Pesquisa revela que o Brasil diminuiu o desperdício de água, mas ainda precisa de ajustes para chegar a um nível seguro e ideal
Thiago Coutinho
Da redação

Data recorda a importância da preservação da água / Foto: mrjn Photography por Unsplash
O mundo recorda neste sábado, 22, o Dia Mundial da Água. E, num país como o Brasil, que abriga 12% de toda a água doce do mundo, trata-se de uma data que ajuda na conscientização para que o desperdício seja debatido. Estimativas do Instituto Trata Brasil apontam que no ano de 2024 o brasileiro, pela primeira vez em seis anos, diminuiu o desperdício de água.
Por outro lado, ainda que tenha sido registrada esta queda no desperdício, o Brasil ainda está longe de comemorar: a pesquisa do Instituto Trata Brasil mostra que ao distribuir água para garantir consumo, os sistemas sofrem perdas na distribuição, que na média nacional alcançam 37,8%. “Em primeiro lugar, sempre a educação sanitária e ambiental que mostre por meio de campanhas permanentes o cuidado que precisamos ter com a água que embora aparentemente ‘abundante’ é uma somente, ou seja, limitada”, alerta Antonio Eduardo Giansante, engenheiro e doutor em Saneamento e Recursos Hídricos, quando questionado sobre como as autoridades devem agir para diminuir o desperdício.
É necessário, segundo Giansante, que as pessoas entendam que a eficiência dos serviços de distribuição de água passam pelas mudanças de hábito de cada família. “Passa pela educação quanto aos hábitos das pessoas até por maior eficiência dos serviços públicos ao também ter ações constantes de aumento de eficiência, logo redução das perdas d’água”, assegura.
Para Luiz Paulo Neves Nunes, bacharel em Geografia e especialista em Educação Ambiental, é necessário também um trabalho de formação de base, educando as crianças em seus primeiros anos de formação. “Precisamos demonstrar nas escolas pelo tema transversal, meio ambiente, que tanto professores de geografia, professores de biologia ou de ciências, professores de todas as áreas, seja Educação Física, Artes, Língua Portuguesa, Matemática, enfim, da importância do recurso. O nome recurso não é à toa, você o utiliza de maneira a gerar economicidade”, pondera.
Abundância não significa acesso a todos
Embora o Brasil tenha abundância em água doce, este dado não se traduz em uma distribuição equânime: 33 milhões brasileiros não têm o acesso a este serviço básico, segundo o Instituto Trata Brasil.
Existem, no entanto, tecnologias que podem, por exemplo, amenizar o problema da falta d’água em regiões que naturalmente sofrem com a seca — como o Nordeste, por exemplo. “Na natureza a distribuição dos recursos hídricos não é homogênea, mas temos possibilidades de emprego de técnicas atualmente disponíveis que mitigam essa desigualdade”, explica Giansante. “Pode-se lembrar do reúso das águas, da reversão de águas de bacias com disponibilidade para outras com maior escassez etc. A Região Metropolitana de São Paulo possui água, porque boa parte vem de outras bacias hidrográficas como a do rio Piracicaba. A reversão do rio São Francisco também contribui para encher os açudes e reduzir os efeitos das secas no Nordeste. Portanto, possibilidades há, mas precisamos utilizá-las ao se basear em estudos e planejamento sobre a disponibilidade e os usos dos recursos hídricos”, pondera o engenheiro.
Já Luiz Paulo recorda que a região Nordeste do país, historicamente palco de problemas relacionados à falta d’água, pode lançar mão de outras técnicas para que a água chegue ao copo de mais pessoas. A primeira delas foi a transposição do Rio São Francisco. A segunda é a exploração de aquíferos, mas que deve ser feita com muita parcimônia.
“Nós temos o aquífero da bacia do São Francisco, que é relativamente pouco utilizada, em razão da presença do rio, mas nós temos entre Maranhão, Piauí e Ceará, mas principalmente no interior do Piauí, o aquífero Gurgéia. Seria uma boa solução”, afirma Nunes. “Mas, a exploração desses aquíferos não pode ser feitas de maneira irresponsável porque a reposição deles não é fácil”, alerta.
Outra solução seria o processo de dessanilização, muito utilizado por Israel. Trata-se do processo que tira todo o sal da água e a torna potável. “É uma possibilidade talvez um pouco mais longíqua”, diz Nunes. “Mas aí nós precisaríamos fazer também a transposição dessa água dessalinizada para os interiores dos estados nordestinos. E aí teria que subir planalto e tudo mais. Não sei se haveria a vontade política para isso”, reitera.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas a cada ano se mostram uma realidade desafiadora ao mundo. Calor excessivo, chuvas torrenciais, secas. A cada ano as estatísticas acerca dos estragos proporcionados pelas alterações no clima crescem e preocupam. E não poderia ser diferente com a distribuição de água potável.
“Eventos extremos de estiagem ou chuvas intensas se tornaram cada vez mais frequentes, diferentemente do que era observado anteriormente”, lamenta Giansante.
Água tratada é sinônimo de economia
Segundo o Instituto Trata Brasil, ainda existem 33 milhões brasileiros que não têm acesso à água tratada. E isso significa não só perdas humanas, mas atraso econômico também. “Existe uma conta que quem trabalha com saneamento sempre faz questão de dizer que é muito importante: a cada real investido no saneamento, ou seja, na captação de água, no tratamento, na distribuição, na captação do esgoto, no tratamento do esgoto, deixo de gastar R$ 4, economizo R$ 4, porque, afinal de contas, com a água tratada, esgoto tratado, tenho muito menos pessoas doentes”, detalha Nunes.
Segundo Nunes, o investimento que o poder público fizer na infraestrutura que envolve a distribuição e o tratamento de água pode influenciar, inclusive, no Produto Interno Bruto (PIB) e no sistema público de saúde. “A pessoa saudável, que está tomando água, que conta com esgoto tratado, não vai ficar doente. Trabalhando, ela mantém o crescimento do PIB”, analisa.
Veja mais sobre a distribuição de água no Brasil no quadro a seguir.