Uma história de devoção

Santuário de Fátima celebra centenário de São João Paulo II

Nas celebrações e terços transmitidos pelos meios de comunicação social e digital, será lembrada a ligação deste Papa e Fátima

Da Redação, com Santuário de Fátima

Papa reza no Santuário de Fátima diante do túmulo dos dois Pastorinhos, Francisco e Jacinta/ Foto: Santuário de Fátima

O Santuário de Fátima celebra, nesta segunda-feira, 18, o centenário de São João Paulo II. As duas celebrações e os terços tradicionalmente rezados no Santuário, recordam a relação do Papa polonês e Nossa Senhora de Fátima.

Caia a noite na Cova da Iria, a 12 de maio de 1982, quando uma grande multidão esperava, em Fátima, a chegada de João Paulo II, o bispo vestido de branco, relatado nas memórias por Lúcia, a única vidente viva, e a que cumpriu o desejo de ver o Papa na Cova da Iria, consumando esse segredo confesso da prima, a pequena Jacinta, que, por tantas vezes, lamentou que, no meio de tanta gente que acorria a este lugar, “todos viessem menos o Papa”.

Não deixa de ser curiosa a coincidência entre o centenário do nascimento de São João Paulo II, conhecido como o Papa de Fátima, e o centenário da morte da pequena Jacinta, a mais jovem santa não mártir da Igreja e a primeira santa de Fátima. Jacinta que tinha uma predileção especial pelo Santo Padre, por quem tanto rezava.

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“Quem me dera ver o Santo Padre! Vem cá tanta gente e o Santo Padre nunca cá vem”, suspirava Jacinta, depois de rezar três ave-marias pelo Santo Padre, logo depois das Aparições de 1917, tal como recorda Lúcia na primeira memória.

“Ó meu Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores, pelo Santo Padre e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”, rezava Jacinta quando detida em Ourém oferecia o seu sofrimento pelas intenções que levava no coração.

Santa Jacinta e São João Paulo II nunca se encontraram, mas une-os uma grande devoção a Nossa Senhora, a Senhora mais brilhante que o Sol, que na Cova da Iria ganhou o nome de Senhora do Rosário de Fátima.

A devoção mariana do Papa Polaco, particularmente esta ligação “A Maria Santíssima tão cultuada e especialmente lembrada em Fátima”, como dizia no telegrama que escreveu, em maio de 1979, ao então presidente da República Portuguesa, haveria de o fazer peregrino à Cova da Iria três anos depois. E só não veio antes, ainda como arcebispo de Cracóvia, porque “as razões políticas o impediram”, mas não deixou de se fazer presente através de uma mensagem, enviada ao então bispo de Leiria por ocasião do cinquentenário das Aparições em 1967.

Se é certo que as viagens papais foram decisivas para a crescente visibilidade e internacionalização de Fátima, as três de João Paulo II em particular, bem como todo o seu pontificado, foram cruciais para o aprofundamento e estudo da mensagem e do acontecimento que lhe deu origem.

Foi, de fato, com o Papa polaco que se desenvolveram e intensificaram as relações de proximidade entre o Vaticano e Fátima.

As três viagens à Cova da Iria

Papa em uma das visitas ao Santuário / Foto: Santuário de Fátima

Logo depois do atentado de que foi vítima, na Praça de S. Pedro, em Roma, em 13 de maio de 1981, o Papa atribuiu à proteção da Virgem de Fátima o fato de ter sobrevivido aos tiros disparados pelo turco Ali Agca.

Um ano depois, desloca-se a Portugal, tendo Fátima como alvo principal da visita, com o objetivo de “agradecer à Divina Providência “.

“Venho, hoje, porque, exatamente neste mesmo dia do mês, no ano passado, dava-se, na Praça de São Pedro, em Roma, contra a vida do Papa que, misteriosamente, coincidia com o aniversário da primeira aparição em Fátima. Essas datas se encontraram entre si de tal maneira que me pareceu reconhecer nisso um chamamento especial para vir aqui; eis que hoje aqui estou. Vim, para agradecer à Divina Providência neste lugar que a Mãe de Deus parece ter escolhido de modo tão particular e, quiçá, uma chamada à atenção para a mensagem que daqui partiu há 65 anos, por intermédio de três crianças, filhas de gente humilde do campo, os pastorinhos de Fátima, como são conhecidos universalmente”, afirmava.

Na noite de 12 de maio, volta a ser alvo de um atentado, quando o ex-sacerdote integrista Juan Fernandez Khron tenta atingir o Papa com uma faca, não o conseguindo por intervenção de um dos polícias portugueses que escoltava o Sumo Pontífice.

Dois anos depois, em 1984, João Paulo II ofereceu ao Santuário de Fátima a bala que o atingiu no abdômen no atentado de Roma, projétil que, em 1989, foi incrustado na coroa da imagem de Nossa Senhora.

Nesse ano, a 13 de maio, decreta a heroicidade das virtudes de Francisco e da sua irmã Jacinta. Os decretos das virtudes dos irmãos Marto, e a consequente concessão do título de veneráveis, representam um momento verdadeiramente significativo para a História da Igreja, na medida em que, pela primeira vez, e depois de um longo período de reflexão teológica, iniciada precisamente em resposta à Causa dos dois pastorinhos de Fátima, é reconhecida a heroicidade das virtudes e a maturidade de fé de crianças não-mártires, abrindo assim o precedente para que a santidade das crianças seja reconhecida, como aliás se constata nas observações escritas no Osservatore Romano, de 10 de abril de 1981, e publicadas na revista Fátima XXI em outubro de 2014.

A segunda viagem do Papa polaco a Portugal, em 1991, incluiu a participação na Vigília de Oração, em 12 de maio, e a celebração da Eucaristia no dia seguinte.

Na homilia, sublinhou a importância da mensagem de Fátima para os tempos de hoje, caracterizando-a como uma espécie de eco das palavras de Jesus a Sua Mãe, no Gólgota, quando lhe entregou o discípulo amado. “Aqui Ela teve de os acolher a todos. Todos nós, homens deste século e da sua difícil e dramática história”.

“O Santuário de Fátima é um lugar privilegiado, dotado de um grande valor especial: contem em si uma mensagem importante para a época que estamos a viver”, disse na homilia do dia 13 de maio de 1991.

A terceira e última deslocação de João Paulo II à Cova da Iria, já com a saúde debilitada, ocorreu em 13 de maio de 2000, com o objetivo de presidir à celebração de beatificação de Francisco e Jacinta Marto.

Na altura, apresentou-os à Igreja e ao Mundo como “duas candeias que Deus acendeu para iluminar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas”.

Esta foi uma viagem feita por insistência do Papa, que obrigou os serviços do Vaticano a desmarcarem a celebração inicialmente prevista para o dia 9 de abril, na Praça de São Pedro, em Roma.

O Segredo de Fátima

Outro sinal evidente da relação muito próxima que manteve sempre com Fátima foi a revelação da terceira parte do Segredo de Fátima, feita em 13 de maio de 2000 pelo Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal Angelo Sodano.

O Segredo de Fátima é tido como núcleo fundamental da Mensagem de Fátima e refere-se às visões e palavras testemunhadas pelos Pastorinhos na aparição de Nossa Senhora a 13 de julho de 1917. O seu conteúdo foi redigido por Lúcia na década de 40. As duas primeiras partes (a visão do inferno e a devoção ao Imaculado Coração de Maria) foram dadas a conhecer em 1941; a terceira (a visão da Igreja peregrina e mártir e da cidade em ruínas), redigida em 1944, permaneceu sob reserva e foi revelada publicamente em Fátima no ano 2000.

A terceira parte do Segredo inclui precisamente a referência a um atentado contra a figura do Papa, tendo João Paulo II ligado essa revelação ao acontecimento de 13 de maio de 1981, em Roma, ao qual sobreviveu por – disse-o várias vezes – “uma mão materna” ter desviado a trajetória da bala.

A escultura de Nossa Senhora

Papa João Paulo II reza diante de imagem de Nossa Senhora de Fátima levada ao Vaticano / Foto: Santuário de Fátima

A relação do ex-arcebispo de Cracóvia com Fátima também se diz e escreve pela ligação à escultura que se venera na Capelinha das Aparições e que este ano celebra também o seu centenário. João Paulo II foi o primeiro Papa a solicitar uma deslocação desta imagem ao Vaticano para consagrar o mundo ao Imaculado Coração de Maria no dia 25 de março de 1984, precisamente um ano depois de ter iniciado o Ano Santo dedicado à Redenção.

Uma pequena comitiva liderada pelo bispo de Leiria, e onde se incluía o reitor do Santuário de Fátima partiu para Roma de avião tendo feito a viagem entre o aeroporto e o vaticano de helicóptero. Depois de ter estado na capela Paulina, uma das mais importantes do Palácio Apostólico, a escultura passou a noite na capela privada do Papa.

No dia seguinte, milhares de pessoas assistiram ao ato de consagração que João Paulo II fez diante da Imagem. Depois desta consagração, a Imagem ainda esteve durante algumas horas na Basílica de São Pedro, onde o Papa fez a sua despedida formal com um discurso em que reconhecia a sua devoção especial por Nossa Senhora do Rosário de Fátima, passando posteriormente pela Basílica de São João Latrão, a sé episcopal do bispo de Roma e pelo santuário do Divino Amor.

Esta mesma imagem haveria de regressar a Roma, em 2000, e diante dela, ladeado por 1500 bispos de todo o mundo, São João Paulo II haveria de consagrar o novo milênio ao Imaculado Coração de Maria: “A Ti aurora da salvação consagramos o nosso caminho no novo milênio”.

Se é certo que há, desde sempre uma ligação entre Fátima e o sucessor de Pedro, a verdade é que com São João Paulo II essa ligação tornou-se quase umbilical. O Papa polonês acabaria por selar essa ligação oferecendo a Nossa Senhora o seu anel que tem inscrito o lema do seu Pontificado “Totus Tuus”.

 

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