Igreja na África

República Democrática do Congo: Igreja auxilia vítimas de violência sexual

Violência é a marca permanente de uma guerra sem fim e as vítimas são quase sempre meninas, as mais fracas e vulneráveis. Quase a totalidade dos abusos não são denunciados

Da Redação, com Vatican News

Na República Democrática do Congo, África Central, a violência sexual contra as mulheres é denunciada pela Igreja Católica que oferece apoio às vítimas, que na maioria dos casos, não podem denunciar e não têm acesso a medidas de proteção.

A violência é a marca permanente de uma guerra sem fim. As vítimas são quase sempre meninas, as mais fracas e vulneráveis. Na cultura tradicional, a mulher é considerada como mãe e goza de grande consideração e respeito porque ela dá vida e representa tudo o que é sagrado na África.

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Humilhá-las significa humilhar seu clã diretamente, porque na cultura congolesa fazer violência a uma mulher significa fazer violência a sua mãe, porque é ela quem dá vida e educa a prole. Portanto o estupro é planejado como uma tática de guerra por pessoas que conhecem bem a comunidade local.

Abusos de milícias

Grupos armados estima-se que cerca de 130 milícias saqueiam as riquezas do território e agridem abertamente a população civil com incessantes abusos. As mulheres são vítimas de uma guerrilha generalizada iniciada em 1997 com a queda do ex-Zaire. Desde então, nas florestas do Kivu Norte e Sul, que o governo está lutando para manter sob controle, tem havido casos sistemáticos de violência e abuso.

As Nações Unidas contaram mais de quinze mil estupros em um ano no país: o maior número de crimes sexuais registrados no mundo. Segundo o Kivu Security Tracker, somente nos últimos meses de 2019, 1.275 pessoas foram sequestradas e 720 foram mortas em Kivu. Muitas das jovens raptadas são abusadas. Mas com poucas denúncias e assim, a impunidade para os responsáveis é quase garantida.

Presença da Igreja Católica

Nesta realidade a Igreja Católica se viu na linha de frente diante de tanta brutalidade. Em abril de 2017, a União Internacional de Superiores Gerais, com o apoio da Embaixada Britânica, formou cerca de quarenta consagrados (incluindo alguns sacerdotes) para ajudar as mulheres vítimas de violência sexual. Um dos motivos da vulnerabilidade é também a miséria na qual a maioria da população se encontra. Centenas moram nas ruas, onde sofrem todo tipo de abuso porque seus pais estão doentes ou morreram ou simplesmente não têm meios de alimentá-los.

Padre Bernard Ugeux, um belga de 74 anos, missionário na República Democrática do Congo, descobre assim um mundo de abusos e estende a mão a essas jovens. Ele as ajuda a sair desse pesadelo e começar uma nova vida olhando para o futuro de uma forma mais serena. Padre Ugeux, dos missionários da África (Padres Brancos) vive e trabalha em Bukavu, Kivu do Sul. O Kivu, como todas as regiões do leste do estado africano, há anos é dominado por uma forte instabilidade.

Com as roupas estão rasgadas, os pés descalços, elas mantêm o olhar cabisbaixo. Como se tivessem
vergonha das feridas que carregam. Feridas no corpo, mas também na alma. E estas são as mais profundas, as que demoram a curar. É por isso que se fecham. Não querem falar com ninguém sobre isso, menos ainda para sua comunidade e nem mesmo em família. Às vezes conseguem desabafar no confessionário. Confessam ao padre o sequestro que sofreram, os abusos que foram submetidas, a marginalização a que muitas vezes são forçadas em seus próprios vilarejos.

Vítimas duas vezes

O missionário explica: “As meninas são vítimas inocentes por duas vezes. Depois de serem abusadas, são consideradas culpadas pelo que lhes aconteceu: são repudiados pelas comunidades e ficam abandonadas”. Eles não falam sobre isso e vivem esse ultraje ao seu corpo e alma como uma culpa. O Padre Bernard ouviu as mulheres que, no segredo do confessionário, lhe contaram sobre os abusos a que foram submetidas. “Quando elas vêm confessar as agressões que sofreram”, diz ele, “tenho que lhes explicar que elas não têm nenhuma culpa, nenhuma responsabilidade”.

A reintegração na sociedade é fundamental

Para os religiosos, é indispensável adotar uma abordagem psicossocial. “Não basta ser empático e permitir que as vítimas expressem emoções e memórias dolorosas”, diz ele. “É necessário oferecer recursos materiais e sociais para a reintegração em sua comunidade”. É necessário dar à vítima um lugar e um papel, com respeito e total segurança”. Padre Bernard promoveu assim, junto com uma equipe de leigos congoleses e as Irmãs Doroteias, um caminho de resgate para 250 meninas que fogem do horror.

“São ex-meninas de rua, vítimas de abuso e violência, órfãs ou filhas de pais que são muito pobres ou impossibilitados de criá-las”, observa o religioso. “Todos os dias as jovens frequentam o centro, que oferece assistência social e psicológica, educação e treinamento vocacional. Nas aulas ensinamos francês, matemática, corte e costura, culinária. Apoiamos as meninas em sua reintegração na sociedade, procuramos famílias adotivas dispostas a ajudá-las, tentamos quanto possível autofinanciar-nos com a venda de doces ou roupas feitas pelas próprias meninas”.

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