Conhecida por promover a tolerância religiosa, Abu Dhabi aguarda com expectativa a visita do Papa Francisco entre os dias 3 e 5 de fevereiro
Kelen Galvan, com colaboração de Denise Claro
Da redação
Neste domingo, 3, o Papa Francisco inicia uma nova viagem apostólica, desta vez aos Emirados Árabes Unidos. O Santo Padre estará na capital Abu Dhabi até o dia 5 de fevereiro e participará de um encontro inter-religioso.
O país localizado no Golfo Pérsico tem uma população média de 9,5 milhões de habitantes, dos quais 1,2 milhão são cristãos, provenientes de muitos países.
O missionário scalabriniano, padre Olmes Milani, trabalhou recentemente nos Emirados Árabes, por quatro anos, e cuidou das paróquias Saint Mary e Saint Francys em Dubai. Ele conta que só em uma destas comunidades frequentavam católicos de 52 países, e celebravam-se Missas em até 15 idiomas quase todas as semanas. No total, há sete Igrejas Católicas nos Emirados Árabes.
Ele destaca que a visita do Santo Padre ao país é importante tanto para os católicos, quanto para os outros cristãos e é considerada muito importante pelos islâmicos. “Para eles, ter o Papa Francisco visitando Abu Dhabi é um evento extraordinário e o país dá notícias todos os dias nos jornais sobre esta visita, desde que aconteceu o anúncio oficial”.
Segundo padre Olmes, Francisco é considerado por eles o líder da paz mundial. “Eles têm uma confiança muito grande no Papa Francisco. Os líderes islâmicos e o povo em geral, quando se fala em Papa Francisco, sentem algo diferente do que se sentia em outras épocas. Nesse sentido, o Papa tem uma capacidade de quebrar círculos que ninguém quebrava antes, pela coragem de ir ao encontro de outras pessoas que são diferentes”.
Religiões no país
O sacerdote lembra que a realidade da igreja católica em Abu Dhabi e em quase todos os sete emirados que compõe o país, está baseada numa espécie de abertura dada pelo xeique, que fundou o país.
O Xeique quis levar ao sul da península riqueza, trabalho e a exploração de petróleo, então decidiu criar uma situação que os estrangeiros pudessem trabalhar no país e também praticar as suas religiões. Diante disso, ele e seu conselho decidiram criar locais onde as diferentes religiões pudessem construir suas igrejas e templos para praticar sua religião.
“Nestas regiões foram aglomerados diversos terrenos e cada igreja pode solicitar o uso de um deles e lá dentro, criando um muro de três ou quatro metros de altura, podem funcionar livremente de acordo com cada religião. Mas só lá dentro”, explica o padre scalabriniano.
Ele conta que a parte externa das igrejas são diferentes de como são conhecidas em outras partes do mundo. “Na parte mais alta das igrejas não pode haver cruz, deve ser omitida, e [a fachada] não pode ter o formato de igreja, como tem no oeste da Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil, onde ela tem uma arquitetura muito própria. As igrejas devem ser baixas, numa altura de no máximo 25 metros, mas sem aparência de Igreja. Dentro pode funcionar livremente”.
Em todo o país, os católicos têm à sua disposição nove igrejas, sendo que em Abu Dhabi é a sede do vicariato, onde é a sede do bispo. Dali ele coordena as nove comunidades do país, mais as quatro de Omã, que faz parte do mesmo vicariato. De forma geral, há liberdade de praticar as religiões dentro do complexo definido pelos governantes.
Padre Olmes destaca que o país quer demonstrar flexibilidade e ao mesmo tempo tolerância, tanto que eles criaram o Ministério da Tolerância.
Convivência entre as religiões
O sacerdote explica que as igrejas ficam todas uma ao lado da outra, num espaço de quatro ou cinco quateirões unidos. “Neste local existe tranquilidade, respeito e bom relacionamento, e com as novas leis também os islâmicos devem respeitar as outras religiões, já não podem mais chamar os cristãos de pagãos. Se fizerem isso vão para a justiça e podem ser condenados. Da mesma forma, os cristãos não podem chamar os islâmicos com qualquer nome que seja taxativo ou humilhante”, destaca.
Segundo ele, nos Emirados Árabes existe o respeito às religiões, não existe interferência entre uma e outra crença, e as autoridades locais protegem as igrejas de um eventual ataque terrorista, por exemplo.
Expectativa visita do Papa
Para ele, esta visita é extremamente importante, e não existiu nenhum outro convite de um país do Oriente Médio, exceto Israel, para que o chefe da Igreja Católica visitasse o país, tendo as duas características: pastor da Igreja e chefe de Estado.
“Pode ser um bom começo e uma boa esperança de que as coisas se desenvolvam, para os cristãos que moram nos países do Oriente Médio, especialmente na península arábica, e também quem sabe, a gente sonha sempre com o melhor, que um dia possamos ter mais colaboração entre as religiões, mas especialmente o que precisamos mesmo é encontrar um jeito de convivermos bem e colaborarmos cristãos e islâmicos”, disse o sacerdote.
Na visão do padre scalabriniano é preciso muito mais do que apenas conviver com respeito lado a lado, tendo um muro que os separa, seria necessária uma maior interação, mais diálogo e presença.
“A gente espera que com a vinda do Papa os líderes das religiões possam ter uma interação mais séria e também encontrar caminhos bons para viver o maior dos mandamentos, que é nosso e deles também, porque no Alcorão se fala muito do amor e muitas vezes, muito próximo ao estilo cristão”, afirma padre Olmes.
Sobre o encontro inter-religioso
Segundo o missionário, esses encontros vêm acontecendo há alguns anos, especialmente promovidos pelas autoridades locais e têm evoluído bastante.
“No começo, eu lembro, quando cheguei no país os encontros inter-religiosos aconteciam em um grande centro, onde se faz comércio, e fizeram um encontro mundial de religiões. Era mais uma atitude deles darem a conhecer a nós a fé islâmica, sem possibilidade dos outros falarem sobre sua fé”, lembra.
Mas já no último encontro que ele participou, os representantes de outras religiões que estavam no evento puderam falar um pouco sobre si mesmos.
“Pudemos falar um pouco sobre a nossa expressão cristã no país, nosso sentido, o que pretendemos com fé cristã que tem Jesus Cristo como Salvador”, explicou padre Olmes, destacando que foi algo novo que desperta esperança.