Em mensagens publicadas pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, religiosos narram os desafios enfrentados pelos sírios com a guerra, as sanções econômicas e agora as imposições da pandemia
Da Redação, com Ajuda à Igreja que Sofre
A situação vivida pela população na Síria tornou-se ainda mais dramática devido à pandemia do Covid-19, que, além da emergência sanitária, tem imposto condições econômicas cada vez mais difíceis. Em mensagens publicadas pela Fundação Ajuda à Igreja que sofre, AIS, religiosos narram os desafios enfrentados pelos sírios com a guerra, as sanções econômicas e agora as imposições devido à doença.
O bispo da Igreja caldeia de Hassaké, no nordeste da Síria, Dom Nidal Thomas, recorda que o país continua a viver um clima permanente de guerra, o que está a afetando profundamente as condições de vida das populações locais, nomeadamente da comunidade cristã.
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Segundo Dom Thomas, “os aviões de guerra continuam a encher os céus”, sinal de que o conflito armado persiste com alguma intensidade. Em declarações à Fundação AIS, o bispo diz que nem a ameaça da pandemia do coronavírus conseguiu suspender o esforço militar dos vários intervenientes na guerra na Síria.
Segundo Dom Thomas, são muitos os responsáveis por este conflito armado que já se encontra no décimo ano consecutivo. “Curdos, russos, americanos, turcos, Hezbollah e forças da coligação que estão prejudicando toda a população. Aviões de guerra continuam a encher o céu, especialmente sobre as prisões cheias de extremistas muçulmanos guardados pela milícia curda”, afirma o bispo.
Do Mosteiro de São Tiago Mutilado, localizado na região Idleb, irmã Maria Lúcia Ferreira conta que a guerra continua em sua disputa constante por poder, mesmo no momento de urgência na saúde vivido na região.
“A questão não é fácil de resolver e há muitas influências”, diz a religiosa portuguesa que é conhecida como Irmã Myri. “Agora fala-se de um certo ‘status quo’ em que há regiões de influência americana, russa, turca… a coisa não está de todo resolvida. E entretanto, a população do norte está a sofrer, claro”.
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Como se não bastasse a continuação da guerra, as populações sofrem também as consequências do Covid19. O bloqueio econômico imposto ao país continua a fazer-se sentir no dia-a-dia dos sírios e agravou-se agora por causa da ameaça do coronavírus.
“Todos ficam em casa e as lojas estão fechadas”, descreve Dom Thomas. “As condições de vida são muito difíceis porque a maioria das pessoas trabalha por conta própria. Os cristãos estão a enfrentar dificuldades financeiras. O aumento dos preços e a escassez de alguns bens básicos criaram mais problemas.”
Tal como em Hassaké, também na região de Idleb se faz sentir profundamente o impacto econômico das sanções sobre a Síria, agravadas pela guerra e pela ameaça do coronavírus. Em resposta a esta situação, as famílias retornaram ao cultivo dos campos. Irmã Myri destaca que a agricultura está sendo essencial neste momento para a sobrevivência,de modo que a população seja auto-suficiente.
“Para que cada família possa sobreviver é essencial voltar à terra e cultivar a própria alimentação e ter animais, galinhas, ovelhas, que são uma tradição aqui no oriente, ter o seu rebanho.”, afirma a religiosa.
Este cenário de crise está contribuindo para o êxodo contínuo da comunidade cristã. Apesar de ser uma comunidade respeitada, os cristãos sentem-se desmotivados. “Não temos medo, mas não sabemos o que o futuro nos reserva”, conclui Dom Thomas.