Amazônia e o Fundo Nacional de Solidariedade estiveram na pauta da coletiva de hoje no âmbito da 60ª Assembleia Geral da CNBB
Thiago Coutinho
Enviado a Aparecida (SP)
A 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) chega ao seu sexto dia. A Amazônia foi uma das tônicas dos temas abordados durante a coletiva desta segunda-feira, 24. O arcebispo de Manaus (AM), Cardeal Leonardo Steiner, e o bispo de Roraima (RR), Dom Evaristo Spengler, abordaram o assunto junto aos jornalistas. O início da coletiva, porém, ficou a cargo do bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ), Dom Joel Portella Amado, que falou sobre o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS).
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“Essa experiência nasceu em 1998, na 38ª edição da Assembleia. Foi um gesto do Brasil todo, em vista de fraternidade e solidariedade”, disse Dom Joel sobre o FNS. “Se a solidariedade de uma pessoa já tem um valor imenso, imagine do país todo”, observou.
O FNS faz a sua coleta durante o Domingo de Ramos. E funciona assim: 60% fica na diocese local e, os 40% restante, são destinados à CNBB. “Ao longo desses quatro anos, pude ver maneiras criativas desses fundos diocesanos de caridade”, afirmou o religioso. “São projetos que se baseiam no tema adotado pela Campanha da Fraternidade daquele ano”.
As causas da pobreza são sempre debatidas antes de se colocar em prática o FNS. No último ano, o Fundo recebeu mais de 300 projetos e foram analisados, no entanto, pouco mais de 200. Dom Joel lembrou que existem exigências técnicas. Ao fim de 2022, apenas 188 projetos foram aprovados. Mesmo assim, quase R$ 5 milhões de reais foram arrecadados. “Ficamos muito felizes com a generosidade do nosso povo. O valor médio de um projeto foi de apenas R$ 26 mil. Com esta quantia, cada projeto consegue fazer muita coisa”, ponderou o bispo auxiliar do Rio de Janeiro.
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O FNS, assegurou Dom Joel, passa por uma auditoria rigorosa e está disponível a quem quiser aferi-la. “Nossa finalidade é servir. E, se houver alguma inadequação, será verificado. O que nos afetou mesmo foi a pandemia”, disse. “Mas foi justamente neste período que a coleta aumentou”, reiterou Dom Joel, afirmando ainda que a população brasileira pôde demonstrar sua preocupação com o próximo num dos momentos de maior aflição da humanidade.
Amazônia
Dom Leonardo Steiner falou sobre a grandiloquência da Amazônia — só em Manaus, capital do Estado, são quase dois milhões de pessoas. “A Amazônia tem suas dificuldades, como, por exemplo, o garimpo. Não é um ‘privilégio’ de Roraima, está muito forte no Pará também”, lamentou Dom Leonardo. O mercúrio, observou o arcebispo, é nocivo à natureza e à população local.
A mata também está sofrendo com o avanço das atividades que derrubam as árvores. A pesca predatória também é uma preocupação. Há algumas regiões, segundo Dom Steiner, em que a Igreja ainda não tem acesso — e isso a deixa de mãos atadas. “O que me chocou muito foi quando um casal indígena me disse: ‘estamos perdendo nossa alma’, algo como perder o horizonte, a existência”, lamentou.
Mas, um lado positivo, segundo o bispo, é que na região há uma relação amistosa com a Igreja. Os leigos têm ajudado muito na evangelização naquela região. “Nunca vi tanta solidariedade em minha vida como vi em Manaus. As pessoas às vezes nem podiam doar, mas doavam o pouco que tinham. Atendemos mais de 100 mil pessoas”, assegurou.
Dom Evaristo Spengler, bispo responsável pela diocese de Roraima (RR), falou sobre sua relação com o povo local. Ele ressaltou o efeito da Campanha Laudato Si’, por meio do documentário “A Carta”, um diálogo do Papa Francisco com protagonistas que enfrentam a crise climática pelo mundo. “Os vários personagens travam um diálogo com o Papa sobre os problemas gerados pela crise climática”, detalhou.
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Há ainda a campanha Junho Verde, que prevê ações educativas em comunidades e escolas. “Buscar este cuidado com o meio ambiente. A Igreja tem a consciência de que o mundo é criado por Deus, por isso no colocamos na defesa de todas as criaturas, como fazia São Francisco de Assis”. Esta campanha vai de 1º de setembro a 4 de outubro.
Por fim, há a campanha Amazônia Sem Fome. Será um trabalho que não se limitará à Amazônia, mas se estenderá a todo o País.
Migração
Outro tema de destaque foi a migração. Segundo Dom Evaristo, 500 migrantes diariamente chegam a Roraima. A Igreja acaba sendo a salvação para estas pessoas que chegam sem qualquer auxílio. “Aqui, diariamente, acontece o milagre da partilha”, disse-me um padre local que trabalhava no preparo de comida a esses migrantes. “Ali está o milagre do amor, da partilha, numa cozinha bem pequena. Um testemunho belíssimo”.
É uma situação grave, reforçou, e Dom Evaristo disse contar com ajuda também das autoridades para poderem vencer o problema.