Ecologia

Saiba como a urbanização tem afetado o clima no planeta

A taxa de urbanização no país subiu de 31,24% (em 1940) para 84,36% (em 2010) e especialistas alertam para o agravamento das mudanças climáticas no Brasil

André Cunha
Da redação

Saiba-como-o-crescimento-ur

Especialista explica como a urbanização piora o situação climática no planeta / Foto: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

O tema “meio ambiente” ganhará ainda mais relevância nos próximos dias com a publicação da encíclica do Papa Francisco sobre o assunto, prevista para o início deste mês. A atitude do Pontífice revela como a Igreja está preocupada com a questão e deseja orientar os fiéis para os cuidados com o ecossistema.

Além disso, celebra-se, nesta sexta-feira, 5, o Dia Mundial do Meio Ambiente. Ao longo desta semana, o noticias.cancaonova.com traz uma série de quatro reportagens especiais sobre a temática.

Leia também
.: Encíclica do Papa sobre Meio Ambiente está pronta, diz bispo

Uma das questões preocupantes, não só por parte da Igreja, mas principalmente dos especialistas, diz respeito às mudanças climáticas. Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, várias alterações no clima já ocorreram no planeta nos últimos 100 anos. As mudanças climáticas começaram a ser registradas no século XIX quando teve início a emissão de gases provenientes das primeiras indústrias.

Segundo o Meteorologista da PUC Minas, Ruibran Reis, o Brasil tem registrado alterações significativas: inundações e enchentes nas grandes cidades, o aparecimento do furacão no Atlântico Sul em 2004 e também os tornados frequentes nas regiões sul e sudeste, como o que atingiu a cidade de Xanxerê, no último dia 20 de abril.

As chuvas de granizo que estão bem frequentes e a queda da umidade relativa do ar, especialmente no sudeste, também são registros dessas mudanças. No interior de São Paulo e em Minas Gerais, por exemplo, a umidade tem ficado entre 9% e 12%, sendo que o normal é acima de 40%.

ruibran_reis

Ruibran Reis é professor adjunto da disciplina Climatologia do curso de Geografia da PUC Minas / Arquivo pessoal

As principais causas nas mudanças no clima não são novidades: aumento dos gazes do efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – o aumento da frota de veículos e um dos principais fatores no Brasil, o desmatamento.

Há, no entanto, outro fator e este ocorre gradativamente e quase ninguém se dá conta dos seus efeitos: a urbanização. Apesar de a maioria dos brasileiro estar preocupada com as mudanças climáticas – como apontou uma pesquisa do DataFolha de abril deste ano – a taxa de urbanização no país subiu de 31,24% (em 1940) para 84,36% (em 2010), último registro do IBGE. Ou seja, a urgência em se tornar urbano tem sido maior que a preocupação com as alterações do clima que, segundo Ruibran, encontra na urbanização um forte adversário da normalidade climática.

Leia também
.: Papa recorda o dever do cristão de proteger a criação
.: Na catequese, Papa fala do cuidado com a criação e alerta para a cultura do descartável

Um livro lançado pela ONU, no ano passado, apresenta dados importantes sobre o crescimento urbano. De acordo com o material, até 2050, estima-se que 6,3 bilhões de pessoas viverão nas cidades em todo o mundo, número que representa um aumento de 3,5 bilhões em relação aos dados de 2010. Este é considerado o maior e mais rápido período de expansão urbana da história da humanidade, segundo considerações do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, no prefácio do livro.

Ban Ki-moon também afirma que “o crescimento urbano terá impactos significativos sobre a biodiversidade, os habitats naturais e muitos serviços ecossistêmicos dos quais depende a nossa sociedade”.

Mas para o professor Ruibran, que leciona Mudanças Climáticas na PUC Minas, estes impactos já podem ser constatados atualmente. Como exemplo, ele cita a capital paulista, onde a “bolha de calor” é frequente devido à urbanização.

“Quando se forma uma bolha de calor e o ar proveniente do Oceano Atlântico é forçado a subir ao longo da Serra do Mar, ele encontra rapidamente essa bolha de ar quente, e com isso os temporais são muito frequentes. É o que nós observamos na cidade de São Paulo com fortes alagamento, mas sem chuvas na região do Sistema Cantareira. Isso também acaba provocando essa variabilidade da precipitação onde num lugar chove muito e no outro não chove nada”, explicou.

Até a epidemia de dengue que atingiu todo o estado paulista também é um efeito das mudanças climáticas, segundo o especialista. “O mosquito se propagou com uma velocidade muito grande, e além de estar indo para latitudes mais altas, também está indo para altitudes mais elevadas”.

Ruibran alerta para um cenário bem pior do que se tem agora com relação ao clima no planeta se as providências não forem tomadas. “O que se prevê para daqui 20, 30, 40 anos são catástrofes: grandes inundações, secas extremas em determinadas regiões, baixa umidade relativa do ar etc”.

Questionado sobre a necessidade da população realmente se preocupar com as mudanças climáticas, o professor foi preciso em dizer que sim, ela deve se preocupar. Porém, ele considera que as pessoas comuns podem fazer muito pouco para mudar a situação. Para ele, a diminuição dos impactos provocados pelas mudanças climáticas depende muito mais de diretrizes governamentais.

“Enquanto nossos governos não se conscientizarem de que precisam fazer mudanças significativas, nada vai mudar”, destacou.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo