Documento foi emitido pela Conferência dos Bispos Católicos de Mianmar divulgado e lido por todas as igrejas que compõem a nação birmanesa
Da redação, com Agência Fides e Reuters
Um apelo sincero à “reconciliação pelo diálogo” foi lançado pela Conferência dos Bispos Católicos de Mianmar em um documento assinado por todos os Bispos das 16 dioceses birmanesas. O apelo enviado à Agência Fides, divulgado e lido em todas as Igrejas católicas da nação neste domingo, 21, dirige-se “aos que estão no poder para que retomem o caminho do diálogo”, expressando a dor e a profunda preocupação” pelo sangue derramado nas ruas e acontecimentos tristes e chocantes que tanto sofreram à nossa nação”.
Os bispos citam com amargura “a cena de jovens morrendo nas ruas”, considerando-a “uma ferida” infligida à nação que “outrora foi considerada uma terra de ouro”. “Não permitamos que o solo sagrado seja banhado com sangue fraterno”, pedem os religiosos, desejando que finde “a tristeza dos pais que enterram seus filhos”. Manifestações pacíficas foram reprimidas pelos militares que tiraram a vida de pelo menos cinco deles, enquanto mais de 500 foram presos.
Mianmar precisa de democracia
“Há apenas um mês a nação trazia em seu coração a grande promessa: o sonho de uma paz duradoura e de uma democracia robusta. Apesar da pandemia, o país realizou as eleições e o mundo admirou a capacidade de enfrentamento nossas diferenças internas”, ponderam os bispos no documento.
Nesta segunda-feira, 22, os bispos católicos se uniram aos monges Ma Ha Na para alertar os militares: “Mianmar pode ser varrida do mapa mundial se esses problemas não forem resolvidos de maneira pacífica”, e reiteraram o apelo à reconciliação por meio do diálogo.
Leia também
.: Cáritas pede à ONU acesso humanitário aos vulneráveis em Mianmar
.: Bispos e líderes religiosos fazem apelo pela paz em Mianmar
Os bispos birmaneses concluem com estas palavras: “O uso da violência deve acabar imediatamente. As lições do passado nos ensinam que a violência nunca vence. Setenta anos após a independência, os governantes devem investir na paz. A paz vai curar a nação. Vamos dar uma chance à paz. A paz é possível e é o único caminho possível”, disseram.
Incentivados pelas palavras dos bispos, leigos e mulheres católicas saíram às ruas neste domingo, 21, e marcharam pacificamente, em oração, manifestando todo o seu apoio a um caminho de reconciliação e democracia.
Empresas e comerciantes entram em greve
Empresas entraram em greve geral em Mianmar nesta segunda-feira, 22, para se opor ao golpe militar e milhares de manifestantes se reuniram em vilas e cidades, apesar da mensagem junta militar de que o confronto custaria mais vidas.
Milhares de pessoas se reuniram na interseção de Hledan em Yangon, em meio às marchas e aglomerações no centro da cidade. Alguns marcharam perto da Praça Sule e pisotearam fotos do líder da junta militar, Min Aung Hlaing.
Além de lojas locais, cadeias internacionais anunciaram que fechariam suas portas, incluindo o KFC da Yum Brands Inc. e o serviço de entrega Food Panda, de propriedade da Delivery Hero. A empresa Grab do sudeste asiático também interrompeu os serviços de entrega, mas deixou seus serviços de táxis funcionando.
O exército tomou o poder após alegar fraude nas eleições de 8 de novembro que foram vencidas pela Liga Nacional para a Democracia (NLD) de Aung San Suu Kyi, prendendo a ela e grande parte da liderança do partido. A comissão eleitoral indeferiu as denúncias de fraude.