Aos fiéis católicos

Papa no Angelus: onde há muito eu, há pouco Deus

“Para subir em direção a Ele, é preciso descer dentro de nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre nossas fragilidades e pobrezas. Disse o Papa aos fiéis no Angelus deste 30º Domingo do Tempo Comum

Da Redação com Vatican News

Francisco no Angelus
Foto: Reprodução Reuters

“Subir e descer”, dois verbos presentes na passagem de Lucas do Evangelho da liturgia deste domingo inspiraram a reflexão do Papa Francisco antes de rezar o Angelus. De fato, a “parábola está entre dois movimentos”. De um lado o fariseu, “um homem religioso”, e de outro o cobrador de impostos, o publicano, “um pecador declarado”.

Aos peregrinos reunidos na Praça São Pedro, o Papa começou explicando que os dois sobem ao templo para rezar, mas somente o publicano eleva-se verdadeiramente a Deus, porque com humildade desce à verdade de si mesmo e apresenta-se tal como é, sem máscaras, com a sua pobreza. Ou seja, o primeiro movimento é “subir”.

Francisco explica que o texto começa dizendo que dois homens subiram ao Templo para rezar. “Este aspecto evoca tantos episódios da Bíblia, onde para encontrar o Senhor se sobe ao monte da sua presença: Abraão sobe ao monte para oferecer o sacrifício; Moisés sobe ao Sinai para receber os mandamentos; Jesus sobe ao monte, onde é transfigurado. Subir, portanto, expressa a necessidade do coração de separar-se de uma vida plana para ir ao encontro do Senhor, libertar-nos do próprio eu; de elevar-se das planícies do nosso eu para subir em direção a Deus; de recolher o que vivemos no vale para levá-lo diante do Senhor. Isso é subir, e quando nós rezamos, subimos”.
O Pontífice observou que para viver o encontro com Deus e ser transformados pela oração faz-se necessário também um outro movimento, o “descer”.

“Para subir em direção a Ele é preciso descer dentro de nós mesmos: cultivar a sinceridade e a humildade de coração, que nos dão um olhar honesto sobre nossas fragilidades e pobrezas interiores. De fato, na humildade nos tornamos capazes de levar a Deus, sem fingimentos, o que realmente somos, os limites e as feridas, os pecados e as misérias que pesam em nosso coração, e de invocar sua misericórdia para que nos cure e levante. Será Ele a nos levantar, não nós. Quanto mais descemos com humildade, mais Deus nos faz subir em direção ao alto”.

Francisco recordou os presentes ainda que o publicano da parábola fica humildemente à distância, não se envergonha, pede perdão e o Senhor o levanta. O fariseu, por outro lado, se exalta, seguro de si mesmo, convencido de estar bem: de pé, começa a falar ao Senhor apenas de si mesmo, começa a louvar a si mesmo, a listar todas as boas obras religiosas que faz e despreza os outros. Diz: “Não como aquele lá”:

A partir dessa visão do Evangelho, explicou por que a soberba espiritual conduz a realidade vivida pelo fariseu. “Mas padre, por que nos fala sobre a soberba espiritual? Mas todos nós corremos o perigo de cair nisto: leva-te a acreditar que somos bons e a julgar os outros e isso é a soberba espiritual: ‘Eu estou bem, sou melhor que os outros, ele é isso, aquele é aquilo…’. E assim, sem perceber, adoras a ti mesmo e apaga teu Deus. É uma subida que volta para si mesmo. Esta é a oração sem humildade”.

O Papa então chamou a atenção para o fato de que “o fariseu e o publicano têm muito a ver conosco”, convidando a olharmos para nós mesmos:

“Verifiquemos se em nós, como no fariseu, existe a íntima presunção de ser justos que nos leva a desprezar os outros. Acontece, por exemplo, quando buscamos elogios e sempre fazemos uma lista de nossos méritos e de nossas boas obras, quando nos preocupamos mais em parecer do que em ser, quando nos deixamos aprisionar pelo narcisismo e pelo exibicionismo. Vigiemos, irmãos e irmãs, nosso narcisismo e exibicionismo, baseados na vanglória, que levam também a nós cristãos, nós sacerdotes, nós bispos a ter sempre uma palavra nos lábios. Qual palavra? “Eu, eu, eu”: “Eu fiz isso, eu escrevi aquilo, eu havia dito, eu havia entendido antes de vocês”, e assim por diante. Onde há muito eu, há pouco Deus.

Ao final, Francisco pediu a intercessão de Maria Santíssima, a humilde serva do Senhor, imagem viva daquilo que o Senhor ama realizar, derrubando os poderosos de seus tronos e elevando os últimos.

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