Dia Internacional do Enfermeiro

“O cuidar é o que nos move”, afirma enfermeira em meio à pandemia

No Dia Internacional do Enfermeiro, profissionais contam inseguranças em tempos de pandemia e destacam amor à profissão e ao cuidado com o outro

Julia Beck
Da redação

Enfermeiras verificam os prontuários de um hospital de campanha que trata pacientes que sofrem de coronavírus (COVID-19) em Santo André, São Paulo/ Foto: Amanda Perobelli – Reuters

Mais de dois milhões de auxiliares, técnicos e enfermeiros ativos no Brasil estão na linha de frente do combate ao coronavírus, de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) . Celebrados internacionalmente nesta terça-feira, 12, esses profissionais têm convivido, nestes últimos meses, com a exaustão do cotidiano nos grandes hospitais e postos de saúde do país, além da perda precoce de pacientes e colegas de trabalho infectados pela covid-19.

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A enfermeira Heda Cristina Bilard/ Foto: Arquivo Pessoal

Mesmo com a tensão diária, o amor pela profissão e o desejo de cuidar do outro permanecem sendo características impressas em quem escolhe a enfermagem como profissão.  Sarah Giovana Corrêa Orlando atua como enfermeira da Estratégia de Saúde da Família (E.S.F) em uma Unidade Básica de Saúde  (UBS) da zona Sul de São Paulo e afirma: “Nenhum tratamento terá sucesso se o cuidado não for de qualidade. O cuidar é o que nos move. Cuidado associado com base científica”.

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Heda Cristina Bilard de Carvalho, gerente de enfermagem na Santa Casa de Cruzeiro (SP), revela que escolheu a enfermagem como profissão por ter a possibilidade de dar o seu melhor para cuidar dos outros.  Segundo a enfermeira, a profissão exige trabalho em equipe, lidar com emoção, com equilíbrio e concentração diante das maiores adversidades.

“Quero oferecer sempre o meu melhor e fazer a diferença na vida daqueles que precisem um dia dos meus cuidados, não quero que seja um cuidado somente técnico, mas humano”

Heda Cristina

Valorização e investimento

Desde o início dos casos de coronavírus no país, o Cofen divulgou que 73 enfermeiros faleceram devido à covid-19. O bispo de Campos (RJ) e referencial da Pastoral da Saúde, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, reforçou a gravidade do fato, em matéria publicada no site da CNBB:  “Equivale ao número de óbitos dos profissionais da Espanha e Itália juntas, isso mostra como essa estatística é realmente pesada para o Brasil, e mostra também que as condições aqui são muito diferentes às do cenário da Itália e da Espanha”.

Dom Roberto defende a valorização e qualificação dos enfermeiros, além de um forte investimento na saúde. “Estão tendo um comportamento heroico, uma resiliência fora dos parâmetros normais, então rezemos, intercedemos por essa classe, mas vamos ao mesmo tempo nos somar para que justamente se veja a saúde como uma mola, uma alavanca do desenvolvimento”.

Insegurança e cuidado

As enfermeiras Sarah e Heda afirmam que o coronavírus gerou uma mudança de pensamento. “Nossa rotina agora é identificar possíveis suspeitos da covid-19 e, se necessário, encaminhar para atendimento hospitalar. Perdemos pacientes de longa data que precisaram de atendimento hospitalar por uma queixa simples e lá pegaram coronavírus”, revela Sarah. O desafio, segundo a enfermeira, é cumprir com o dever de cuidar daqueles que reportam a doença.

“Estamos numa situação nunca vivida antes. O principal desafio agora é cuidar de nossa saúde mental para que possamos dar o melhor de nós e estarmos firmes diante do cenário de impotência que vivemos”

Sarah Giovana 

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Heda afirma que os desafios enfrentados pelos profissionais da enfermagem são desconhecidos. Segundo a enfermeira, muitos estudos sobre o vírus sofrem mudanças a cada dia, assim como os protocolos, o que causa a insegurança em lidar com a doença. “O importante é passarmos todos os conhecimentos para a nossa equipe e tê-los no dia-a-dia paramentados e, principalmente, acolhidos para enfrentar a dor do outro e dos familiares que passam por este momento tão difícil”.

Cuidados com a família

A enfermeira Sarah Correa Orlando/ Foto: Arquivo Pessoal

Sarah conta que, neste período, teve sintomas leves em março e ficou afastada do trabalho, usando máscara em casa o tempo todo. No fim, foi só uma suspeita. “Foi muito apreensivo o que vivi, mas todos ficamos bem”, comentou.

Apesar de passado o susto, a enfermeira frisa: “Vivo dias de insegurança, impotência e medo de, apesar de todos os cuidados devidos, levar contaminação para casa”.

Sobre os procedimentos seguidos ao chegar em casa, Heda conta que opta por não usar a entrada principal. “Entro pela parte lateral da minha casa, retiro minhas roupas e já as coloco para lavar separadamente das roupas dos demais da minhas família. Também utilizo outro banheiro fora da casa”. 

Reconhecimento

Neste tempo de pandemia, Heda destaca a importância da humanização dos profissionais de saúde que estão todos os dias se colocando à frente de uma doença sobre a qual ainda se busca conhecimento.  “Nunca fomos tão reconhecidos em nossa profissão, espero que, ao passar tudo isso, todos continuem valorizando, pois sempre estaremos à frente de muitas doenças como sempre estivemos”.

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