Papa Francisco tem feito inúmeros apelos, além do Ato de Consagração como invocação pela paz realizado em março de 2022, ano em que o conflito estourou
Thiago Coutinho
Da redação
São 365 dias de conflito armado que gera mortes, destruição e deslocamentos forçados. Nesta sexta-feira, 24, a guerra na Ucrânia completa um ano, desde a invasão russa. Foram 200 mil soldados enviados ao país vizinho naquela que é considerada por alguns especialistas como a maior invasão europeia desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Estimam-se que 13 milhões de pessoas cruzaram a fronteira como refugiados ou para se deslocarem dentro do próprio país.
“O número de mortos, feridos, refugiados, deslocados, destruição, danos econômicos e sociais falam por si. Poderá o Senhor perdoar tantos crimes e tantas violências? Ele é o Deus da paz”, disse o Papa Francisco na quarta-feira, 22, quando já havia recordado o “triste aniversário” do conflito.
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Consagração ao Imaculado Coração de Maria
Nesse período de guerra, vários foram os apelos feitos pelo Papa Francisco e por expoentes da Igreja em todo o mundo. Uma das iniciativas marcantes foi o Ato de Consagração da humanidade, especialmente de Rússia e Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria. O gesto convocado pelo Papa Francisco foi no dia 25 de março, ao final de uma celebração penitencial no Vaticano. Na época, Francisco convidou os bispos em todo o mundo a se unirem a esta invocação pela paz. No Brasil, por exemplo, o ato foi realizado de forma simultânea em várias dioceses.
Em união com bispos e fiéis de todo o mundo, o Papa fez o ato de consagração, como um gesto de entrega plena de filhos que, na tribulação da guerra, se lançam ao Coração de Maria. “Hoje, que Ela tome pela mão o nosso caminho e o guie através das veredas íngremes e cansativas da fraternidade e do diálogo, pela senda da paz”, disse na homilia. Relembre como foi:
Inocentes pagam um preço alto
Nos seis primeiros meses do confronto, também em uma de suas Audiências Gerais, o Sucessor de Pedro lamentou as mortes e o crescente número de refugiados. “Trago, no coração, os prisioneiros, especialmente aqueles em condições frágeis, e peço às autoridades responsáveis que trabalhem para sua libertação”, disse então.
Nos muitos ataques perpetrados contra os ucranianos, Francisco se preocupou com todas as vítimas, especialmente as crianças. Autoridades ucranianas, em janeiro passado, informaram que 336 crianças foram oficialmente consideradas desaparecidas; 455 crianças morreram desde o início do conflito, enquanto 897 foram feridas.
“Penso nas crianças, tantos mortos, tantos refugiados — aqui na Itália há tantos! — tantos feridos, tantas crianças ucranianas e crianças russas que se tornaram órfãs, e a orfandade não tem nacionalidade, perderam o pai ou a mãe, sejam russos, sejam ucranianos”, lamentou o Pontífice.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alertou que 3,4 milhões de crianças ucranianas precisam de assistência humanitária. Ainda segundo estimativas do órgão, 1,5 milhão correm risco de depressão, ansiedade e outras doenças mentais. Além disso, cinco milhões de crianças tiveram algum tipo de interrupção em sua educação. Duas em cada três crianças refugiadas ucranianas não estão matriculadas no sistema escolar e mais de 2.300 escolas primárias e secundárias foram destruídas pelo embate entre Rússia e Ucrânia.
Ajuda da Igreja
Diversos braços da Igreja Católica espalhados pelo mundo ajudaram a amenizar os danos da guerra. No Brasil, o Regional Sul 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) organizou a campanha “Pela Ucrânia, pela vida” para levantar recursos às vítimas da guerra entre ucranianos e russos.
A Cáritas Internacional, que conta com 165 organizações humanitárias da Igreja e que atua em mais de 200 países, ofereceu, em fevereiro do ano passado, 150 mil euros e também organizou uma campanha para arrecadar doações. A Cáritas na Suíça doou 200 mil francos (moeda local) para ajuda emergencial. Essas foram apenas algumas das várias iniciativas que surgiram em todo o mundo.
“Desejo reiterar a nossa fraterna solidariedade com o povo e as instituições da Ucrânia. Comparando os sentimentos de angústia e preocupação com o Papa Francisco, apelamos às autoridades russas para que se abstenham de outras ações hostis que infligem mais sofrimento”, disse o cardeal Jean-Claude Hollerich, presidente da Comissão Episcopal da União Europeia (COMECE).
O futuro
A reconstrução da Ucrânia pode levar muitos anos, podendo ser um fardo que as gerações futuras carregarão. Um ano depois, as tensões entre ambos os países parece prosseguir. Em visita à capital polonesa, Varsóvia, nesta quarta-feira, 22, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez um discurso contra a Rússia. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua vez, em um comício em Moscou, saudou soldados russos e pediu apoio àqueles que disse estarem defendendo a pátria. Ele discursou à véspera do feriado de 23 de fevereiro na Rússia, que celebra aqueles que servem nas forças armadas.
Enquanto isso, também nesta quarta-feira, 23, o Papa Francisco lamentou mais uma vez a continuidade deste conflito. “Apelo aos que têm autoridade sobre as nações para que se empenhem concretamente pelo fim do conflito, para chegar a um cessar-fogo e iniciar as negociações de paz. Aquela construída sobre escombros nunca será uma verdadeira vitória”, concluiu.