Amados Irmãos no episcopado e no presbiterado,
Queridos irmãos e irmãs!
Dou graças ao Senhor por este encontro, na oração, que me permite viver um particular momento de comunhão convosco, Bispos, sacerdotes, pessoas consagradas, seminaristas, noviços e noviças. A todos vos saúdo com estima e agradeço pelo testemunho que prestais à Igreja, como fizeram ao longo dos séculos tantos Pastores e Mártires nesta terra, desde São Domnio até ao Beato Cardeal Stepinac, o amado Cardeal Kuharić e muitos outros. Agradeço ao Cardeal Josip Bozanić as amáveis palavras que me dirigiu.
Nesta tarde, em devota oração, queremos fazer memória do Beato Aloísio Stepinac, Pastor intrépido, exemplo de zelo apostólico e de firmeza cristã, cuja vida heróica ainda hoje ilumina os fiéis das dioceses croatas, sustentando a sua fé e vida eclesial. Os méritos deste inesquecível Pastor brotam essencialmente da sua fé: na sua vida, manteve sempre o olhar fixo em Jesus, configurando-se de tal modo com Ele que se tornou uma imagem viva de Cristo, mesmo dos seus sofrimentos. Devido precisamente à sua firme consciência cristã, soube resistir a todo o totalitarismo, tornando-se defensor dos judeus, dos ortodoxos e de todos os perseguidos no tempo da ditadura nazista e fascista e depois, no período do comunismo, “advogado” dos seus fiéis, especialmente dos numerosos sacerdotes perseguidos e assassinados. Sim, tornou-se “advogado” de Deus sobre esta terra, já que defendeu tenazmente a verdade e o direito do homem viver com Deus.
“Com uma só oferta, [Cristo] tornou perfeitos para sempre os que são santificados” (Heb 10, 14). Esta afirmação da Carta aos Hebreus, há pouco proclamada, convida-nos a considerar a figura do beato Cardeal Stepinac segundo a “forma” de Cristo e do seu sacrifício. De fato, o martírio cristão é a medida mais alta de santidade, mas é-o sempre e só graças a Cristo, por seu dom como resposta à sua oferta que recebemos na Eucaristia. O Beato Aloísio Stepinac correspondeu-lhe com o seu sacerdócio, com o episcopado, com o sacrifício da vida: um único “sim” unido ao de Cristo. O seu martírio marca o apogeu das violências perpetradas contra a Igreja durante a terrível estação da perseguição comunista. Os católicos croatas, de modo particular o clero, foram objecto de vexações e abusos sistemáticos, que visavam destruir a Igreja Católica a começar da sua Autoridade local mais alta. Aquele período, particularmente duro, caracterizou-se por uma geração de Bispos, sacerdotes e religiosos dispostos a morrer para não atraiçoar Cristo, a Igreja e o Papa. O povo viu que os sacerdotes nunca perderam a fé, a esperança, a caridade, e deste modo permaneceram sempre unidos. Esta unidade explica o que é humanamente inexplicável, ou seja, que um regime tão duro não tenha podido dobrar a Igreja.
Também hoje a Igreja na Croácia é chamada a estar unida para enfrentar os desafios do contexto social em mudança, individuando com audácia missionária novos caminhos de evangelização especialmente ao serviço das jovens gerações. Amados Irmãos no episcopado, queria encorajar-vos em primeiro lugar a vós na realização da vossa missão. Quanto mais agirdes em fecundo acordo entre vós e em comunhão com o sucessor de Pedro, tanto mais podereis enfrentar as dificuldades do nosso tempo. Além disso, é importante que sobretudo os Bispos e os sacerdotes trabalhem sempre ao serviço da reconciliação entre os cristãos divididos e entre cristãos e muçulmanos, seguindo os passos de Cristo, que é a nossa paz. Relativamente aos sacerdotes, não deixeis de oferecer-lhes claras indicações espirituais, doutrinais e pastorais. De facto, a comunidade eclesial apresenta no seu próprio seio legítimas diversidades, mas só pode prestar um testemunho fiel ao Senhor na comunhão dos seus membros. Isto requer de vós o serviço da vigilância, que haveis de prestar no diálogo e com grande amizade, mas também com clareza e firmeza. Amados Irmãos, aderir a Cristo significa «observar a sua palavra» em todas as circunstâncias (cf. Jo 14, 23).
A propósito disto, assim falava o Beato Cardeal Stepinac: “Um dos males maiores do nosso tempo é a mediocridade nas questões de fé. Não tenhamos ilusões… Ou somos católicos ou não o somos. Se o somos, é preciso que isto se manifeste em cada âmbito da nossa vida” (Homilia na Solenidade de São Pedro e São Paulo, 29 de Junho de 1943). A doutrina moral da Igreja, hoje frequentemente incompreendida, não se pode desvincular do Evangelho. Compete precisamente aos Pastores propô-la com autoridade aos fiéis, para os ajudarem a avaliar as suas responsabilidades pessoais, a harmonia entre as suas decisões e as exigências da fé. Deste modo se irá progredindo naquela “viragem cultural” que é necessária para promover uma cultura da vida e uma sociedade à medida do homem.
Queridos sacerdotes, especialmente vós párocos, conheço a importância e a multiplicidade dos vossos compromissos, num tempo em que começa fazer-se sentir intensamente a escassez de presbíteros. Exorto-vos a não desanimar, a permanecer vigilantes na oração e na vida espiritual para realizardes com fruto o vosso ministério: ensinar, santificar e guiar a quantos estão confiados aos vossos cuidados. Acolhei com magnanimidade quem bate à porta do vosso coração, oferecendo a cada um os dons que a bondade divina vos confiou. Perseverai na comunhão com o vosso Bispo e na mútua colaboração. Alimentai o vosso compromisso nas fontes da Escritura, dos Sacramentos, do louvor constante de Deus, abertos e dóceis à acção do Espírito Santo; sereis assim agentes eficazes da nova evangelização, que sois chamados a realizar juntamente com os leigos, de modo coordenado e sem confusão entre aquilo que depende do ministério ordenado e o que pertence ao sacerdócio universal dos baptizados. Tende a peito o cuidado das vocações ao sacerdócio: esforçai-vos, com o vosso entusiasmo e a vossa fidelidade, por transmitir um vivo desejo de responder, generosamente e sem hesitação, a Cristo, que chama a conformar-se mais intimamente com Ele, Cabeça e Pastor.
Queridos consagrados e consagradas, a Igreja muito espera de vós, que tendes a missão de testemunhar em cada época «a forma de vida que Jesus, supremo consagrado e missionário do Pai para o seu Reino, abraçou e propôs aos discípulos que O seguiam» (Exort. ap. Vita consecrata, 22). Que Deus seja sempre a vossa única riqueza: deixai-vos plasmar por Ele, para tornar visível ao homem actual, sedento de valores autênticos, a santidade, a verdade, o amor do Pai celeste. Sustentados pela graça do Espírito, falai ao povo com a eloquência duma vida transfigurada pela novidade da Páscoa. Deste modo a vossa vida inteira tornar-se-á sinal e serviço da consagração que cada baptizado recebeu quando foi incorporado em Cristo.
A vós, jovens que vos preparais para o sacerdócio ou para a vida consagrada, desejo repetir que o Mestre divino está constantemente em acção no mundo e diz a cada um daqueles que escolheu: «Segue-Me» (Mt 9, 9). É um chamamento que exige a confirmação diária com uma resposta de amor. Esteja sempre pronto o vosso coração. O testemunho heróico do Beato Aloísio Stepinac inspire uma renovação das vocações entre os jovens croatas. E vós, amados Irmãos no episcopado e no presbiterado, não deixeis de oferecer aos jovens dos seminários e dos noviciados uma formação equilibrada, que os prepare para um ministério bem inserido na sociedade do nosso tempo, graças à profundidade da sua vida espiritual e à seriedade dos seus estudos.
Amada Igreja na Croácia, assume com humildade e coragem a tarefa de seres a consciência moral da sociedade, «sal da terra» e «luz do mundo» (cf. Mt 5, 13-14). Permanece sempre fiel a Cristo e à mensagem do Evangelho, numa sociedade que procura relativizar e secularizar todos os âmbitos da vida. Sê a morada da alegria na fé e na esperança. Caríssimos, que o Beato Cardeal Aloísio Stepinac e todos os Santos da vossa terra intercedam pelo vosso povo, e a Mãe do Salvador vos proteja! Com grande afecto, concedo a vós e à Igreja inteira que está na Croácia a minha Bênção Apostólica. Amen. Sejam louvados Jesus e Maria!
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