Série especial

Planeta tem mais água doce que o necessário, afirma geólogo

Geólogo afirma que o Brasil tem reservatório subterrâneo de água suficiente para abastecer o país por um século, mesmo sem chuvas

André Cunha
Da redação

O brasileiro ficou bem preocupado neste ano (e continua preocupado), assistindo a crise no abastecimento de água que atinge, especialmente, o Sudeste do país. Muito se tem falado que a água é escassa, que podemos não tê-la no futuro como temos agora.

No entanto, o Geólogo e presidente da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, Cláudio Oliveira, explicou ao noticias.cancaonova.com que a crise hídrica não é exatamente aquilo que temos ouvido, nem mesmo como menciona a Organização das Nações Unidas (ONU). Para ele, “as nossas demandas são muito inferiores à quantidade de água que temos à disposição”.

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Para entender a afirmação, vamos citar alguns dados. Primeiro: o cientista britânico, John Anthony Allan, da King’s College de Londres, disse que a humanidade consome 8 mil km³ de água por ano. Segundo: o volume de chuva, de acordo com Cláudio, é de 48 mil km³, também por ano. Ou seja, quatro vezes maior que a média de consumo no planeta.

Cláudio explica que toda a água doce disponível na Terra vem da chuva. Trata-se da água do mar dessalinizada no processo de evaporação feito pelos raios solares (clico hidrológico). Essa água é filtrada pelo solo e armazenada nos compartimentos subterrâneos, também chamados de aquíferos.

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O acesso aos Aquíferos se dá através da perfuração de poços tubulares (popularmente conhecidos como poços artesianos), com a finalidade de captação das águas subterrâneas / Ilustração: Abas

 A ONU afirma que há escassez de água no Planeta, porém, Cláudio explica que esse cálculo da ONU e dos meios técnicos utiliza apenas o volume de águas da superfície, sem contar com os recursos dos aquíferos.

“Veja o tremendo erro que a ONU comete. Todo o volume de água da superfície é simplesmente um centésimo do volume de água que existe no subsolo”, afirmou o especialista.

O Aquífero Guarani, por exemplo, é considerado o maior reservatório de água doce do mundo, e tem sua maior parte no Brasil, que o divide com alguns países da América Latina. Cláudio afirma que este reservatório teria “água para suprir o Brasil inteiro, no mínimo, por um século, se não chovesse mais”.

Por este e outros motivos, ele enfatiza: “nós vivemos num país que tem muita água. Quem dessaliniza água do mar são os países do Oriente Médio. Vamos aproveitar a nossa água enquanto ela está boa”.

Então, como explicar a crise hídrica?

De acordo com o geólogo, o que acontece é que nas regiões onde há pouca água superficial disponível, o recurso hídrico subterrâneo também é crítico devido às áreas territoriais. Uma situação que piora com a urbanização e a grande concentração de pessoas, como é o caso do Sudeste. Então, para estas regiões, as águas subterrâneas podem ajudar, mas não servir de “salvadoras da pátria”.

“Na realidade, a única alternativa que passa pela cabeça dos gestores é a água subterrânea, mas é aí que começa o problema, porque eles vêm esta água como a salvadora da pátria. Ela até pode ser, mas não por completo, como em São Paulo”.

Ao mesmo tempo, o especialista alerta que é preciso ações dos governos para que água subterrânea disponível em outras regiões chegue àquelas onde há escassez . “Nova York, por exemplo, também não está em cima de uma região produtora de água, mas tem túneis de mais de 100 km trazendo água de lagos e represas”.

“Nós temos potencial, mas os meios de comunicação e os meios gestores (que são estaduais) não sabem dessa potencialidade. Na verdade, tem todo um mecanismo de proteção de mercado. Não é mais gestão de recursos hídricos subterrâneos; as concessionárias públicas tentam manter a hegemonia e não querem a concorrência das formas alternativas”, denunciou.

Todavia, o geólogo Cláudio Oliveira reitera que estes recursos têm que ser administrado, mapeados e calculados – trabalho normalmente realizado pelos governos estaduais – para saber quanto está sendo utilizado, e não haver uso indiscriminado.

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