No Dia do Médico, conheça o relato de quem vive a medicina com um olhar atento aos pacientes, pedido recorrente do Papa Francisco; saiba mais sobre São Lucas, padroeiro destes profissionais
Julia Beck
Da redação
Reconhecer a face de Jesus nos mais frágeis (2013), estando perto daqueles que estão passando por provações por causa da doença (2019), sem “perder de vista a singularidade de cada enfermo, com a sua dignidade e sua fragilidade” (2019). Nestes 10 anos de pontificado, estes são alguns dos pedidos já feitos pelo Papa Francisco aos médicos – celebrados nacionalmente nesta quarta-feira, 18.
A médica residente em pediatria, Isabela De Angelis, conta que desde pequena sempre falou que seria médica. Ela afirma que inicialmente gostava de cuidar de suas bonecas, fingir que era médica. Depois, conforme foi crescendo, essa vontade permaneceu somada ao fato de ela se considerar uma pessoa curiosa, que queria entender tudo sobre o ser humano, o corpo, as doenças.
No entanto, a jovem só foi entender de verdade o que era ser médica na faculdade e, principalmente, depois que se formou. Segundo ela, a profissão vai muito além do entendimento de como funciona o corpo humano, como se trata uma doença, como funciona uma medicação. “É uma vocação, é sobre se dedicar ao cuidado do outro e entender o paciente além da doença”, complementa.
Atualmente, Isabela se considera abençoada por estar exercendo sua formação em pediatria. “Tenho a clareza que minha vocação é cuidar das crianças, amparar as famílias e promover uma infância saudável e feliz! Não foi e não é um caminho fácil, diariamente enfrento diversos desafios. Mas com muito estudo e determinação, a cada dia tento me tornar uma profissional de saúde melhor em prol dos meus pacientes!”.
Um ato de amor
Assim como Isabela, a ginecologista e obstetra, Fabíola Mayella, revela que desde pequena também desejava seguir esta profissão. “Acredito que nascemos com o dom, basta seguirmos nosso coração”, opina.
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Segundo a médica, quando entrou na faculdade de Medicina, em sua primeira aula no ambulatório, seus olhos brilhavam de alegria em poder ajudar e contribuir com as pessoas. “Escolhi ser médica, pois acredito em um mundo melhor, em que podemos unir forças para lutar, seja pela saúde, pelos direitos de cada pessoa e principalmente pela vida. Medicina é um ato de amor”.
Atendendo o paciente, não a doença
Com quase 50 anos de profissão, o experiente clínico e cardiologista, Roque Savioli, relata que desde muito novo se sentia mais familiarizado com a área de biológicas. “A vida acadêmica sempre me fascinou e, ao receber meu diploma, tive a certeza de que a minha escolha foi perfeita”, destaca.
Os anos passaram, veio a residência médica, a pós-graduação, o doutorado e a especialização em cardiologia. Depois, Roque revela que começou a se ocupar com a parte administrativa do hospital no qual era sócio, deixando de lado aquilo que mais gostava, ou seja, atender os pacientes.
“Tornei-me bem-sucedido, um empresário da Medicina. Mas, algo estava faltando, a despeito da bela situação econômica, pois existia um vazio interior, que os bens materiais não eram capazes de preencher”.
Durante a participação na Santa Missa, o médico conta que se sentiu chamado a voltar a exercer de fato a profissão, após ouvir a “Parábola dos Talentos”. Naquele dia, ele ficou determinado a voltar a tratar os pacientes como sempre gostou, mas agora com uma visão totalmente diferente, atendendo “o paciente” e não a doença.
Multiplicar os dons
“Comecei a ver o ser humano nas suas três dimensões: corpo- psiquismo-espírito. E isso vem me acompanhando nesses quase 50 anos de formado, tanto na minha clínica particular, quanto no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde estou locado como médico assistente desde 1977, ou seja, há 46 anos”, frisa Roque.
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Agora, o médico reforça que entende o “vazio interior” que sentia, pois Deus havia lhe dado um talento que ele não podia deixar enterrado. “Tinha que multiplicá-lo”, complementa.
Aos companheiros de profissão, ele deixa os parabéns e assegura seu pedido de intercessão a Nossa Senhora Aparecida e ao Servo de Deus Padre Leo, para que todos multipliquem os dons recebidos, “cuidando do ser humano, a obra prima de Deus”.
Expectativa para viver com empatia a profissão
A estudante de medicina, Maria Rita Margarido, optou pela formação nesta área da saúde por se identificar com ela. Nessa profissão “lidamos com o público visando aliviar a dor daquela pessoa, seja física ou psicológica”, disse. Ela cita a importância de lidar com o ser humano por completo.
“Nessa área precisamos enxergar o ser humano como um todo. Ele chega até nós em uma situação de vulnerabilidade”, comenta. Para Maria Rita, empatia, atenção e escuta são inerentes ao profissional da Medicina.
“Espero ser a médica que atravessa a barreira da anatomia e fisiologia. Quero ser a profissional que escuta e atende pessoas. A carreira acadêmica é fundamental, acrescenta na profissão, mas não é só isso. Precisamos ir além do racional e ver os pacientes como alguém que tem sentimentos, histórias e família”
São Lucas, padroeiro dos médicos
O Dia Nacional do Médico é associado a São Lucas, cuja a memória litúrgica é recordada pela Igreja nesta quarta-feira, 18. Considerado o padroeiro dos que exercem a medicina, padre Wagner Souza, da diocese de Itaguaí (RJ), afirma que na carta aos Colossenses (capítulo 4, versículo 14), a profissão do evangelista é mencionada: “Recebei as saudações de Lucas, o caro médico (…)”.
O sacerdote pontua que o santo é discípulo de São Paulo e foi educado na literatura, arte e medicina. Autor de um dos livros que compõe a Bíblia, o presbítero explica que São Lucas demonstra sua elevada cultura e boa formação por meio da minúcia de seu relato do mistério da encarnação, do nascimento de Jesus e também de alguns episódios da infância de Cristo, bem como por meio de sua preocupação com uma ordem lógica nos escritos.
“Tendo em vista que ‘o tempo bíblico’ faz remeter ao início de tudo, sua figura talvez tenha sido considerada primitiva entre os que tendo o conhecido e feito a experiência do Cristo, exerciam a Medicina”, opina.
Evangelista de Nossa Senhora
O santo é também conhecido como o “evangelista de Nossa Senhora”. Sobre este “título”, padre Wagner frisa que no evangelho escrito pelo médico, se encontra “como que desenhada a figura de Nossa Senhora, no projeto salvífico de Deus”.
As novidades de alguns episódios dos textos bíblicos, como por exemplo a parábola do Filho Pródigo e da Dracma perdida, são atribuídas a São Lucas. Por fim, nas narrativas que compôs, o presbítero reforça que o evangelista traz à luz o grande mistério do amor de Deus, revelado em seu Filho Jesus Cristo.