Celebrado neste domingo, 17, Dia Mundial da Prematuridade busca conscientizar sobre desafios enfrentados por pais cujos filhos nasceram com menos de 37 semanas
Gabriel Fontana
Da Redação, com colaboração de Julia Beck e Laura Lo Monaco
Neste domingo, 17, é celebrado o Dia Mundial da Prematuridade. Ao longo do mês, a campanha Novembro Roxo busca conscientizar acerca desta realidade enfrentada por diversos pais durante a gestação de seus filhos.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem cerca de 340 mil nascimentos de bebês prematuros por ano, ocupando o 10º lugar no ranking mundial. Um relatório divulgado em 2023 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Parceria para a Saúde Materna, Neonatal e Infantil revelou que um a cada dez bebês nascidos no mundo são prematuros.
A pediatra neonatologista e coordenadora da UTI neonatal do Hospital Sepaco, Renata Castro, explica que é considerada prematura a criança que nasce antes de a gestação completar 37 semanas. A classificação da prematuridade depende da idade gestacional ao nascer, e os bebês podem ser considerados extremamente prematuros (menos de 28 semanas), muito prematuros (entre 28 e 32 semanas), prematuros moderados (entre 32 e 34 semanas) ou tardios (entre 34 e 37 semanas).
Riscos para o bebê e cuidados
Ao nascerem, as crianças com tempo gestacional inferior a 37 semanas acabam enfrentando desafios importantes, pois muitos dos órgãos ainda não estão totalmente prontos para o ambiente externo ao útero da mãe. “Os principais riscos incluem dificuldades respiratórias, devido aos pulmões imaturos, problemas de alimentação, infecções e riscos de complicações neurológicas e cardiovasculares. Além disso, o sistema imunológico do prematuro é menos desenvolvido, o que aumenta sua vulnerabilidade a infecções”, sinaliza Renata.
Neste contexto, a pediatra aponta que os cuidados necessários envolvem um suporte intensivo na UTI neonatal, com monitoramento contínuo, apoio respiratório quando necessário, controle de temperatura e atenção especializada para garantir um ganho de peso adequado e o desenvolvimento seguro até que os bebês prematuros estejam prontos para receber alta e ir para casa.
Riscos para a mãe
O parto prematuro também pode oferecer riscos para a gestante, recorda Renata. Além dos riscos físicos relacionados a complicações do parto, ela cita um impacto emocional intenso, pois a mãe se depara com a preocupação constante pela saúde do bebê e, muitas vezes, com uma internação prolongada na UTI neonatal.
“Esse cenário exige uma rede de apoio segura para que a mãe consiga lidar com as exigências de cuidados com o bebê, muitas vezes intensas e prolongadas, além de ajudar a prevenir e tratar questões como a ansiedade e a depressão pós-parto”, frisa a pediatra.
Ela pontua ainda que a prematuridade pode ser provocada por uma série de fatores internos e externos. Entre os fatores internos, estão condições como infecções intrauterinas ou urinárias, desequilíbrios hormonais, problemas na estrutura uterina, pressão alta, diabetes e gemelaridade. Já os fatores externos incluem tabagismo, consumo de álcool, estresse excessivo, baixa qualidade na alimentação e falta de acompanhamento pré-natal adequado. “Em alguns casos, múltiplos fatores se combinam, aumentando o risco de um parto antes do tempo previsto”, alerta Renata.
“Senti a mão de Deus sempre comigo”
A cabeleireira Mikaelle Santana, 32, partilha que seu filho, Theo, nasceu prematuro. Atualmente com oito meses, o bebê nasceu no dia 21 de fevereiro, após somente 23 semanas de gestação.
Mikaelle relata que sua gravidez se desenvolvia normalmente, sem nenhum sinal de que seria necessário um parto prematuro. “Uma semana antes do nascimento fiz alguns exames e fui elogiada pelo médico, pois minha saúde estava muito bem, e a do Theo melhor ainda. Estava tudo perfeito, com a graça de Deus”, conta.
Entretanto, quando estava em sua casa, a cabeleireira percebeu que havia algo de errado e se dirigiu ao hospital. Chegando lá, o médico a examinou e explicou que, se o bebê ainda estivesse vivo, teria que ser realizado o parto imediatamente para que Mikaelle não corresse riscos de vida. “Ele chegou a perguntar se eu tinha tentado aborto. Foram as piores horas da minha vida”, expressa.
Diante daquele cenário, a cabeleireira diz que acreditava que perderia seu filho. “Não foi um parto feliz. Só fiquei quieta, e meu marido, totalmente estagnado. Mas, na sala de parto, senti a mão de Deus sempre comigo. Até falei depois com uma pediatra que estava lá e ela me relatou que sentiu algo bem diferente naquela sala, que ela já havia visto alguns partos, mas nada foi como naquele dia”, conta Mikaelle.
Escolhida para viver um milagre
Após acordar, ela foi conduzida novamente ao quarto e, depois de três dias, recebeu alta hospitalar. Entretanto, Theo precisou permanecer na UTI, e a mãe voltou para casa sem seu filho.
A rotina da cabeleireira tornou-se completamente diferente, trocando o salão pelo hospital. Todos os dias ela ia cedo para tirar leite e permanecia com o bebê até a noite. Uma semana após o parto, Mikaelle pôde pegar Theo no colo pela primeira vez, mas no dia seguinte descobriu que estava com Covid-19 e precisou passar um tempo longe do filho.
Esta foi apenas uma das adversidades vividas durante o período na UTI neonatal. Entre alegrias e tristezas partilhadas com outros pais, Mikaelle esperou por pouco mais de seis meses para enfim poder levar Theo para casa.
“Eu estava levando meu filho de 23 semanas para casa! Passa um filme na mente e você se vê grato a Deus por tudo que viveu, pois você foi escolhido para viver um milagre – e viver um milagre dói, mas nada se compara com a alegria de viver uma oração respondida”, testemunha a cabeleireira.