A Igreja celebra neste sábado, 2, o dia da Vida Consagrada; religiosos de diferentes ordens recordam conselhos do Papa Francisco aos consagrados
Julia Beck,
Da redação
Caminhar contra a corrente, reavivar o encontro com Jesus, procurar o encontro entre profecia e memória, não resistir à mudanças, testemunhar a alegria evangélica, viver o perdão e fugir da fofoca. Estes foram alguns dos conselhos e exortações do Papa Francisco à vida consagrada, celebrada pela Igreja Católica neste sábado, 2. Dedicados ao sagrado, à vida em comunidade e a missão de levar a boa nova de Deus, os consagrados enfrentam diariamente os desafios cotidianos para manter o ânimo e vigor de suas vocações.
Padre Antônio Lemos, consagrado da Congregação Legionários de Cristo, Irmã Simone Miranda, pertencente às Carmelitas Mensageiras do Espírito Santo, Irmã Clotilde Prates, da Congregação das Irmãs Apostolinas, e Irmão Afonso Murad, do Instituto dos Irmãos Maristas, pertencem a ordens religiosas diferentes, mas compartilham opiniões e vivências semelhantes, a começar pela importância dos anciãos nos institutos e comunidades.
“Dá uma esperança ver alguém que chega ao final da vida perseverando, com alegria, vivendo a vocação, com entrega máxima à Igreja”, afirmou padre Antônio. Ir. Simone completa: “Penso que uma árvore recebe seu alimento principalmente através das raízes e isto serve de metáfora também para nós. Aqueles que nos precederam tiveram a oportunidade de aprender não somente com a teoria, mas, na prática, com a vida”. A religiosa acrescentou, citando a relação dos jovens com os anciãos: “Os jovens consagrados também podem transmitir a sua vitalidade e as boas novidades do nosso tempo e assim há um enriquecimento recíproco”.
Além do contato com os consagrados mais experientes e com os formadores, os religiosos comentaram também sobre o pedido do Papa, para que todos os inseridos na vida consagrada cultivem um diálogo diário com Deus através da oração e da adoração.
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“Quando a gente se consagra a Deus, está todo cheio de alegria e contentamento, de sonhos, depois vem o cotidiano, a dureza da vida, e é muito importante renovar esse amor, esse encantamento por Jesus e por sua causa, e a oração é o meio fundamental. A oração também nos fortalece porque nós somos pessoas frágeis”, observou Ir. Afonso.
Segundo Ir. Clotilde, assim como o corpo humano não consegue ficar sem água e oxigênio, a adoração e a oração são o oxigênio e a água que mantêm o consagrado vivo em sua opção de vida.
A alegria é também caracterizada pelo Santo Padre como fundamental aos consagrados. Em sua viagem apostólica a Bangladesh, Francisco recomendou aos consagrados: “Nada de rostos tristes, mesmo na dor e nas dificuldades, buscai a paz e encontrai a alegria”.
Sobre o pedido do Pontífice, Ir. Simone afirmou: “Um belo sorriso pode evangelizar mais do que muitas palavras. A alegria é a nossa primeira forma de evangelizar e talvez nosso principal testemunho. Santa Teresa dos Andes dizia ‘Jesus, alegria infinita’, ou seja, minha alegria não vai embora quando chegam os problemas, não é uma alegria finita que acaba. Seguir Jesus comporta também levar a Cruz, mas posso ser sempre contente porque sou certa da Ressurreição e da vitória de Deus em todas as situações”.
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Assim como a alegria, Ir. Afonso relembrou o pedido do Papa para que os consagrados progridam espiritualmente “abaixando-se” para servir. “A gente se coloca primeiro a serviço de Jesus e da sua causa. O serviço a Jesus vai se traduzir no serviço também à humanidade, ao meio ambiente, à nossa casa comum. Portanto o serviço às pessoas, principalmente às que mais precisam, é um sinal evidente do nosso serviço a Jesus”, revela. Para Ir. Clotilde, o ato de servir impulsiona o consagrado a rever outro sentimento que atrapalha sua vocação, a comodidade: “A mesmice, o ficar naquilo que é mais fácil e cômodo para a pessoa, é a forma mais rápida de morte do ser humano”, alerta a religiosa.
“As pessoas entram em uma comunidade ou instituto porque querem viver uma vida mais radical, mais intensa, mais inteira e com o tempo podem perder essa motivação e se acomodar. Por isso, continuamente nós somos chamados à conversão, a rever nossas atitudes, nossas ações, nossas motivações para romper essa tendência à inércia e à comodidade”, completou Ir. Afonso.
Para padre Antônio, a superação do sentimento de estagnação deve começar com uma transformação interior, antes de partir para a sociedade e a Igreja: “Deixar que o Espírito Santo nos transforme interiormente em algo para toda a vida. Esta é a metanoia de São Paulo, uma conversão, mudança de atitude que nos traz para mais perto de Deus e que deve ser sempre constante em nossas vidas. Isso é ser um fermento na massa. Deixar os próprios medos, para que o Senhor guie os caminhos”.
O perdão e a fofoca também foram alvos de mensagens do Papa aos consagrados. “Um dos pecados que muitas vezes encontro na vida comunitária é o da incapacidade de perdão entre os irmãos e irmãs. A fofoca numa comunidade impede o perdão e nos distância uns dos outros”, disse Francisco em 2015, durante um Encontro com Jovens Consagrados. Segundo Ir. Afonso, a mágoa é um fato na vida humana, mas que precisa ser revertida por meio do perdão:
“O perdão é uma graça de Deus em nós, mas ela precisa da cooperação humana. Sem o perdão a vida comunitária se torna um inferno, com o perdão a gente refaz as relações, nos percebemos como irmãos e irmãs de caminhada, fracos, mas também desejosos de oferecer o melhor de nós”, refletiu. Sobre a fofoca, o religioso comentou: “A fofoca faz um grande mal na convivência humana porque a pessoa que é objeto da fofoca não pode responder naquele momento, não pode esclarecer, então muitas vezes a fofoca é um processo de destruição do outro, por isso precisamos crescer na vida comunitária e na capacidade de expressar para as pessoas, diretamente aquilo que a gente sente e pensa, e também sermos capazes de ouvir quando recebemos uma crítica ou uma observação”.
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Os muitos conselhos do Papa são, de acordo com Ir. Simone, preocupações que dizem respeito a coerência de vida entre os consagrados: “Quando tem coerência os jovens se sentem atraídos. Quando veem um religioso que vive com radicalidade a sua vocação é como um ímã para Jesus. E mesmo aqueles já consagrados vendo os bons testemunhos se sentirão mais esperançosos e fortes para enfrentar suas crises em vez de abandonar tudo na primeira dificuldade. O Espirito Santo é criativo e se o seguirmos realmente podemos ser fiéis ao patrimônio de fundação que nos foi transmitido sem sermos resistentes as boas novidades e apelos do nosso tempo. Precisamos nos adaptar para podermos evangelizar hoje. É verdade que atualmente as transformações estão acontecendo sempre de forma mais rápida, mas precisamos acompanhar, por isto precisamos tanto de oração. Rezem por nós!”