Antes de se deslocar ao Capitólio de Roma para uma manhã dedicada à Cidade Eterna, Francisco surpreendeu os estudantes da Pontifícia Universidade Lateranense
Da redação, com Vatican News
A tradicional meditação de Quaresma que a Pontifícia Universidade Lateranense de Roma organiza anualmente foi feita nesta terça-feira, 26, pelo Papa Francisco. O Pontífice fez uma visita surpresa à comunidade acadêmica antes de seguir para uma série de compromissos dedicados à Cidade Eterna, no Capitólio.
O Santo Padre começou a Lectio Divina na Aula Magna através de uma reflexão da primeira leitura do dia, do livro do profeta Daniel (Dn 3, 25. 34-43). O texto traz a oração de três jovens, filhos de Israel, Hananias, Azarias e Misael, jogados numa grande fornalha ardente pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, porque se recusaram a adorar a sua estátua de ouro, convictos da fidelidade a Deus e de proteger a liberdade. Atitudes que, segundo o Papa, os expôs ao martírio, como acontece também hoje aos cristãos, em algumas partes do mundo. “Deus, porém, impediu o mal aos jovens”, refletiu.
“Ser encobertos pelas chamas e permanecer ilesos: acontece com a ajuda do Senhor Jesus, o Filho de Deus, e da inspiração do Espírito Santo. Eu imagino vocês assim: mesmo se vivemos num contexto cultural marcado pelo pensamento único, que envolve todos e faz adormecer com o seu abraço mortífero e queima toda forma de criatividade e de pensamento divergente, vocês caminham intactos graças à consagração em Jesus e no seu Evangelho, que se tornou atual pelo poder do Espírito Santo. Dessa maneira, conservem um olhar alto e também um olhar outro sobre a realidade, uma diferença cristã portadora de novidade”, exortou Francisco.
O Pontífice convidou os estudantes a fazerem parte da realidade atual, com sabedoria crítica e capacidade de discernimento para contribuir à vida cultural e social do mundo. Para o Santo Padre, a adesão ao Evangelho, com pensamento autêntico, ajuda a não ceder às tentações do individualismo, inclusive ao “inverno demográfico”.
“‘Mas por que não tem filho, ao menos, dois?’ – ‘Não, mas penso, eu gostaria de fazer uma viagem, espero ainda mais um pouco…’. E assim os casais seguem sem fecundidade. Por egoísmo, por querer mais, para fazer viagens culturais, mas os filhos não vêm. Aquela árvore não dá frutos. O inverno demográfico que hoje todos nós sofremos é realmente o efeito desse pensamento único, egoísta, dirigido somente a nós mesmos, que busca somente a ‘minha’ realização. Estudantes, pensem bem nisso: pensem em como esse pensamento único é tão ‘selvagem’… Parece muito cultural, mas é ‘selvagem’, porque te impede de fazer história, de deixar depois de ti uma história”, frisou o Papa
A exaltação do próprio eu pessoal e do grupo, em desprezo aos outros, aos pobres, foi definido por Francisco como “uma vergonha”: “Precisamos evitar de sermos queimados no cérebro, no coração, no corpo e nas relações por essa doença do individualismo, mas nos deixar conduzir pela mão do Senhor, construindo uma ‘mística do nós’, fermento da fraternidade universal que nos salva do individualismo e propicia uma espiritualidade de solidariedade global”.
Ao concluir, o Santo Padre sublinhou a necessidade de uma mudança de paradigma inclusive para os estudantes universitários eclesiásticos. Para Francisco, os estudantes não devem ficar dissociados da humanidade, nem jogar com os conceitos ou se prender a fórmulas abstratas, mas, sim, ser capazes de uma revolução cultural corajosa. O Pontífice enalteceu a importância dos estudos, fundados no Evangelho, para ajudar a interpretar o mundo, e desejou que todos fossem abertos ao futuro, ao sonhá-lo e projetá-lo:
“E continuem a trabalhar, porque a vida não começa com vocês, mas precisa de vocês para continuar. Enraizados na memória dos antepassados, enraizados na pertença a um povo. O presente é de vocês e não é de vocês: é um dom que vem da história, oferecido a ti, mas para levá-lo adiante. A tua decisão é aquela que fará com que o dom continue a seguir adiante e dê frutos”.