Viagens internacionais e eventos como a canonização de dois Papas e o Sínodo da Família marcaram o ano de Francisco; padre Lombardi comenta
Da Redação, com Rádio Vaticano
O ano de 2014 foi intenso para o Papa Francisco, a começar pelo fato de ter realizado cinco viagens internacionais. O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, fez um balanço desse ano, que foi praticamente o segundo do pontificado de Francisco.
“Cultura do encontro” foi o termo utilizado por padre Lombardi para caracterizar este ano de 2014 do Santo Padre. Ele explicou que o Papa tem este modo de se dirigir aos outros como pessoa que encontra pessoas, o que fica evidente, por exemplo, no relacionamento com grandes personalidades, como com o Patriarca Bartolomeu. “Isso me parece algo muito precioso, muito importante e muito característico do Papa Francisco”, disse.
Viagens internacionais
Só neste ano que passou, Francisco visitou cinco países: Terra Santa, Coreia do Sul, Albânia, França (Estrasburgo, para uma visita de um dia ao Parlamento Europeu e ao Conselho da Europa) e Turquia. Padre Lombardi destacou o caráter ecumênico que revestiu algumas dessas viagens, como o que aconteceu em Jerusalém e depois em Constantinopla com o Patriarca Bartolomeu.
Outro aspecto importante, segundo o sacerdote, é a fronteira da Ásia: Francisco visitou a Coreia e, dentro de poucos dias, de 12 a 19 de janeiro de 2015, vai para as Filipinas e Sri Lanka. Trata-se de uma renovada atenção da Igreja para esta região, que representa uma das grandes fronteiras da Igreja atual.
Padre Lombardi não deixou de mencionar a dimensão europeia. A viagem à Albânia foi breve, mas significativa pelo fato do Papa desejar partir das periferias para chegar ao coração de um continente. Tão breve quanto foi a visita a Estrasburgo, quando o Pontífice pôde fazer um discurso articulado a toda a Europa.
“Um ponto particular que gostaria de recordar dessas viagens é a dimensão do martírio: seja na Coreia, onde a história da Igreja é caracterizada pelo martírio, seja na Albânia, onde o martírio nos tempos recentes, sob o comunismo, foi fortíssimo, seja no Oriente Médio, onde o martírio é também uma realidade atual pelos tantos problemas que acontecem. O Papa encontra esta realidade e nos recorda a atualidade dessa dimensão na vida da Igreja de todos os povos e tempos, também do nosso”.
Reforma da Igreja
Padre Lombardi explicou que, desde o início de seu Pontificado, Francisco colocou em prática um projeto de reforma da Cúria Romana. Mas esta é apenas uma parte de um projeto maior que o Pontífice formulou na Exortação Apostólica Evangelii gaudium: o projeto de uma Igreja em saída, da Igreja missionária, da Igreja empenhada na evangelização, da qual a Cúria Romana é uma serva, um instrumento para ajudar a Igreja na sua missão.
“O que me parece muito importante notar é que, para o Papa, o coração de toda reforma é interior: as reformas partem do coração (…) Os discursos que ele fez antes do Natal, seja à Cúria seja aos funcionários vaticanos, o discurso que ele fez no término do Sínodo nos dizem muito claramente como ele governa a Igreja também com o discernimento espiritual para curar em profundidade as nossas atitudes, tornar-nos mais radicalmente fiéis ao Evangelho e, com isto, depois, poderemos também exercitar melhor todo o nosso serviço, toda a nossa atividade de evangelização ou de serviço eclesial”.
Sínodo da Família
Um evento importante para os católicos em 2014 foi a 3ª Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que foi a primeira de duas etapas do Sínodo da Família, cuja conclusão será em 2015. Para padre Lombardi, foi um dos grandes “empreendimentos” pastorais e eclesiais colocados em caminho por Francisco, talvez o principal, no sentido que toca verdadeiramente a vida de todos.
“É um empreendimento muito corajoso, porque o Papa colocou na mesa temas também difíceis, delicados; porém, é algo do qual realmente havia necessidade”.
Cristãos perseguidos
Esta é uma questão que, juntamente à paz, à justiça, aos pobres e à escravidão moderna, é particularmente estimada pelo Papa. Padre Lombardi recorda que, desde o início de seu pontificado, Francisco quis se lembrar dos pobres e das periferias e é possível vê-lo fazendo isso continuamente. “Diria que o Papa fez justamente uma mobilização da Igreja, das pessoas de boa vontade, sobre estas fronteiras”.
Nesse ano, a situação dramática no Oriente Médio chamou a atenção, um contexto em que muitas pessoas – cristãos ou não – precisaram abandonar suas casas e viver como refugiadas. Tal situação foi tema de vários apelos do Papa, que dois dias antes do Natal enviou uma carta aos cristãos no Oriente Médio, lembrou ainda o sacerdote.
Diálogo inter-religioso
Padre Lombardi acredita que o diálogo inter-religioso está entre os pontos importantes do pontificado de Francisco em 2014. Esta é uma dimensão que esteve em evidência tanto na viagem à Abânia quanto à Turquia.
“Parece-me que o Papa está muito consciente também da situação do Islã no mundo moderno e procura encontrar os caminhos para uma relação construtiva, também no diálogo”.
Canonização dos Papas
Ao mencionar a canonização de João Paulo II e João XXIII, bem como a beatificação de Paulo VI, padre Lombardi indicou como denominador comum desses eventos a atualidade do Concílio Vaticano II, que esteve no centro da vida e do ministério desses três Papas.
“Estes dois eventos – canonização e beatificação – marcam também a inserção do pontificado de Francisco na esteira dos seus predecessores, no grande quadro do Concílio Vaticano II e da sua atuação no nosso tempo”.