Em inúmeras ocasiões, o Papa Fracisco se colocou contra a guerra, mas o conflito entre Israel e Palestina segue sem um cessar-fogo
Thiago Coutinho,
Da redação
Em 7 de outubro de 2023, há exatos 365 dias, Israel deu início a uma guerra contra o grupo radical islâmico Hamas. Até julho deste ano, estimativas da Al Jazeera (canal estatal do governo da monarquia do Qatar, que transmite notícias 24 horas na língua inglesa) apontava para 40 mil mortos. Desses, 38.867 palestinos e outros 1.139 israelense. Até o momento, a guerra parece não ter fim, com a incursão territorial do exército israelense no Líbano há uma semana, acirrando os ânimos.
O Papa Francisco, desde o início, colocou-se contra o combate. A cada Angelus, a cada homilia, a cada pronunciamento acerca do assunto, o Bispo de Roma afirmou toda sua aversão à guerra e sua solidariedade às milhares de vítimas inocentes, cujas vidas seguem sendo ceifadas.
“Peço-lhes que parem, em nome de Deus: cessar-fogo! Espero que todos os caminhos sejam percorridos para evitar absolutamente uma ampliação do conflito, que os feridos possam ser socorridos e a ajuda chegue à população de Gaza, onde a situação humanitária é gravíssima”, exaltou Francisco em novembro de 2023, após a oração mariana do Angelus.
“O mundo parece ter enlouquecido, parece que contamos apenas com a força, com a violência, com o conflito, para resolver problemas que estão aí, reais, e que devem ser resolvidos com métodos bem diferentes”, disse o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, ao discursar para uma comunidade monástica em Camaldoli, na Itália, em outubro de 2023.
Um fim distante
O líder do Hezbollah, grupo paramilitar islâmico de orientação xiita, cujas origens remetem ao Líbano, Sayyed Hassan Nasrallah, foi assassinado pelo exército israelense após um bombardeio pesado em Beirute, capital do país.
Famílias libanesas lamentaram os ataques de Israel. Muitos disseram nunca terem visto tanta violência. “Nós nunca vimos uma guerra como esta. Nós não vimos tanta destruição e bombardeio em 2006. Mas esta [guerra] é brutal nas aldeias vizinhas e em nossa aldeia e casas. As crianças estão em pânico nos últimos três dias”, disse Abbas Dalloul, que fugiu com sua família em direção ao sul da Síria.
Na madrugada de domingo, 6, para segunda-feira, Israel voltou a bombardear o Líbano. Grandes explosões foram vistas nos subúrbios ao sul da cidade pouco depois das 23h (horário local).
Protestos
Na manhã desta segunda-feira, 7, israelenses em todo o país tocaram sirenes e fizeram um minuto de silêncio às 6h29 (3h29min no horário de Brasília) para marcar o início de um ataque liderado pelo Hamas às comunidades da fronteira israelense há um ano.
Em Jerusalém, famílias de reféns foram às ruas próximas à residência particular do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, onde carregaram fotos de seus entes queridos. Em Tel Aviv, as pessoas ficaram paradas enquanto outras tocavam o Shofar — uma trombeta de carneiro usada em cerimônias religiosas judaicas — para marcar o aniversário do ataque mais mortal da história de Israel.
Carta do Papa
Marcando um ano do trágico evento, o Santo Padre publicou uma carta direcionada às vítimas da guerra. ““Há um ano, o estopim do ódio foi aceso; não morreu, mas explodiu numa espiral de violência, na vergonhosa incapacidade da comunidade internacional e dos países mais poderosos para silenciar as armas e pôr fim à tragédia da guerra”, disse.
Francisco lamentou as crianças que e mães que tiveram a vida de seus filhos dilaceradas pela guerra. “Estou com vocês, mães que derramam lágrimas olhando para seus filhos mortos ou feridos, como Maria ao ver Jesus; com vocês, pequenos que habitam as grandes terras do Oriente Médio, onde as tramas dos poderosos lhes roubam o direito de brincar” lamentou o Bispo de Roma.
De acordo com o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), atualmente a Faixa de Gaza é o “lugar mais perigoso do mundo para uma criança. A guerra é contra as crianças. Mas essas verdades não parecem estar se espalhando”.
Retorno à normalidade
Os palestinos também recordaram este um ano de conflito. O povo palestino clama por um retorno à vida normal.
“Gaza se tornou um lugar inabitável, um lugar impróprio (para viver) com segurança, no mínimo, devido à destruição de tudo nesta terra depois que tudo nela foi atacado, incluindo pedras, árvores, crianças, homens, mulheres e até mesmo terras agrícolas e poços de água, desde 7 de outubro do ano passado até 7 de outubro deste ano”, disse Ahmed Al-Agha, um palestino deslocado.
O ataque subsequente de Israel a Gaza matou quase 42 mil palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, e deslocou quase toda a população de 2,3 milhões de pessoas.
“Precisamos de paz. O mundo está em guerra”, lamentou o Santo Padre na Audiência Geral de 22 de maio. “Não nos esqueçamos da Palestina, de Israel: que essa guerra termine. Irmãos e irmãs, precisamos rezar pela paz neste tempo de guerra mundial.