Será apresentado hoje, no Vaticano, o documento que trata da primeira declaração de rabinos ortodoxos sobre o diálogo e a natureza das relações entre cristãos e judeus
Da redação, com Rádio Vaticano
Nesta quinta-feira, 10, será apresentado no Vaticano o novo Documento da Comissão vaticana para as Relações Religiosas com o Judaísmo, intitulado “Porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. Reflexões sobre questões teológicas concernentes às relações católico-judaicas”.
Por ocasião do 50º aniversário da “Nostra Aetate“, um grupo de 25 rabinos israelenses, europeus e estadunidenses expressão do judaísmo ortodoxo divulgou nos dias passados uma declaração intitulada “Fazer a vontade do Pai Nosso nos Céus: rumo a uma parceria entre judeus e cristãos”.
Trata-se da primeira declaração de rabinos ortodoxos sobre o diálogo e a natureza das relações entre cristãos e judeus desde quando o Concílio Vaticano II começou, 50 anos atrás, uma nova fase nas relações com o judaísmo.
Processo de reconciliação entre judeus e a Igreja
O ponto de partida do documento, publicado no site do Centro para a compreensão e colaboração judaico-cristã, em Israel, é a Shoah, o clímax da inimizade entre cristãos e judeus.
“Olhando para trás aparece claro que a incapacidade de ir além do desprezo e se engajar em um diálogo construtivo para o bem da humanidade enfraqueceu a resistência às forças do mal do anti-semitismo que puxaram o mundo para o homicídio e genocídio”, escrevem os rabinos.
Mas os 25 signatários reconhecem que “a partir do Concílio Vaticano II o ensinamento oficial da Igreja Católica sobre o judaísmo mudou radical e irrevogavelmente. A promulgação da Nostra Aetate há cinquenta anos deu vida a um processo de reconciliação entre as nossas duas comunidades”, afirmam.
Em particular, eles agradeceram “a afirmação da Igreja sobre a unicidade da posição de Israel na história sagrada e o respeito à redenção final do mundo. Os judeus de hoje já experimentaram o amor sincero e o respeito por parte de muitos cristãos, através de iniciativas de diálogo, encontros e conferências em todo o mundo”.
Quem são os cristãos no plano de Deus para o mundo?
De acordo com os rabinos ortodoxos, no entanto, isso deve levar hoje os judeus também a questionarem-se sobre quem são os cristãos no plano de Deus para o mundo: “Como já fizeram Maimonide e Yehudah Halevi reconheçamos que o cristianismo não é nem um incidente ou um erro, mas fruto da vontade Divina e um dom para as nações. Separando entre eles o judaísmo e o cristianismo Deus quis criar uma separação entre companheiros com significativas diferenças teológicas, e não uma separação entre inimigos”, continua o documento.
O convite a um olhar teológico novo sobre a cooperação com os cristãos
Daí o convite a um olhar teologicamente novo sobre a colaboração com os cristãos: “Agora que a Igreja Católica reconheceu a Aliança eterna entre Deus e Israel, nós, judeus, podemos reconhecer o perdurante valor construtivo do cristianismo como nosso parceiro na redenção do mundo, sem qualquer medo de que essa atitude possa ser usada para fins missionários. Como afirmado pela Comissão Bilateral entre o Grão Rabinato de Israel e a Santa Sé, sob a liderança do Rabino Shear Yashuv Cohen: Não somos mais inimigos, mas sem equívocos companheiros ao exprimir os valores morais essenciais para a sobrevivência e o bem-estar da humanidade. Nenhum de nós pode realizar sozinho a missão confiada por Deus neste mundo”.
Deus usa muitos mensageiros para revelar a Sua verdade
“A colaboração entre nós não reduz de forma alguma as diferenças que permanecem entre as duas comunidades e as duas religiões. Nós acreditamos que Deus se sirva de muitos mensageiros para revelar a Sua verdade, enquanto afirmamos os imperativos éticos fundamentais que todos os povos têm diante de Deus e que o Judaísmo sempre ensinou através da aliança universal de Noé”.
“Imitando Deus judeus e cristãos devem ser modelos de serviço, amor incondicional e santidade, concluem os 25 rabinos. Todos nós fomos criados à imagem santa de Deus e judeus e cristãos permaneçam fiéis à Aliança desempenhando juntos um papel ativo na redenção do mundo”.