Senhor Cardeal,
Venerados Irmãos no Episcopado,
Ilustres professores e queridos Colaboradores!
É com alegria que vos acolho, ao final dos trabalhos da vossa Sessão Plenária anual. Desejo, antes de tudo, expressar meus sinceros agradecimentos pelas palavras de homenagem que, em nome de todos, Vossa Eminência, Senhor Cardeal, na qualidade de Presidente da Comissão Teológica Internacional, desejou dirigir-me. Os trabalhos deste oitavo "quinquênio" da Comissão, como Vós recordastes, abrangem os seguintes temas de grande peso: a teologia e sua metodologia; a questão do único Deus em relação às três religiões monoteístas; a integração da Doutrina Social da Igreja no contexto mais amplo da Doutrina cristã.
"O amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos morreram. Sim, ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu" (II Cor 5,14-15). Como não sentir como também nossa essa bela reação do apóstolo Paulo frente a seu encontro com Cristo ressuscitado? Exatamente essa experiência está na raiz dos três importantes temas que tendes aprofundado na vossa Sessão Plenária recém-concluída.
Quem descobriu em Cristo o amor de Deus, infundido pelo Espírito Santo em nossos corações, deseja conhecer melhor Aquele por quem é amado e que ama. Conhecimento e amor se sustentam mutuamente. Como afirmaram os Padres da Igreja, aquele que ama a Deus é levado a se tornar, em certo sentido, um teólogo, alguém que fala com Deus, que pensa em Deus e busca pensar com Deus; enquanto isso, o trabalho profissional do teólogo é, para alguns, uma vocação de grande responsabilidade diante de Cristo, da Igreja. Poder profissionalmente estudar o próprio Deus e ser capaz de falar sobre ele – contemplari et contemplata docere (S. Tommaso d’Aquino, Super Sent., lib. 3 d. 35 q. 1 a. 3 qc. 1 arg. 3) – é um grande privilégio. A vossa reflexão sobre a visão cristã de Deus poderá ser uma contribuição preciosa tanto para a vida dos fiéis quanto para o nosso diálogo com os crentes de outras religiões e também com os não crentes. De fato, a própria palavra "teo-logia" revela esse aspecto comunicativo do vosso trabalho – na teologia buscamos, através do logos, comunicar aquilo que "temos visto e ouvido" (1 Jo 1,3). Mas sabemos bem que a palavra logos tem um significado muito mais amplo, que compreende também o sentido de ratio, "razão". E isso nos leva a um segundo ponto muito importante. Podemos pensar em Deus e comunicar o que pensamos porque Ele nos dotou de uma razão em harmonia com a sua natureza. Não é por acaso que o Evangelho de João começa com a afirmação: "No princípio era o Logos… e o Logos era Deus …" (Jo 1,1). Acolher esse Logos – esse pensamento divino – é, finalmente, também uma contribuição à paz mundial. Na verdade, conhecer a Deus na sua verdadeira natureza é também um modo seguro para garantir a paz. Um Deus que não fosse percebido como fonte de perdão, justiça e amor não poderia ser luz no caminho da paz.
Uma vez que o homem inclina-se sempre a ligar os seus conhecimentos uns com os outros, também o conhecimento de Deus é organizado de forma sistemática. Mas nenhum sistema teológico pode subsistir se não é permeado pelo amor de seu divino "Objeto", que, na teologia, necessariamente deve ser "Sujeito" que nos fala e com o qual estamos em relação de amor. Assim, a teologia deve ser sempre alimentada pelo diálogo com o Logos divino, Criador e Redentor. Além disso, nenhuma teologia o é de fato se não está integrada na vida e reflexão da Igreja através do tempo e do espaço. Sim, é verdade que, para ser científica, a teologia deve argumentar de forma racional, mas também deve ser fiel à natureza da fé da Igreja: centrada em Deus, enraizada na oração, em uma comunhão com os outros discípulos do Senhor, garantidade pela comunhão com o Sucessor de Pedro e todo o Colégio episcopal.
Essa acolhida e transmissão do Logos tem também como consequência que a própria racionalidade da teologia ajuda a purificar a razão humana, libertando-a de certos preconceitos e idéias que possam exercer um forte influxo sobre o pensamento de todas as épocas. Também deve ser notado, por outro lado, que a teologia vive sempre em continuidade e no diálogo com os crentes e os teólogos que vieram antes de nós; porque a comunhão eclesial é diacrônica, assim também o é a teologia. O teólogo não começa nunca do zero, mas considera como mestres os Padres e os teólogos de toda a tradição cristã. Enraizada na Sagrada Escritura, lida com os Padres e Doutores, a teologia pode ser escola de santidade, como testemunhou-nos o Beato John Henry Newman. Fazer descobrir o valor permanente da riqueza transmitida do passado não é uma contribuição pequena da teologia no concerto das Ciências.
Cristo morreu por todos, embora nem todos saibam-lo ou aceitem-lo. Tendo recebido o amor de Deus, como poderíamos não amar aqueles pelos quais Cristo deu a sua vida? "Ele deu sua vida por nós; e nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos" (1 Jo 3,16). Tudo isso leva-nos a servir os outros em nome de Cristo; em outras palavras, o compromisso social dos cristãos deriva necessariamente da manifestação do amor divino. A contemplação de Deus revelado e a caridade pelo próximo não podem ser separadas, ainda que se vivam segundo carismas diversos. Em um mundo que, muitas vezes, aprecia muitos dons do cristianismo – como, por exemplo, a ideia da igualdade democrática – sem compreender as raízes dos próprios ideais, é particularmente importante mostrar que os frutos morrem se se corta a raiz da árvore. De fato, não há justiça sem verdade, e a justiça não se desenvolve plenamente se o seu horizonte é limitado ao mundo material. Para nós, cristãos, a solidariedade social tem sempre uma perspectiva de eternidade.
Queridos amigos teólogos, o nosso encontro de hoje manifesta de modo precioso e singular a unidade indispensável que deve reinar entre os teólogos e os Pastores. Não se pode ser teólogos na solidão: os teólogos têm necessidade do ministério dos Pastores da Igreja, da mesma forma como o Magistério precisa dos teólogos que cumprem até o fim o seu serviço, com toda a ascese que isso implica. Através da vossa Comissão, desejo, por isso, agradecer a todos os teólogos e encorajá-los a ter fé no grande valor do seu compromisso. Ao ofrecer-vos os meus melhores votos para o vosso trabalho, concedo-vos, com afeto, a minha Bênção.
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