Palavra do Papa

Discurso de Bento XVI no encerramento do mês mariano no Vaticano

Queridos irmãos e irmãs!

Com grande alegria uno-me a vós, ao final deste tradicional encontro de oração, que conclui o mês de Maio no Vaticano. Com referência à liturgia hodierna, desejamos contemplar Maria Santíssima no mistério da sua Visitação. Na Virgem Maria que visita a prima Isabel reconhecemos o exemplo mais límpido e o significado mais verdadeiro do nosso caminho de crentes e do caminho da própria Igreja. A Igreja é, por sua natureza, missionária, é chamada a anunciar o Evangelho sempre e em toda parte, a transmitir a fé a todo o homem e mulher, em toda a cultura.

"Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá" (Lc 1, 39). A de Maria é uma autêntica viagem missionária. É uma viagem que a conduz para longe de casa, a impele no mundo, a lugares estranhos aos seus hábitos cotidianos, a faz chegar, em certo sentido, até os confins do que ela alcança. Está exatamente aqui, também para todos nós, o segredo da nossa vida de homens e de cristãos. A nossa, como indivíduos e como Igreja, é uma existência projetada para fora de nós. Como foi o caso de Abraão, a nós também é pedido morrer para nós mesmos, para os lugares das nossas seguranças, para ir ao encontro dos outros, em lugares e âmbitos diversos. É o Senhor que o pede: "Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós, e seres minhas testemunhas […] até os confins da terra" (At 1, 8). E é sempre o Senhor que, neste caminho, nos coloca ao lado de Maria como companhia de viagem e mãe pressurosa. Ela nos tranquiliza, porque nos recorda que com nós está sempre o seu Filho Jesus, conforme prometeu: "eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20).

O evangelista salienta que "Maria permanece com ela [com a prima Isabel] cerca de três meses" (Lc 1, 56). Essas simples palavras indicam o motivo mais imediato da viagem de Maria, havia sabido, por meio do Anjo, que Isabel esperava um filho e que já estava no sétimo mês (cf. Lc 1, 36). Mas Isabel era anciã e a proximidade de Maria, ainda muito jovem, podia ser-lhe útil. Por isso Maria vai ao seu encontro e permanece com ela cerca de três meses, para oferecer-lhe aquela proximidade afetuosa, aquele auxílio concreto e todos aqueles serviços cotidianos de que havia necessidade. Isabel torna-se assim o símbolo de tantas pessoas anciãs e doentes, mais, de todas as pessoas necessitadas de ajuda e de amor. E quantos assim estão também hoje em nossas famílias, nas nossas comunidades, nas nossas cidades! E Maria – que se definiu como "a serva do Senhor" (Lc 1, 38) – fez-se serva dos homens. Mais precisamente, serve o Senhor que encontra nos irmãos.

A caridade de Maria, no entanto, não se firma através do auxílio concreto, mas atinge o seu ápice no doar o próprio Jesus, no "fazê-lo encontrar". Estamos assim no coração e cume da missão evangelizadora. É o significado mais verdadeiro e o objetivo mais genuíno de todo o caminho missionário: doar aos homens o Evangelho vivente e pessoal, que é o próprio Senhor Jesus. E a de Jesus é uma comunicação e uma doação que – como atesta Isabel – enche o coração de alegria: "Eis que apenas a tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria no meu ventre" (Lc 1, 44). Jesus é o verdadeiro e único tesouro que nós temos de dar à humanidade. É d'Ele que os homens e mulheres de nosso tempo tem profunda nostalgia, também quando parecem ignorá-lo ou refutá-lo. É d'Ele que tem grande necessidade a sociedade em que vivemos, a Europa, o mundo inteiro.

A nós é confiada esta extraordinária responsabilidade. Vivamo-la com alegria e compromisso, para que a nossa seja verdadeiramente uma civilização em que reinem a verdade, a justiça, a liberdade e o amor, pilares fundamentais e insubstituíveis de uma verdadeira convivência ordena e pacífica. Vivamos esta responsabilidade permanecendo assíduos na escuta da Palavra de Deus, na união fraterna, na fração do pão e na oração (cf. At 2, 42). Seja essa a graça que juntos peçamos nesta noite à Virgem Santíssima. A vós todos a minha benção.



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