodais. Essa é a próxima fase. De maio a outubro, a última fase, em que os bispos poderão estudar, fazer consultas a especialistas, para que possam se preparar para o Sínodo.”
Desde o dia 11 de fevereiro até ontem, os assessores da REPAM e os membros do Conselho Sinodal estiveram reunidos para fazer a síntese do material produzido durante os eventos de escuta. Moema esteve bem de perto neste trabalho, e já consegue ver alguns frutos:
“Foi uma semana muito produtiva, pois a voz que vem das comunidades é uma voz de alegria pela presença da Igreja, mas também de chamado para que a Igreja esteja mais presente ao lado dos povos em suas lutas. É muito bom ver que o Sínodo desperta em toda a Igreja um grande entusiasmo de participar, mostrar que os povos da Amazônia respondem ao chamado do Papa. Os frutos são uma imensa participação das comunidades, uma Igreja Sinodal, uma Igreja que escuta, e os bispos como pastores dessa Igreja.”
Expectativa para o Sínodo
Dom Cláudio Hummes recorda que, ao fazer o anúncio para o Sínodo, o Papa expressou dois objetivos fundamentais:
“O primeiro é buscar novos caminhos, e não somente animar os antigos. Novos caminhos para a Igreja na Amazônia como Igreja missionária, profética, misericordiosa, mas também buscar novos caminhos para a proteção da própria Amazônia, essa questão ecológica, climática, da devastação da Amazônia. Então são dois grandes eixos, a própria Igreja e a questão da Amazônia como região muito importante para o planeta e que está sendo mais ameaçada do que nunca. Esse Sínodo vem ao encontro desse grito dos povos e do grito da natureza.”
Moema afirma que este sínodo é uma tentativa de articular a Laudato Sí em sua expressão mais cotidiana, mais frequente:
“O processo do Sínodo é um processo de avançar na construção de uma Igreja com rosto amazônico, é essa busca de novos caminhos. Como nós, como Igreja Universal, respondemos? Como repensamos a nossa própria casa para uma atuação mais presente em toda a sociedade no sentido de uma ecologia integral?”
O documento preparatório para o Sínodo pede a toda a sociedade que seja “guardiã” da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, “guardiões” do outro e do ambiente. O cardeal tem esperança de que este Sínodo auxilie a sociedade atual nesta missão:
“Temos uma grande expectativa, porque certamente haverá novos caminhos. A novidade suscita curiosidade e também uma certa resistência, mas é preciso não ter medo do novo. É preciso ter propostas novas, é preciso caminhar, não ficar acomodado, sentado onde se está. A Igreja deve caminhar junto com os tempos, com a história, é preciso acolher o novo, e esperamos que este Sínodo nos traga caminhos novos.”