Entrevista

Especialista do Vaticano fala sobre segunda união

O membro do Conselho Diretor da Pontifícia Academia para a Vida, organismo do Vaticano, e da Organização Mundial da Saúde, Dr. Mounir Farag, conversou com o noticias.cancaonova.com sobre com a realidade da segunda união: como a Igreja vê e acolhe e como agir com os filhos.

noticias.cancaonova.comAtualmente é bastante comum pessoas que, depois do divórcio, buscam uma segunda união. Como a Igreja vê estes casos, e como ela acolhe estas pessoas?

Dr. Mounir Farag:  A Igreja vê estas pessoas, as considera e as trata com amor muito grande. O que a Igreja deve fazer? Seguir o exemplo de Jesus. O que fez Jesus com o filho pródigo? O amou mais do que aquele que já estava com Ele. A Igreja ama estas pessoas, as acolhe, as sustenta talvez mais do aquelas pessoas que já ama, ajuda e assiste.

Ao mesmo tempo, a Igreja não justifica o fato ou o erro. Por exemplo, eu sei que esta questão de não poder receber o Sacramento da Comunhão é uma dor. Se eu cometo um erro ou um pecado sou eu que não vou receber o sacramento. A mesma coisa no caso deles: Eles se colocaram em uma situação na qual quebraram um ensinamento da Igreja e depois voltaram com esta segunda união.

A Igreja os ama, os acolhe mais do que aqueles que talvez não tenham feito isto; mas não concede a eles o sacramento porque foram eles que, com aquela atitude ou aquele gesto, fizeram esta opção.

Portanto, a Igreja de um lado não aceita dar-lhes o sacramento, mas, por outro lado, oferece apoio integral para que eles se sintam até mais amados e mais sustentados do que aqueles que não passaram por esta situação dolorosa.

noticias.cancaonova.com – Neste sentido, como os pais podem agir para que os filhos tenham uma boa estrutura psicológica e emotiva?

Dr. Mounir Farag: Cada um de nós deve se basear na regra de ouro, no ensinamento de Jesus, “Amai-vos uns aos outros como eu os amei”, portanto, a mulher e o marido devem fazer ao outro aquilo que gostariam que fosse feito a eles mesmos. 

Esta regra de ouro, que também vale para quem não é cristão, é aquela de perdoar, ter muita misericórdia para com o outro, colocar-se no lugar do outro e não julgar. E isto é importante para estes casais, é importante o acompanhamento para que eles possam perdoar os ex-maridos, as ex-esposas e amá-los, talvez mais do que quando eram juntos e fazer com que os filhos sintam isto.

Diante dos filhos, deve-se irradiar todo o positivo que os pais sentem e perdoar das coisas negativas. Devemos colocar na nossa cabeça que os filhos psicologicamente e emotivamente têm necessidade dos dois. Existe a semelhança entre homem e mulher, mas também belíssimas diversidades no âmbito psicológico, emotivo, fisiológico, etc. Sendo assim, um filho ou uma filha tem necessidade dos dois.

Estes casais, na segunda união, não devem deixar de dar atenção aos primeiros filhos, porque é uma responsabilidade. Nunca se pode arruinar o papel do pai ou da mãe. É preciso abrir-se aos filhos do primeiro casamento e também para aqueles da segunda união.

noticias.cancaonova.com – O senhor acredita que os filhos de pais divorciados podem acreditar no amor e no matrimônio?

Dr. Mounir Farag: Claro. Sobretudo, quando os pais colocam em relevância o perdão, misericórdia e também confessando que têm limites, que todos nós erramos.

Não mostrar aos filhos que só eles [os pais] têm razão, que são potentes e fortes, pois isto gera algo negativo. Mas se os filhos veem que estes pais continuam a querer bem um ao outro, confessam que viveram momentos difíceis, admitem que erraram, que desejam que não aconteça isto também a eles e dão este belo testemunho, os filhos, por consequência, continuarão a acreditar.

Vejo que os filhos desta nova geração não acreditam [no amor e no casamento], porque veem tudo ao contrário disto. Os pais ficam nos tribunais e fora dos tribunais tratando-se mal, agredindo-se mutuamente, blasfemando um contra o outro… Desta forma, os filhos não acreditarão.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

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