Catequese

"Nossa pátria está no céu", destaca Bento XVI

Íntegra da Catequese do Papa Bento XVI nesta quarta-feira, 26 de setembro:

Caros irmãos e irmãs!

Continuamos hoje a nossa reflexão sobre São João Crisóstomo. Depois do período passado em Antioquia, no ano 397 ele foi nomeado Bispo de Constantinopla, a capital do Império Romano do Oriente. Desde o início, João projetou a reforma da sua Igreja: A austeridade do palácio episcopal devia servir de exemplo para todos – Clero, viúvas, monges, pessoas da corte e ricos.

Infelizmente não poucos desses, tocados por seus juízos, se afastaram dele. Atencioso para com os pobres, João foi chamado também "O mendicante". Atento administrador, de fato, era levado a criar instituições de caridade muito apreciadas. A sua intrepidez nos vários campos, o tornou para alguns um perigoso rival. Ele todavia como um verdadeiro Pastor, tratava todos de modo cordial e paterno. Em particular, reservava um acento sempre seguro para as mulheres e um cuidado especial para os matrimônios e as famílias. Convidava os fiéis a participar da vida litúrgica, por ele tornou-se explêndida e atraente com genial criatividade.

Não obstante o coração bom, não tem uma vida tranqüila. Pastor da capital do Império se encontra envolto em densos questionamentos e intrigas políticas, o motivo dos seus contínuos encontros com as autoridades e instituições civis. Sobre o plano eclesiástico, pois, havendo deposto na Ásia no ano de 401 seis bispos indignamente eleitos, foi acusado de haver ultrapassado as fronteiras da própria jurisdição, e tornou-se assim mira de fácil acusação.

Um outro pretexto contra ele foi a presença de alguns monges egípcios, excomungados pelo patriarca Teófilo de Alexandria e refugiados em Constantinopla. Uma vivaz polêmica foi pois originada das críticas de Crisóstomo a imperatriz Eudossia e aos seus cortesãos, que reagiram jogando sobre ele descréditos e insultos. Se une assim a sua deposição, no sínodo organizado pelo mesmo patriarca Teófilo no ano de 403, com a seguinte condenação, o primeiro breve exílio.

Depois da sua entrada, a hostilidade suscitada contra ele protesta contra a festa em honra a imperatriz – que o Bispo considerava como uma festa pagã, e luxuosa – e a expulsão dos presbíteros encarregados dos batismos, na vigília pascoal do ano de 404 sinalizaram o inicio da perseguição a Crisóstomo e dos seus seguidores, assim chamados "Joãozinhos".

Então João denunciou por carta os fatos ao bispo de Roma, Inocêncio I. Mas já era tarde demais. No ano 406 precisou ser exilado de novo, desta vez em Cucusa, na Armênia. O Papa estava convicto de sua inocência, mas não havia poder para ajudá-lo. Um concílio, desejado por Roma para uma pacificação entre os dois lados do Império e entre as suas Igrejas, não pode acontecer. A mudança de Cucusa para Pytius, meta jamais alcançada, devia impedir as visitas dos fiéis e despedaçar a resistência do exilados fatigados.

A condenação foi uma verdadeira morte! São comoventes as numerosas cartas do exílio, na qual João manifesta suas preocupações pastorais com acentos de participação e de dor pelas perseguições contra os seus. A marcha rumo a morte aconteceu em Comana nel Ponto. Aqui João moribundo foi levado a Capela do mártir São Basílico, onde entregou o espírito a Deus e foi sepultado, mártir ao lado do mártir. Era 14 de setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz.

A reabilitação aconteceu em 438 com Teodosio II. As relíquias do santo bispo, depostas na Igreja dos Apóstolos em Constantinopla, foram transportadas em 1204 para Roma, na primitiva basílica constantiniana, e jazem agora na capela do Coro dos Canônicos da Basílica de São Pedro. Em 24 de agosto de 2004 uma parte destas relíquias foi doada pelo Papa João Paulo II ao patriarca Bartolomeu I de Constantinopla. A memória litúrgica do santo se celebra em 13 de setembro. O beato João XXIII o proclamou patrono do Concilio Vaticano II.

De João Crisóstomo se diz que, quando se sentou no trono da Nova Roma, isto é, de Constantinopla, Deus fez ver nele um segundo Paulo, um doutor do Universo. Na realidade, em Crisóstomo existe uma unidade sustentável de pensamentos e de ação a Antioquia e também a Constantinopla. Mudam somente o papel e as situações. Meditam sobre oitos obras feitas por Deus na seqüência de seis dias no comentário de Gênesis, Crisóstomo quer trazer aos fieis da criação ao Criador: "É um grande bem", disse: "conhecer o que é a criação e o que é o Criador".

Nos mostra a beleza da criação e a transparência de Deus na sua criação, ao qual torna-se quase uma "escada" para subir a Deus, para conhecê-lo. Mas neste primeiro passo se acrescenta um segundo: este Deus criador é também o Deus condescendente.

Somos fracos no "subir", os nossos olhos são fracos. E assim Deus se torna o Deus do condescendente, que manda ao homem caído e estrangeiro uma carta, a Sagrada Escritura, portanto criação e Escritura se completam. Na luz da Escritura, da carta de Deus nos dá, podemos decifrar a criação. Deus chamou "pai terno", "médico das almas", "mãe e amigo afetuoso". Mas neste segundo passo- primeiro a criação como "escada verso Deus e depois o condescendente de Deus transmite uma carta que nos dá, a Sagrada Escritura, se acrescenta um terceiro passo.

Deus não somente nos transmite uma carta: em definitiva, desce Ele mesmo, se encarna, torna-se realmente "Deus com nós", nosso irmão até a morte e morte de cruz. E a este três passos- Deus é visível na criação, Deus nos dá sua carta, Deus desce e torna-se como um de nós – se acrescenta um quarto passo. No interno da vida e na ação do cristão, o princípio vital e dinâmico é o Espírito Santo, que transforma as realidades do mundo. Deus entra mesmo na nossa existência transmite o Espírito Santo e nos transforma do interno do nosso coração.

Sobre este cenário, exatamente em Constantinopla João, no comentário dos Atos dos Apóstolos, propõe o modelo da Igreja primitiva (At 4,32-37) como modelo para a sociedade, desenvolvendo uma utopia social (quase uma cidade ideal). Tratava-se de fato de dar uma alma e um rosto cristão à cidade. Em outras palavras, Crisóstomo entendeu que não é suficiente dar esmola, ajudar aos pobres de vez em quando, mas é necessário criar uma nova estrutura, um novo modelo de sociedade, um modelo baseando na perspectiva do Novo Testamento. É a nova sociedade que se revela na Igreja nascente.

Portanto João Crisóstomo se transforma realmente em um dos grandes Padres da Doutrina Social da Igreja: a velha idéia da "polis" grega é substituída pela nova idéia de cidade inspirada na fé cristã. Crisóstomo reforçava com Paulo (cfr 1 Cor 8, 11) a supremacia da singularidade cristã, da pessoa em quanto tal, também do escravo e do pobre. O seu projeto corrige assim a tradicional visão grega da "polis", da cidade, na qual grande parte da população é excluída dos direitos de cidadania, enquanto na cidade cristã todos são irmãos e irmãs com direitos iguais.

A supremacia da pessoa é também a conseqüência do fato de que realmente partindo dessa se constrói a cidade, enquanto na polis grega a pátria estava acima da singularidade, a qual era totalmente subordinada a cidade na sua totalidade. Assim com Crisóstomo começa a visão de uma sociedade construída pela consciência cristã. E ele nos diz que nossa "polis" é uma outra, a nossa pátria está no céu (Fil 3, 20) e esta nossa pátria também nesta terra nos faz todos iguais, irmãos e irmãs, e nos obriga a solidariedade.

No fim de sua vida, do exílio aos confins da Armênia, "o lugar mais longe do mundo", João, une-se à sua primeira pregação de 386, repete o tema a ele precioso do plano que Deus persegue nos confrontos da humanidade: é um plano "indescritível e incompreensível", mais seguramente guiado por Ele com amor. Esta é a nossa certeza.

Também não podemos decifrar os detalhes da história pessoal e coletiva, sabemos que o plano de Deus é sempre inspirado por seu amor. Assim, os seus sofrimentos, reafirmavam a descoberta que Deus ama cada um de nós com um amor infinito, e por isto quer a salvação de todos. De sua parte, o santo bispo cooperou nesta salvação generosamente sem economizar-se por toda a sua vida. Considerava portanto o último fim de sua existência aquela glória de Deus, que deixou como extremo testamento: "Glória a Deus para tudo!"

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