Bispo da República Centro Africana denuncia ataques de grupos rebeldes mas não teme pela segurança do Papa
Da Redação, com Ajuda à Igreja que Sofre
A pouco mais de vinte dias para a chegada do Papa Francisco à República Centro-Africana, o arcebispo de Bangui, Dom Dieudonne Nzapalainga, reconhece que a situação em muitas regiões do país é ainda muito instável, em consequência dos constantes ataques de grupos rebeldes muçulmanos, os Séléka, e da criação de grupos de auto-defesa, os anti-balaka.
“É como se estivéssemos sentados sobre brasas. Muitas pessoas ainda têm armas. Basta apenas uma pequena faísca para inflamar a chama de novo”, reconhece o bispo em declarações exclusivas à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Apesar de tudo, o arcebispo não está muito preocupado com questões de segurança relacionadas com a visita do Santo Padre. “Deus é o nosso protetor, em primeiro lugar. E o Papa vem em nome de Cristo. É desejo do Papa Francisco reunir-se com os seus irmãos e irmãs e, de certa forma, partilhar a sua insegurança. Ele deseja fazer a experiência da realidade em que vive o povo.”
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O Papa Francisco vai viajar para a República Centro-Africana nos dias 29 e 30 de novembro, terminando sua primeira visita à África. O Pontífice também irá ao Quênia e Uganda.
A expectativa da visita do Santo Padre à República Centro-Africana é enorme.
O Arcebispo de Bangui, a capital do país, afirma a sua profunda convicção de que o Papa “vem convidar o povo a reconstruir o país onde há amor e fraternidade”, apesar da enorme violência que tomou de assalto as ruas, em especial nas grandes cidades, após 2013, quando os rebeldes muçulmanos tomaram de assalto o poder.
Dom Dieudonne Nzapalainga acredita que, mesmo com tantas cicatrizes ainda abertas em tantos lugares, por causa do clima de guerra civil, a visita do Papa será um incentivo para “o caminho da reconciliação”. E acrescenta: “nas palavras” do Papa “acreditamos que ouvimos a voz de Cristo que nos chama e fala à nossa consciência para confessarmos os nossos pecados e os terríveis crimes que foram cometidos”.
Situação da Igreja na Região
Por sua vez, para o Bispo de Alindao, Dom Cyr-Nestor Yapaupa, que visitou recentemente a sede internacional da Fundação AIS, em Köningstein, na Alemanha, as duas tarefas mais importantes para a Igreja no seu país passam pelo combate à pobreza e por curar as feridas profundas ainda abertas entre a população depois do caos que se viveu.
O religioso recorda que os primeiros tempos da revolta do Séléka foram terríveis, especialmente para a infra-estrutura da Igreja, com a destruição e saque de casas paroquiais, centros de saúde e instalações da Cáritas.
Também foram roubados todos os veículos da diocese, incluindo os utilizados para os cuidados de saúde da população das aldeias.
“A comunidade cristã tem sofrido muito porque muitos pastores foram forçados a deixar as suas paróquias. À medida que os rebeldes iam roubando tudo, não tinham nada para viver”, disse o bispo, que agradeceu a ajuda prestada pela Fundação AIS no apoio a estas comunidades.
Se é verdade, acrescenta o Bispo, que com a chegada de forças internacionais de manutenção de paz, em 2014, a situação melhorou em muitos lugares, provocando a saída de cena dos Séléka, isso não ocorreu na sua diocese.
“Neste momento, eles estão presentes apenas em certas regiões, mas agora estão a reunir-se diferentes grupos de rebeldes que querem voltar para a capital. Eles têm muitas armas. Ainda são muito perigosos”, denuncia
O Bispo de Alindao explicou ainda à Fundação AIS como a Igreja tem continuado a ajudar a população local apesar da enorme falta de meios e da destruição ocorrida.
“Temos apenas três médicos para 273 mil habitantes. Também os professores têm medo de voltar.” No entanto, apesar dessas dificuldades, de acordo com o bispo, as sete escolas católicas de Alindao permanecem abertas e a diocese tem tentado promover serviços médicos móveis para ajudar as pessoas nas aldeias.
Além da pobreza enorme em que vive o país, outra tarefa essencial é curar as profundas feridas causadas pelos dramáticos acontecimentos ocorridos desde 2013. Muitos perderam familiares e amigos. “É preciso muito tempo para curar essas feridas”, acrescenta o bispo o de Alindao.